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Conheça o primeiro longa-metragem de animação paraibano

publicado: 01/07/2019 12h22, última modificação: 01/07/2019 12h22
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- Foto: Foto: Divulgação

tags: silvio toledo , animação , campina grande , cinema

por Cecília Noronha*

Quando monstros, bruxos e dragões se enfrentam...Eis que surge ‘A princesa de Elymia’, primeiro longa-metragem de animação paraibano em breve nas telonas


Mais de 1 milhão de imagens criadas com o auxílio de computação gráfica, tendo como referência a pintura clássica universal, além de um visual com pegada ecológica. Somemos a tudo isso um esforço exaustivo de cinco anos de produção com equipe técnica enxuta, mas muito dedicada, e teremos como resultado o primeiro longa-metragem de animação paraibano. ‘A princesa de Elymia’, do diretor e roteirista Silvio Toledo, de Campina Grande, já saiu do forno e está prontinho para ser lançado em breve nas telas do cinema nacional. A distribuidora responsável pelo agendamento do filme nas salas de exibição aguarda apenas uma vaga - por sinal, bem disputada com os blockbusters milionários de Hollywood em cartaz - para anunciar a data exata da estreia. A previsão é que no início do segundo semestre a produção já comece a circular.

“É uma produção toda feita em computação gráfica. Nela, temos muita referência ao trabalho de arte. De maneira discreta homenageamos a arte clássica, como a de Draper”, comentou Toledo, se referindo ao pintor classicista inglês Herbert James Draper (1863 – 1920). “Nos inspiramos em diversas pinturas para fazermos algo mais original e diferenciar das produções americanas”, explicou.

O longa de animação faz referência a outros nomes da arte clássica como o pintor acadêmico francês Adolphe William Bouguereau (1825- 1905), cujo trabalho aborda o gênero realístico e ao mesmo tempo passeia por temas mitológicos, históricos e alegóricos. Ao vermos os traços e as luzes dos desenhos produzidos por Silvio Toledo, também nos vem à memória as imagens sombreadas, com contraste entre o claro e o escuro, da pintura barroca do holandês Rembrandt (1606-1669).

Toda a narrativa e até mesmo os traços dos personagens, segundo afirmou Toledo, encontram ainda inspiração nos desenhos da década de 1980. “Como ThunderCats, He-Man, Caverna do Dragão, por exemplo. Essas animações eram mais clássicas, tinham um traço que também remetia mais à arte do que as animações que são lançadas atualmente no mercado”, comentou.

O diretor de ‘A princesa de Elymia’ explicou que seus personagens não são simples desenhos de bonecos, pois procurou fazê-los com características mais humanas. “Outra coisa importante é que optamos por uma temática medieval de dragões e castelos, alternando com cenas que remetem ao nosso mundo real, como se a princesa se transportasse para uma realidade paralela, um outro universo”, disse sobre o roteiro.

E esse mundo paralelo e fantástico, criado na animação, é bem ecológico, contrastando com as favelas urbanas que também povoam o filme. “Nesse mundo fantástico há uma propagação muito boa de florestas e natureza”, disse Toledo.

‘A princesa de Elymia’ contou com financiamento federal via Agência Nacional do Cinema (Ancine) a partir de 2013, além de patrocínios. A história foi baseada em um conto original, escrito pela esposa do diretor do filme, Natali Toledo. “Ela escreveu e eu ampliei a história e fiz o desenho dos personagens. O argumento do filme é dela”, confirmou Silvio.

Na opinião de Silvio, um dos problemas do cinema paraibano é o fato das pessoas não conhecerem o que se produz nas diversas regiões do estado, além da capital. “É importante que conheçam a produção local. O governo (federal) atual derrubou a lei de cotas, que permitia que o exibidor disponibilizasse cota para os filmes nacionais”, lamentou. “As salas de cinema brasileiras hoje estão entregues ao cinema americano. Houve uma medida judicial que derrubou a lei de cotas”, acrescentou.

Quebra-de-braço com os blockbusters

O nosso longa-metragem de animação é o primeiro feito na Paraíba e um dos poucos de todo o Nordeste, segundo garante o diretor Silvio Toledo. Mesmo com esse ar pioneiro e inaugural, a produção está encontrando dificuldade para conseguir um “lugar ao sol” na fase da exibição.

“O problema é que a Distribuidora Panda Filmes está encontrando dificuldade em marcar salas devido ao grande número de blockbusters de Hollywood que estão tomando todas as vagas”, disse Silvio Toledo.

Toledo lembrou que ‘Vingadores: Ultimato’, do Universo Marvel, por exemplo, já chegou a ocupar 95% das salas do país e vai voltar em uma versão com seis minutos extras. Portanto, situações como essa contribuem para demora da estreia de filmes locais como a animação paraibana. “Vingadores derrubou a lei brasileira de cota de tela que exigia o mínimo de espaço pro cinema nacional, pois agora eles podem ocupar 100% das salas. Depois tem Rei Leão, Toy Story, X-Man, Alladin e muitos outros. Com toda essa mídia bilionária nos blockbusters, fica dificil encontrar espaço pro filme nacional, principalmente um filme paraibano”, comentou.

O diretor afirmou que gostaria de fazer o lançamento nacional do filme, mas há poucas salas à disposição para isso. “Está vindo uma safra de filmes novos e o exibidor estrangeiro tem força até para retirar os filmes brasileiros das salas. Nossa pretensão era lançar em agosto. O nosso marcador de salas já trabalhou com Valter Sales, distribuiu Central do Brasil, por exemplo, ou seja, tem muita experiência. Só que esse próximo mês de julho é de férias e tudo fica ainda mais difícil. Mas, nesse segundo semestre, estaremos lançando mesmo que seja em poucos lugares”, apostou.

Fora essas dificuldades para marcar a data de estreia da animação nas telonas nacionais, tudo já está “na agulha” para que ‘A princesa de Emydia’ marque seu lugar na história do audiovisual paraibano. E o caminho foi longo e árduo para chegar até aqui. “Foi um projeto exaustivo onde praticamente geramos 1 milhão de imagens. O período de produção da animação começou em 2013, quando consegui levantar dinheiro pra me dedicar inteiramente à produção e contratar equipe, e foi até 2018. Mas o trabalho já estava em concepção desde o ano 2000”, lembrou Toledo.

SOBRE O ENREDO 

  • Com duração de 104 minutos, o longa de animação paraibano conta a história de Zoé, uma garota de dez anos de idade. Ela descobre que não pertence ao nosso mundo e atravessa um portal que a conduz à Elymia. Nesse reino fantástico, a personagem é a única esperança para salvar o povo da tirania de um Bruxo.
  • A personagem principal precisa aprender a usar sua magia com tempo hábil para enfrentar bruxaria, monstros e dragões. Ao mesmo tempo, Zoé é considerada uma ameaça ao Reino e todos temem por sua presença.


O DIRETOR

  • Silvio Toledo é de Campina Grande e tem 44 anos de idade. Ele já produziu e dirigiu outros quatro longas independentes, durante o período em que desenvolvia a animação ‘A princesa de Elymia’. Odontólogo de formação, ele trabalha desde a adolescência com arte publicitária e fazia desenho animado para comercial de televisão, tendo colaborado ainda com trabalhos semelhantes para jornal. Atualmente, está concluindo uma pós-graduação na área de Cinema.
*matéria publicada originalmente na edição impressa de 29 de junho de 2019