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Maior parte das vagas no primeiro semestre foi ocupada por elas, mostra Caged

Mulheres conquistam mais espaço no trabalho formal

publicado: 21/08/2022 00h00, última modificação: 22/08/2022 11h03
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Gestora Yveth Alves (foto um) destaca que mulheres como Rafaela Narque (foto dois) conseguem dividir melhor o tempo entre as atividades - Foto: Foto: Evandro Pereira

tags: ECONOMIA , MULHERES , mercado de trabalho

por Thadeu Rodrigues*

 

No primeiro semestre deste ano, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho registrou que, na Paraíba, o saldo de geração de empregos formais (resultado entre contratações e demissões) para mulheres superou o de homens em cinco vezes: 5.645 delas contra 1.102 deles. A diferença de 412% mostra que o mercado de trabalho paraibano tem absorvido melhor essa mão de obra, que se mostra apta para enfrentar as dificuldades da economia.
Nos seis primeiros meses de 2022, segundo o Caged, as admissões de homens somaram 60.518, ante 59.416 desligamentos. Desta forma, o índice de empregabilidade, isto é, o saldo de empregos entre os trabalhadores foi de apenas 1,82%. Já no que se refere às mulheres, os números são bem diferentes. As admissões somaram 33.192, o que corresponde a 54,85% das contratações masculinas. Entretanto, as demissões de mulheres somaram 27.547, com um índice de empregabilidade de 17,01%, superando o percentual masculino em 844% ou 9,3 vezes.
Em todos os meses do semestre, a geração de empregos entre as mulheres foi positiva. Já entre os homens, houve um déficit nos meses de janeiro (-2.193) e fevereiro (-2.418). No mesmo período, o Caged indicou que houve saldo negativo na agropecuária, com mais demissões do que contratações, com o fechamento de 1.233 postos de trabalho em janeiro e 1.531 em fevereiro, o que impactou negativamente o saldo total naqueles meses, que foram de -1.696 e -1.293, respectivamente.
Nos dois primeiros meses do ano, a indústria também registrou resultados deficitários na geração de empregos, com fechamento de 1.386 e 2.147 postos de trabalho, em janeiro e fevereiro, respectivamente. Por outro lado, o setor de serviços, foi na contramão, com a criação de 1.220 oportunidades em janeiro e 2.247 em fevereiro.

Gestora Yveth Alves (E) destaca que mulheres como Rafaela Narque (D) conseguem dividir melhor o tempo entre as atividades

Divisão entre gêneros
Conforme a coordenadora-adjunta do Sistema Nacional de Emprego de João Pessoa (Sine-JP), Jessyka Barros, há uma divisão do trabalho entre gêneros, de acordo com algumas atividades. Ela cita que, geralmente, na agropecuária e na indústria, há uma preponderância de que os homens ocupam mais postos de trabalho.
Jessyka Barros frisa que os empregadores não podem exigir preferência de gênero para preenchimento de vaga, conforme preconização do Ministério do Trabalho. “Não é permitido dar preferência a gênero ou faixa etária. As empresas podem exigir escolaridade e experiência, ou seja, aspectos de qualificação para ocupar a vaga”.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (Fiep), Buega Gadelha, avalia que os dados negativos apresentados pela agropecuária e a indústria são relacionados ao período de entressafra da indústria sucroalcooleira, uma das principais atividades econômicas do estado. “É um resultado sazonal, que foi modificado nos meses seguintes”.
No acumulado do ano, houve a criação de 6.747 novos postos de trabalho. O setor de serviços liderou a geração de empregos, com saldo de 8.961 contratações. Em seguida, estão a construção civil (2.058) e comércio (736). Apresentaram saldos negativos a agropecuária (-2.644) e a indústria (-2.364). Em junho, o estoque total de trabalhadores formais foi de 441.111 empregados, com crescimento de 0,82% sobre maio.

Qualificação é critério que garante vaga

A vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos na Paraíba (ABRH-PB), Yveth Alves, afirma que as mulheres apresentam um melhor desempenho no setor de serviços e conquistam a maior parte dos postos de trabalho. “No processo de seleção, as mulheres são melhor avaliadas a partir dos aspectos de comunicação, paciência e demonstração da vontade de aprender”. Ela destaca que as empresas não buscam preferências de gênero, e sim, qualificação.

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Gestora Yveth Alves (foto um) destaca que mulheres como Rafaela Narque (foto dois) conseguem dividir melhor o tempo entre as atividades
Yveth Alves também é gerente de pessoas da unidade da empresa de call center A&C, em João Pessoa, que conta com 3.500 funcionários. Segundo ela, 65% são mulheres. Para a gestora, não há um fator objetivo que justifique o fato de haver mais mulheres em uma das principais empresas do setor de serviços, na Paraíba.
“Acredito que é uma questão de contexto. O sexo feminino se identifica mais com a atividade. Como muitas mulheres desenvolvem muitas atividades, são mães, esposas, estudam e trabalham, elas veem na A&C uma oportunidade de uma jornada de trabalho de 6h diárias, o que permite esta divisão do tempo”, comenta.
A atendente da empresa A&C, Rafaela Narque, tem 25 anos e está na empresa há quase um ano. Ela teve um contrato de trabalho como jovem aprendiz, aos 19 anos, quando trabalhava como caixa de supermercado. Após este período, ela iniciou os estudos de Letras, na UFPB, o que passou a ser sua única atividade.
“Em razão da carga horária de 6h de trabalho, eu busquei este emprego como atendente, porque não me impede de estudar e realizar outras atividades”, conta a operadora. Ela afirma que gosta do ambiente de trabalho e da convivência com as pessoas, com planos de permanecer na empresa.
Outro fator apontado por Yveth Alves sobre esse destaque feminino no mercado de trabalho é que muitas mulheres são líderes de família e precisam se esforçar para manter o emprego. Com as dinâmicas sociais, o salário das mulheres não é mais apenas o complemento do orçamento familiar, como ocorria em décadas atrás.

Faixa etária
O Caged também define os dados conforme a faixa etária dos trabalhadores. No acumulado de janeiro a junho deste ano, o saldo positivo da geração de empregos só ocorreu para os trabalhadores com idade abaixo de 30 anos. Do total de 6.747 postos de trabalho (como resultado de admissões e desligamentos), 7.460 foram para a faixa etária de 18 a 24 anos, que gerou mais empregos em todos os meses do semestre. Na sequência, estão a faixa de 25 a 29 anos (709) e a de até 17 anos – menor aprendiz – (569).
O grupo etário mais prejudicado foi o de 50 a 54 anos, com saldo negativo de 1.129 empregos, seguido por 30 a 39 anos (-433), 40 a 49 anos (-249) e maiores de 65 anos (-180), que apresentou resultados negativos em todos os meses.
De acordo com Yveth Alves, o recorte do semestre não condiz com a realidade da empresa A&C. A gestora indica que a faixa etária de 18 a 24 anos é a que representa maior rotatividade, pois apresenta dificuldades de adaptação.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 21 de agosto de 2022.