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De camelódromo a sulanca

publicado: 22/04/2016 14h21, última modificação: 22/04/2016 21h22
Publicado na edição de 20.03.2016


Martinho Moreira Franco

Quem transita diariamente pela Avenida Getúlio Vargas, um dos cartões postais da cidade, conhece muito bem a história que torno a contar. E torno porque ela continua atualíssima, como se viu sexta-feira passada na abertura da marcha em defesa da Presidente Dilma Rousseff. Lembram como os protagonistas (da história, não da manifestação) foram chegando? Chegando de dois, três, quatro. Um no começo da avenida, dois lá pro meio, mais um ou outro no final. Traziam nas mãos alguns limpadores de para-brisas, protetores de direção, tapetes, aqueles colares de bolinhas de madeira para proteger a coluna, peças desse tipo. Uma coisa aparentemente inofensiva.

A etapa seguinte foi aumentar o estoque de acessórios, colocando as peças sobre bancos do canteiro central. Era sinal de que o comércio estava prosperando. Era, também, um sinal de alerta: aquilo ainda iria se transformar numa praça de camelôs. E não deu outra. Como não se cuidou de refrear a prática, uma das mais belas e importantes avenidas da cidade transformava-se em camelódromo.

E olhem que ainda não se tinha visto da missa, um terço. Sim, porque depois da ocupação de bancos como mostruário, passou-se a utilizar pontos do estacionamento com veículos que são verdadeiras barracas volantes, nas quais começaram a ser expostas calotas, rodas, capas de banco (e mesmo os próprios bancos), entre outras peças até então exclusivas do comércio formal. Pior que isso: o negócio passava a se diversificar, evoluindo (?) para os ramos de brinquedos, artigos de praia, utilidades domésticas e tudo quanto é de produto de plástico.

A Getúlio Vargas, das mansões (algumas já deformadas por uso não residencial, é verdade), do Liceu Paraibano, dos ipês amarelos e de traçado ainda hoje arrojado, virou a partir daí uma feira de sulanca. Só falta começarem a vender peças de vestuário, se é que já não partiram para isso. Uma pena!

E nem adianta chorar sobre o leito, quero dizer, sobre o leite derramado, pois agora é tarde, Inês é morta: se forem mexer com aquele comércio, será um deus-nos-acuda. E os ambulantes, sobretudo os motorizados (dizem que alguns são plantados ali por lojas de autopeças), vão alegar a questão do desemprego e vender o clássico argumento: “É melhor do que roubar”. Podem até estar com certa razão. Mas dá uma tristeza danada ver uma avenida daquelas servindo de sulanca!