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A hora da verdade

publicado: 01/02/2016 21h31, última modificação: 01/02/2016 21h31
Publicado na edição de 31.01.2016

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Walter Galvão

Acredito que não serei culpado de nada por querer do fundo do coração que Lula seja inocente. Sei que há muita gente torcendo para que a Operação Lava Jato soterre com lama petrolífera a biografia política do ex-presidente.

Seria terrível se isso realmente acontecesse. Seria ruim para Lula porque ninguém quer, nem merece, sair da política como ficha suja; ruim para o Brasil porque uma liderança que se projetaria para os séculos vindouros (isso se os corruptos não acabarem antes com o Brasil...) como responsável por substancial mudança para melhor na vida do país não teria passado de um embuste.

Para a política não seria bom porque estaria demonstrada a impossibilidade de essa atividade gerar autênticos ideólogos de uma prática popular libertadora; para o sindicalismo também, porque seu principal mentor na resistência operária à ditadura de 1964 teria sucumbido à corrupção; e ruim também para a instituição Presidência da República que não teria passado, nesse caso, de um biombo para a locupletação de uma alcateia com raiva.

Mas há fortes indícios de que Lula está preocupado com a possibilidade de o pior acontecer. Tanto é assim que neste janeiro que termina chegou a 15 o número de pessoas, entre as quais vários jornalistas, processadas por terem supostamente ofendido e injuriado Lula, autor das ações.

Ele pretende, a cada processo, provar que tudo o que dizem dele não é verdade. Basicamente, o que dizem é que Lula sabia dos malfeitos da Petrobras desde o mensalão, que agiu como lobista de empreiteiras corruptas, que nomeou executivos com o objetivo de fazer caixa com dinheiro público desviado para pagar dívidas de campanhas petistas, que teria dado sinal verde ao tráfego do tráfico de influência no Planalto, que planejou e monitorou o enriquecimento ilícito de familiares, que desfrutaria imóveis de luxo a ele presenteados por poderosos, que teria se associado ao que de ruim existe na política para cometer o que de pior se pode fazer contra uma nação.

O certo é que a cenografia em que o nosso personagem histórico evolui neste início de semana, cenário desenhado sem açúcar nem afeto pela Polícia Federal e pela força-tarefa da Lava Jato, transpira paixão, está cheio de dores, suporta arrebatamentos, e requer ações extraordinárias.

A transpiração da paixão está a cargo do Partido dos Trabalhadores que vê num crescendo a mobilização de setores da sociedade com o intuito de simplesmente vaporizar o PT do mapa político continental. Quem tomou a iniciativa foi o PSDB, que pediu a extinção do partido à Justiça Eleitoral alegando, com base em delação premiada divulgada pelo Ministério Público, que a legenda teria recebido de uma só lapada R$ 50 milhões resultantes de propina para gastar na campanha que reelegeu Lula em 2005.

As dores ficam a cargo do ex-presidente. Fazem a cabeça, o dedão, a garganta e a barriga de Lula latejarem. O líder petista assiste ao despencar da própria popularidade numa velocidade estonteante, principalmente agora com essa história do triplex à beira-mar plantado, apartamento de cobertura que teria sido originariamente construído para mutuários de uma cooperativa, a Bancoop, que faliu sob gestão petista, e preparada a cobertura de três andares por uma construtora para acolher a família Lula da Silva. Por esse imóvel na planta, Lula declarou à Receita Federal em 2006 que pagou à Bancoop a quantia de R$ 47.695,38.

Os arrebatamentos certamente repetirão o padrão estabelecido na semana passada pelo ministro da Justiça. José Eduardo Cardoso foi todo arrebatamento ao enfatizar que a Polícia Federal, apesar de ter batizado de Triplo X o último desdobramento da Operação Lava Jato, não pensou, não quer, nem vai envolver Lula nas investigações.

Quanto às medidas extraordinárias, elas terão que partir de Lula, mesmo. Para deixar claro à opinião pública, de onde brotam os votos, que nesse caso do petrolão ele fumou, mas não tragou. Estava próximo à conspiração mas nada viu, nada ouviu. Por isso nada tem a dizer. Mas é bom não esquecer de lembrar que tudo o que ele calar poderá ser usado contra ele. Da mesma forma acontecerá com tudo o que ele disser. À sociedade, importa que não fique o dito pelo não dito. Lula e a história merecem que tudo seja passado a limpo. Passado e presente.