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ESPORTES: Pedaladas por pedradas

publicado: 16/10/2020 10h22, última modificação: 16/10/2020 10h22
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- Foto: Foto: Bruno Cantini

tags: robinho , santos , violência contra a mulher , opinião

 

Bruno, ex-goleiro do Flamengo, condenado a 22 anos e 3 meses pelo assassinato e ocultação do cadáver de Eliza Samudio, hoje defende o Rio Branco; Jean, ex-goleiro do São Paulo, preso nos Estados Unidos por ter agredido sua esposa, continua na elite do futebol brasileiro, agora vestindo a camisa do Atlético Goianiense; Wesley Pionteck, condenado a um ano e quatro meses em regime aberto por lesão corporal contra sua então namorada, atua pelo Red Bull Bragantino; Robinho, condenado em primeira instância a nove anos de prisão por ter participado de um estupro coletivo na Itália, foi repatriado pelo Santos. 

A violência contra a mulher continua a ser banalizada no Brasil toda vez que agressores são postos em espaços privilegiados no esporte de maior relevância do país.

O caso do jogador santista é de todos o mais polêmico. Trata-se de um ídolo criado no clube, com história de títulos, passagem pela Seleção Brasileira e uma carreira marcada por grandes lances, que o tornaram mundialmente conhecido como “Rei das Pedaladas”. 

Nada que atenue sua condição de agressor, caso o crime seja confirmado. 

No início de sua carreira, Robinho chegou a ser comparado a Pelé. Ali sim era muito marketing para o tanto de bola que ele jogava. Foi decisivo no título brasileiro conquistado em 2004, naquele time marcado pelos “meninos da Vila”, época em que Diego também voava em campo. Porém, muito longe do Rei.

O retorno de Robinho ao Santos foi mais questionado pela sua condição de condenado por estupro do que pela pouca bola que ainda lhe resta em seu fim de carreira. Por conta da polêmica, o Santos até perdeu um patrocinador. Mais do que justo, pois trazer alguém acusado por estupro é um tapa na cara de toda a sociedade brasileira. Pior ainda ao considerarmos a infeliz causalidade do anúncio da volta do atacante ter sido feito justamente no Dia Nacional de Luta contra a Violência à Mulher. O que o Santos fez foi um escárnio.

Em nota, o clube justificou que ao processo ainda cabe recurso, portanto, é preciso considerar a presunção da inocência do jogador. A nota foi muito bem colocada, pois diferentemente do Red Bull Bragantino, que alega a importância da ressocialização de Wesley Pionteck e não mantém vínculo empregatício com nenhum outro funcionário sob a mesma condição, demonstrando clara hipocrisia, o que o Santos diz é mais do que justo. Presunção de inocência é um direito de todo cidadão brasileiro. 

No entanto, não podemos cair na conversa santista e passar a mão na cabeça de Robinho enquanto ele recorre do processo que corre na Justiça italiana. É verdade que o atacante tem o direito de se defender, assim como precisa trabalhar para manter boa condição física e mental. Entretanto, Robinho não precisa de dinheiro para se manter, tanto é que terá um salário simbólico. Tampouco precisa de mídia. Se o clube queria dar condições para que o atleta se recuperasse, que o contratasse e desse totais condições de treinos, oferecendo toda a estrutura e, até mesmo, contato com o elenco principal, porém sem integrá-lo ao time que disputa as competições. Ao colocar Robinho para vestir a camisa do time, dar visibilidade ao jogador e a oportunidade para que ele volte a fazer gols, o Santos diz à sociedade que pouco se importa com situações de violência contra a mulher. 

Se apostou novamente em Robinho, mesmo sob condições tão adversas, o Santos optou por trocar as pedaladas por pedradas. 

*coluna publicada originalmente na edição impressa de 26 de outubro de 2020.