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Grupo Jaguaribe Carne realiza show na Budega Arte Café, em JP

publicado: 28/10/2016 00h05, última modificação: 28/10/2016 08h51
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Os irmãos Paulo Ró e Pedro Osmar criaram diferentes movimentos culturais nos anos 70 e 80 - Foto: Divulgação

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Linaldo Guedes

A noite será animada hoje na Budega Arte e Café, localizada no Bairro dos Bancários, em João Pessoa. É que um dos grupos mais emblemáticos da cena musical brasileira sobe ao palco para mostrar guerrilha cultural e suas canções experimentais. Estamos falando do Jaguaribe Carne, que sob as mãos talentosas dos irmãos Pedro Osmar e Paulo Ró já entraram definitivamente na história da Música Popular Brasileira. O show do grupo começa às 19 horas e a Budega fica localizada na Rua Arthur Américo Cantalice, nº 197. A entrada é gratuita.

Sobre o show do Jaguaribe Carne, Pedro Osmar diz que será mais uma experimentação, onde até serão cantadas algumas canções, mas tudo muito simples, onde o predomínio será a força da palavra. “Recitarei alguns poemas meus. Particularmente um: Sobre a democracia em dúvida”, informa.

Não haverá banda. Será o “duo” clássico do Jaguaribe Carne: Pedro Osmar e Paulo Ró, com a participação de Pedro, filho de Pedro Osmar, “Índio Negro” cantando a música “Serrote”, parceria com Fuba. O grupo Jaguaribe Carne começou em 1974, num festival estudantil de música do Liceu Paraibano, numa época em que os grêmios estudantis eram bem fortes e se preocupavam com ações culturais para a população. “É nesse contexto que nasce o nosso grupo”, afirma.

Ao longo desses 42 anos, o Jaguaribe Carne se notabilizou, também, como um grupo de resistência cultural. Pedro Osmar explica porque: “A resistência cultural é uma necessidade! O tal do mercado profissional de música é algo bem distante da realidade e só uns poucos conseguem chegar e lá permanecer, que é o caso de Chico César. E mesmo lá dentro, Chico César não perdeu a ligação com sua base, e isso é muito importante para um artista como ele, que teve base cultural e política para se formar.”

O Jaguaribe Carne, lembra Pedro Osmar, sempre teve projetos de sustentação, principalmente agora, com o lançamento do filme “Pedro Osmar, Pra Liberdade que se Conquista”, de Eduardo Consonni e Rodrigo Marques, da produtora Complô de cinema de São Paulo, e o álbum “Quem vem lá?”, com dois CDs, produzido por Guegué Medeiros e Marcos Alma em São Paulo.

Pedro Osmar aposta que 2017 será um bom espaço de trabalho. Provavelmente, admite, tenha que voltar a cair na estrada para trabalhar o filme e o álbum. “O horizonte da resistência sempre nos abraçou e deu condições, e nós fomos ocupando os espaços que foram sendo conquistados. Tanto aqui em João Pessoa, a partir de 1974, quanto fora daqui, em São Paulo, a partir de 1975”, explicou.

Jaguaribe Carne é a soma de vários quereres, de vários artistas. “Não queremos ser os melhores. Queremos estar experimentando. Afirmar a arte com educação e para o povo. Uma coisa é fazer isso na academia; outra coisa é fazer com a família, com o povo, com a comunidade”, reforça. O grupo, incluindo os trabalhos individuais de Paulo Ró e Pedro, tem quase 20 discos gravados.

Ainda sobre o Jaguaribe Carne, por exemplo, diz que o grupo cumpriu um papel que não era para ser dele em meados de 1973/74. Pouco antes disso, Pedro foi estudar na escola de música Antenor Navarro, onde tinha como professores nomes como Pedro Santos e Maria Alix. Foi ela que mudou sua vida. No primeiro dia de aula, falou sobre os vários tipos de músicas existentes e também da existência da música experimental. Pedro Osmar ousou experimentar e nunca mais parou. Daquela turma, só ele continuou músico.

Jaguaribe Carne é isso: Paulo Ró, com a belíssima produção de canções registradas nos CDs que vem gravando, assim como Pedro Osmar, que investiu mais em discos de experimentações, música de livre improvisação a partir de João Pessoa, até São Paulo, com as parcerias que construiu com o músico Loop B e com o grupo “Aguauna”, em parceria com grandes músicos como Rico Venerito, Célio Barros, Fabio Negroni e Guegué Medeiros. O Jaguaribe Carne sempre foi uma porta aberta. Paulo Ró, mais lírico, com canções no estilo do Clube da Esquina mineiro. Pedro mais experimental, numa mistura de Hermeto Pascoal com Geraldo Vandré. Dessa mistura de sons, nasce o que melhor representa a música paraibana há mais de quarenta anos. Quem perder mais essa oportunidade de ver uma lenda da música brasileira, vai se arrepender, sim.

Saiba mais sobre o Jaguaribe Carne

O Jaguaribe Carne, conta o site “gasolinafilmes”, desde o início atuou com fusão de linguagens artes visuais, artes-gráficas, teatro, literatura e jornalismo e com a pesquisa e laboratório de sons da “World Music”, fundindo-a com a vasta expressão e riqueza do folclore brasileiro e nordestino. Ritmos brasileiros como ciranda, coco, maracatu, caboclinho, catira e boi, se misturam a influências da música do oriente, da África, das vanguardas européias do século passado, do jazz, da música instrumental brasileira. O texto das canções tem contundência e rigor estético, além de compromisso humano e ético.

O grupo desenvolve atividades em torno do que define como “Guerrilha Cultural”, junto a entidades comunitárias, sindicais e estudantis. A ideia, desde o surgimento do grupo, era de tomar conhecimento do maior número possível de dados, informações e conhecimentos em arte, política, educação e cidadania, fosse de origem popular ou erudita, e mover atos e atitudes que possibilitassem a democratização, a socialização, a popularização e a descentralização desse conhecimento. É daí que vem a noção e a iniciativa de fazer com que toda essa riqueza fosse aberta para quem quisesse e precisasse, fossem artistas interessados em linguagens experimentais ou populações trabalhadoras e estudantis que necessitassem ter contato com a fusão, as dúvidas e as certezas da evolução da arte na cidade de João Pessoa. Tudo isso com uma atuação simples e barata, tendo como base as parcerias que iriam garantir reflexão e diversão para várias comunidades até então carentes de mobilização educadora.

As pioneiras experiências do Jaguaribe Carne apontaram outras direções para o fazer musical, deslocando o eixo geográfico para os bairros, abordando temáticas inéditas e recusando os caminhos da indústria fonográfica.

O Grupo é criador de movimentos culturais como a Coletiva de Música 1976, Musiclube da Paraíba 1981, Movimento de Escritores Independentes 1984, além de ter participado ativamente da criação do Projeto Fala Bairros arte-educação comunitária em 1982, no bairro de Jaguaribe, “De pé no Chão também se aprende a Ler” do Rio Grande do Norte e da Ceplar, Campanha de Alfabetização Popular da Paraíba que ajudaria a viabilizar o método Paulo Freire de educação popular, Grupo História Viva de Mangabeira, Vivência de Mandacaru, Araponga e Boca da Noite. Com o Musiclube e seus projetos culturais formadores, vem a noção de grupo, de ato cooperativo, de trabalho pré-sindical. Com o Fala Bairros vem a necessidade de assumir o bairro como espaço de cultura, se abrindo para atuar nos quintais, salas, praças, ruas, escolas, associações de moradores, salões paroquiais e clubes de mães em intercâmbios fundamentais. Com o Movimento de Escritores Independentes se consegue uma unidade performática que colocou a produção marginal daquele período na rua, nas praças e escolas para uma apreciação pública mais didática da chamada poesia marginal.