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CRM propõe interdição do Trauminha por irregularidades

publicado: 06/04/2016 00h05, última modificação: 05/04/2016 21h00
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Integrantes do CRM-PB relataram as irregularidades encontradas e defenderam a interdição do complexo hospitalar - Foto: Evandro Pereira

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Cardoso Filho

Presença de baratas em enfermaria, falta de equipamentos, material de uso diário com validade vencida, falta de insumos na área de ortopedia e traumatologia, além de aparelhos sucateados, a exemplo do tomógrafo, que está quebrado há quase dois anos, são algumas das várias irregularidades encontradas durante fiscalização do Conselho Regional de Medicina no Complexo Hospitalar Governador Tarcísio Burity (Ortotrauma), o Trauminha, que funciona em Mangabeira e é administrado pela Prefeitura Municipal de João Pessoa.

Ontem mesmo foi encaminhado relatório relatando as irregularidades para o Ministério Público Estadual e também para a Secretaria Municipal de Saúde. O órgão da Prefeitura da capital tem prazo de 30 dias para solucionar os problemas do Trauminha.

Durante coletiva, ocorrida ontem no auditório do CRM, o presidente da entidade, médico João Medeiros Filho; o diretor de fiscalização, João Alberto Morais; o presidente do Sindicato dos Médicos da Paraíba, Tarcísio Campos e o ortopedista Remo Castro (plantonista do Trauminha) foram unânimes em opinar pela interdição daquele complexo hospitalar.

João Medeiros chegou a dizer que o hospital deveria estar fechado, pois não tem condições de atender a população, no entanto, segundo ele, isso poderia criar um caos na saúde da capital. Todas as irregularidades encontradas no Trauminha constam no relatório. “Esperamos providências urgentes”, disse o presidente do CRM.

Atendimento nos corredores, lixo hospitalar, tomógrafo quebrado há quase dois anos e aparelhos sucateados fizeram parte das denúnciasEntre as denúncias constantes do relatório está a superlotação. Ontem, o médico João Medeiros revelou que a área vermelha, com capacidade para cinco pacientes, estava com 12. Ele sugeriu que a Secretaria Municipal de Saúde deveria locar leitos de outras instituições. “O que não pode é continuar como está”, disse.

Pacientes esperam chamada para cirurgia

O diretor de fiscalização do CRM, João Alberto, responsável pela inspeção realizada anteontem no Trauminha, disse que durante cinco horas conversou com pacientes, funcionários, médicos e todos foram unânimes em denunciar a falta de estrutura do complexo hospitalar Governador Tarcísio Burity e disse que, por ele, o local seria interditado.

João Alberto denunciou que alguns pacientes estão recebendo alta para aguardarem a cirurgia em casa. “Geralmente são cirurgias ortopédicas e com risco de sequelas”.

Na fiscalização foram encontrados o tomógrafo quebrado, já há dois anos, e raio X sem funcionar. O diretor do CRM disse ainda que a orientação seria a retirada de todos os médicos “pois não existe condições de trabalho”.

Durante a fiscalização não foi encontrado nenhum paciente com menos de 30 dias esperando por uma cirurgia e ao final da entrevista ele sugeriu o sequestro dos bens dos gestores.

Situação crônica

O presidente do Sindicato dos Médicos da Paraíba, Tarcísio Campos, numa posição mais dura, disse que o problema é crônico e que os médicos que prestam serviços no Trauminha trabalham em situação de guerra, e foi mais além afirmando que a entidade propõe ao Ministério Público para agir com força, por ser o fiscal da lei e denunciou que “não se pode gastar em outros setores, o que poderia estar se utilizando na área da saúde”.

Atendimento nos corredores, lixo hospitalar, tomógrafo quebrado há quase dois anos e aparelhos sucateados fizeram parte das denúnciasAlém do Trauminha, Tarcísio Campos revelou que os demais hospitais da rede pública administrados pela Prefeitura Municipal de João Pessoa apresentam problemas e falta de tudo no hospital do Valentina Figueiredo, no Hospital Santa Isabel, na maternidade Cândida Vargas, onde as pacientes, às vezes, têm que dividir leitos, ficam em cadeiras durante o pré-parto, entre outras irregularidades, e afirmou categoricamente: “Não se faz saúde com gambiarra”.

Já o ortopedista Remo Soares Castro, plantonista do Trauminha, disse que nos seus 33 anos de profissão nunca vivenciou um momento como esse e afirmou que o Trauminha está no fim do poço.

Remo Soares falou da pactuação firmada entre o Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena de João Pessoa, referência no atendimento em traumatologia e ortopedia, e o Complexo Hospitalar de Mangabeira Governador Tarcísio Burity (Ortotrauma) com o objetivo de otimizar o atendimento ortopédico na capital e organizar o fluxo de pacientes que são atendidos nas duas unidades.

O ortopedista disse que, pela pactuação firmada em julho de 2015, todas as fraturas de membros superiores e inferiores, localizadas abaixo do cotovelo ou do joelho, ficam tendo como referência para o atendimento o Ortotrauma de Mangabeira. Acima do cotovelo ou acima do joelho, a responsabilidade é do Trauma. Também serão referenciadas para o Trauma as fraturas mais graves, que apresentem lesão de vasos ou nervos.

Atendimento nos corredores, lixo hospitalar, tomógrafo quebrado há quase dois anos e aparelhos sucateados fizeram parte das denúnciasEle explicou que o acordo vem sendo cumprido pelo Hospital de Emergência e Trauma, o que não ocorre com o Trauminha pela falta de equipamentos e tudo aquilo que foi observado durante a fiscalização.

Uma audiência está marcada para o próximo dia 13 na Promotoria da Justiça de Defesa da Saúde com a presença da Comissão de Licitação da SES-JP, bem como dos representantes da Comissão de Licitação da Procuradoria-Geral de Justiça, com a finalidade de esclarecer o andamento do processo de licitação para a aquisição dos materiais cirúrgicos para a realização dos procedimentos eletivos.