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De grupo automobilista a ‘Clube do Povo’, Auto celebra história

publicado: 05/01/2018 20h05, última modificação: 05/01/2018 20h28
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Batizados como “Guerreiros de 92”, elenco entrou em campo contra o Treze, diante de maioria esmagadora da torcida do adversário - Foto: Arquivo/Jornal A União

tags: auto esporte , grupo , clube , clube do povo , automobilístico , história


Francisco Di Lorenzo Serpa

Especial para A União

Fundado em 7 de novembro de 1936, o Auto Esporte Clube possui uma linda e rica história no cenário do futebol paraibano, desde a época em que era exclusivamente uma agremiação de motoristas, aos dias atuais, passando a ser denominado de o 'Clube do Povo', vencendo torneios importantes, participando de campeonatos nacionais e vencendo seis certames estaduais. Em nenhuma época o 'Clube do Povo' encontrou facilidades para conquistar os seus suados e inquestionáveis campeonatos estaduais. Ao contrário, sempre foi uma luta contra tudo e contra todos, como bem citou o abnegado Benedito Honório no emocionante hino do clube.

O seu primeiro título foi conquistado poucos anos depois de sua fundação, precisamente no ano de 1939, de forma invicta, empatando uma única partida e vencendo as demais. Teve o melhor ataque e a defesa menos vazada da competição. A sua torcida sabia de cor e salteado aquele time vencedor que tinha a seguinte base: Terceiro, Biu, Zé Novo, Henrique, Gerson e Aluízio, Neto, Formiga e Pitota, Pedrinho e Misael. O seu segundo e inquestionável título estadual ocorreu em 1956, apesar da decisão só ocorrer dois anos depois, justamente contra o seu maior rival, o Botafogo Futebol Clube, quando o 'Clube do Povo' venceu as duas partidas pelo escore de dois tentos a um. O time base daquela sensacional conquista era formado por Freire, Calado, Lucas, Xavier, Américo e Croinha, Pitada, China, Delgado, Massangana e Alfredinho.

O terceiro título foi conquistado no Estádio Leonardo da Silveira, o popular Campinho da Graça, quando o Auto Esporte Clube enfrentou a sensação daquele ano, o Íbis Futebol Clube, o famoso pássaro preto do Bairro da Torre, vencendo pelo placar de três tentos a um. O esquadrão alvirrubro formou com Agostinho, Wilson, Américo, Élcio, Joca e Croinha; Tito, China, Macau, Alfredinho e Piau. Era o ano de 1958. Já apelidado de 'Macaco Autino', o quarto título foi conquistado no Estádio José Américo de Almeida, o Almeidão, na presença de um público de 14.999 expectadores ao empatar em um a um com o Botafogo Futebol Clube, empate conseguido com um gol de Bona, aos 44 minutos do segundo tempo. Aquela equipe comandada pelo gaúcho Victor Hugo jogou a decisão com Adaílton,Walter Cruz, Neurilane, Marconi e Carlito; Farias, Dagoberto (Dentinho) e Tola; Zé Carlos, Izaías e Anchieta (Bona).

Novamente no Almeidão, e também contra o seu maior rival, o Auto Esporte conquistou o seu quinto campeonato estadual ao vencer a partida por um tento a zero, gol marcado por Neto Surubim. O time dirigido por Mineiro possuía a seguinte escalação: Jorge Pinheiro, Santana, Carlinhos Paraíba, Gilvan e Mano; Farias, Álvaro e Neto Surubim; Cao (Gilmar) Izaías e Betinho. O que ninguém esperava que acontecesse aconteceu - realmente futebol é uma caixinha de surpresas - na conquista do sexto e último título estadual conquistado pelo alvirrubro de Mangabeira. O ano de 1992 entrou para a história do clube como uma guerra vencida, depois de várias batalhas perdidas. Prevaleceu a harmonia e a superação.

Aquele campeonato, que contou com as presenças do Atlético de Cajazeiras, do Sousa da cidade que lhe empresta o nome e do Nacional de Patos, três forças expressivas do Sertão e seu calendário reservou 44 partidas para cada equipe, sendo 22 em sua sede e 22 na casa do outro. Uma maratona de viagens, tornando o campeonato inviável financeiramente e cansativo para os atletas. O Treze Futebol Clube foi o merecido vencedor do primeiro turno ao ganhar do Nacional de Patos. O temido e valente Galo da Borborema também decidiu o segundo turno daquela competição, desta vez contra o Auto Esporte, que vinha crescendo e reagindo a partir do início do segundo turno. E na peleja decisiva o 'Clube do Povo' contou com a competência do "profeta" Izaías e venceu por um tento a zero. Com esse resultado, o Auto Esporte conquistou o segundo turno e forçou a realização de uma melhor de três com o Treze para se chegar ao campeão daquela temporada.

Na melhor de três, o alvirrubro venceu a primeira partida por um tento a zero e empatou a segunda em zero a zero. A terceira e decisiva partida foi marcada para o estádio Amigão, podendo o Auto Esporte conquistar o título com um simples empate no tempo normal. O Auto Esporte entrou no gramado, segundo os especialistas no assunto, com um sistema totalmente defensivo, com o intuito de empatar aquela partida. José Clisaldo, Eduardo Menezes e Genival Batista Júnior apitaram aquela decisão com a postura e a competência que se espera de um trio de árbitros. A torcida do Treze Futebol Clube, maioria absoluta no estádio, balançava as bandeiras e gritava: é campeão. 7.289 pagantes para uma renda de Cr$ 107.430.000,00. Pouquíssimos torcedores do 'Clube do Povo' presentes. José Clizaldo apitou anunciando o início da guerra.

Os comandados do técnico Nereu Ramos obedeceram as determinações do comandante e passaram a imprimir um volume de jogo extremamente ofensivo, massacrando e não deixando os atletas do Auto jogarem. Era jogo de uma única equipe. E os gols do temido Galo da Borborema começaram a surgir. Primeiro foi Lauro, marcando um a zero. Logo em seguida, Wamberto aumentou para dois a zero. O próprio Wamberto ampliou para três a zero, isso tudo ainda na primeira etapa. Na etapa complementar o Galo aumentou e fechou a goleada em quatro tentos a zero. A torcida alvinegra delirava, os alvirrubros calados e tristes escutavam os adversários gritarem é campeão.

Mesmo com a goleada imposta pelo Treze, o regulamento mandava a decisão para uma prorrogação sem ninguém ter vantagens. E como na mitologia grega, o Auto Esporte ressurgiu das cinzas, incorporou a frieza dos monges tibetanos, a técnica de um samurai aliados à determinação e à garra de um cavaleiro templário. Eram guerreiros que retornavam ao gramado... O time da Rainha da Borborema tinha dado todo o seu gás nos noventa minutos, estava cansado e dizem que já se achava campeão. E como futebol é uma caixinha de surpresas, aos cinco minutos da prorrogação, Cristiano pega de primeira na bola e marca o gol mais importante de sua vida. Auto Esporte 1 x 0 Treze. Silêncio sepulcral no estádio. A pequena torcida do macaco entra em êxtase, a do Treze fica muda e começa a enrolar as bandeiras. Daí em diante a equipe de Campina Grande sente um peso enorme em seus ombros e pernas, o raciocínio não é acompanhado e a equipe alvirrubra começa a ditar o seu ritmo de jogo, explorando os contra-ataques.

E José Clizaldo olha para o cronômetro, sinaliza para os seus auxiliares, aponta para o centro do gramado e apita anunciando o fim do jogo. O Auto Esporte Clube, de forma brilhante, conquistou o sexto título estadual. A equipe que era comandada por Carlos Moraes, o popular Carlão, entrou em campo naquela decisão com Zenóbio, Gilmar (Cao) Salerno, Carlinhos Paraíba e Adriano; Deoclécio, Nilo e Betinho; Walter (Everton), Izaías e Cristiano. Humberto Cardoso da Silva, o popular Betinho, era o craque da equipe. Izaías Ferreira da Silva, o profeta Izaías, era o artilheiro. Mas o que prevaleceu naquela equipe inesquecível foi a disciplina, a seriedade e o compromisso de todos com o clube. Reinou a harmonia e o profissionalismo naquele plantel de guerreiros.

Neste sábado (6), em seu Centro de Treinamento, localizado em Mangabeira, a diretoria executiva, juntamente com vários conselheiros do Auto Esporte Clube, promove a partir das 8h um grande evento para comemorar aquela conquista e agradecer aos guerreiros que participaram daquela inesquecível e memorável campanha. O presidente alvirrubro, Watteau Rodrigues, e o conselheiro e coordenador do evento, Demócrito de Assis, esperam a presença de autoridades, dos torcedores, cronistas, dirigentes e desportistas de um modo geral, no sentido de se confraternizarem com os guerreiros de 1992. Estarão presentes ao evento os dirigentes, os jogadores, a comissão técnica e o trio de arbitragem da época e acima de tudo os torcedores do clube.