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Prima: “Nós somos o impossível”

publicado: 23/12/2015 14h51, última modificação: 23/12/2015 14h51

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Quando cheguei, o espetáculo já havia começado. Um garoto de cerca de 11 anos falava sobre o grupo, e ao final do seu curto discurso, disse aquela máxima que traduziria toda a apresentação: “Nós somos o impossível”.

Acomodei-me e me preparei para o que imaginava ser uma simples apresentação musical de crianças e adolescentes, em uma espécie de prestação de contas do que haviam aprendido ao longo do ano.

E logo soube que estava recebendo, de modo antecipado, o mais significativo dos meus presentes de Natal. O espetáculo foi se desenrolando com uma surpreendente beleza, com ritmo, disciplina, e com um toque de simplicidade que parecia a todo instante ressaltar aquela máxima: “Isso somos nós, nós somos o impossível”.

À cada execução, a plateia, seleta, mas atenta, aplaudia de pé. Villa-Lobos, Luiz Gonzaga, Cybelius, o belo repertório, e mais que isso a afinada execução, nos diziam que estávamos testemunhando o corolário de uma profunda lição de vida, de transformação, de cidadania, tecendo por entre as franjas da desigualdade, muitas vezes, da pobreza absoluta, um novo lugar para a infância e a juventude da Paraíba.

“Oh mana deixa eu ir, Oh mana eu vou só...” a singeleza da música ganhou a maestria do arranjo, refinado, essa arte que junta o popular e o erudito, numa estética contemporânea que nos deixa in suspense e nos faz exclamar, “é bonito demais”.

O concerto do Prima é todo belo, até mesmo quando as crianças quebram o protocolo e falam de si, ou recitam a antiga crônica que Villa-Lobos escreveu em 1951, para falar do coração, como o metrônomo da vida.

O Prima é uma dessas ideias revolucionárias que não pode morrer, disse eu ao governador Ricardo Coutinho, ao final do concerto. 

O Prima é um exemplo claro de inversão da política, é uma demonstração retumbante de que crianças, adolescentes e jovens das periferias do país não precisam da dureza das leis, nem da antecipação da maioridade em cadeias infectas. Eles precisam de pulso delicado mas enérgico, para inverter a burocracia dos investimentos, para criar em políticas sociais verdadeiras, reais projetos de cidadania.

O Prima não é somente uma escola de música, onde crianças e jovens das periferias de Santa Rita, Cabedelo, João Pessoa, Guarabira e tantas outras cidades provam que têm talento. O Prima é um exemplo vivo de como a política pode cumprir o papel que lhe foi confiado, o de zelar pela infância, o de criar as bases da sua dignidade.

O Prima tem a regência do pulso enérgico, firme, mas cheio de carinho do seu maestro, Alex Klein. Tem dezenas de polos de aprendizagem e envolve dezenas de professores, despertando talentos em mais de mil e quinhentos estudantes. O Prima tem uma qualidade única: A de fazer o futuro a partir do agora.

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