A figura do cangaceiro ainda desperta debates e alimenta o imaginário popular. Por essa razão e com o objetivo de preservar e divulgar as pesquisas sobre esse marcante período histórico do Nordeste, a cidade de Cabaceiras, no Cariri, prepara-se para inaugurar, no mês de outubro, o primeiro Memorial do Cangaço da Paraíba, que terá o nome de Manoel Batista de Moraes.
O nome do espaço homenageia o nome de batismo de Antônio Silvino, reconhecido por muitos como um dos mais célebres cangaceiros da história do Brasil, frequentemente mencionado como o Rei do Cangaço, que antecedeu Lampião. Silvino teve grande atuação na Paraíba, especialmente em Cabaceiras, onde contava com forte apoio, principalmente dos coronéis da época. Curiosamente, o local escolhido para abrigar o Memorial do Cangaço está diretamente ligado à sua história: trata-se da antiga cadeia pública da cidade, conhecida como A Bastilha do Cariri, que chegou a ser incendiada pelo próprio cangaceiro em 1899.
Para o professor e idealizador do memorial, Julierme do Nascimento, o cangaço tem grande potencial para integrar as rotas turísticas da Paraíba. “Cabaceiras se destaca como a principal rota do cangaço no Cariri paraibano, devido ao grande número de coiteiros na região — pessoas influentes e com recursos que ofereciam proteção aos cangaceiros. No entanto, a presença do cangaço se espalhou por todo o estado, por isso há um projeto mais ambicioso: a criação da Rota do Cangaço na Paraíba. Com a implantação do memorial, estamos dando o primeiro passo nesse caminho”.
O pesquisador disse que tem plena convicção de que será um sucesso, pois Cabaceiras já é um polo turístico consolidado, com eventos como a famosa Festa do Bode Rei. “Mas o turismo voltado para o cangaço pode ter um alcance ainda maior, já que funcionará durante todo o ano, ao contrário da festa, que acontece apenas em um período específico”, explicou o professor.
O memorial será gerido pela Prefeitura de Cabaceiras, município conhecido como a Roliúde Nordestina, por meio da Secretaria Municipal de Cultura.
Julierme do Nascimento, que doará mais de cinco mil itens para compor o acervo do espaço, relata que as primeiras conversas sobre a criação do memorial tiveram início no ano passado. “Em 2024, começamos a idealizar, junto aos órgãos públicos de Cabaceiras, a proposta de um memorial que será algo inédito na Paraíba e até mesmo no Nordeste. Existem museus com essa temática, mas um memorial, com esse enfoque e formato, ainda não. No dia 11 de julho, formamos uma comissão composta por mim, Toninho Menezes, secretário de Cultura do município; Juliana Soares, subsecretária de Cultura; e Marcos Aires, chefe de Gabinete. Agora, estamos com a inauguração prevista para o dia 10”, explicou Julierme do Nascimento.
- Idealizador do memorial, o professor e pesquisador Julierme do Nascimento doará mais de cinco mil itens para compor a coleção | Foto: Julio Cezar Peres
Acervo diversificado
O memorial foi concebido pela comissão com o propósito principal de ser um espaço de preservação histórica e cultural. Mais do que um local de exposição, o projeto busca envolver ativamente a comunidade e instituições de ensino, promovendo atividades educativas e culturais relacionadas à história do cangaço e às tradições do Sertão.
Para isso, o memorial contará com uma coleção diversificada, composta por documentos, jornais, Boletins de Ocorrência e folhetins da época, que narram com riqueza de detalhes os feitos e a trajetória de cangaceiros que marcaram a história. Além dos registros escritos, o público poderá conhecer de perto objetos emblemáticos, como rifles, punhais e facas que foram utilizados pelos próprios cangaceiros.
Haverá ainda um acervo digitalizado disponível para os visitantes e estudiosos interessados em se aprofundar nas pesquisas sobre o assunto na Paraíba, além de uma biblioteca com cópias dos documentos e publicações da época.
“Estamos aguardando a chegada de punhais que foram usados pelo próprio Antônio Silvino, além de armas brancas pertencentes a outros cangaceiros, como serrote e réplicas. Isso porque o memorial não se limita a preservar peças históricas, mas também se dedica a abordar a história do cangaço e da cutelaria. Teremos muitas facas originais da época”, detalhou Julierme do Nascimento.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 27 de julho de 2025.