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Vida e obra

Jackson do Pandeiro, o influenciador

publicado: 06/10/2025 09h13, última modificação: 06/10/2025 09h13
Grandes nomes da música brasileira que seguiram a cartilha do Rei do Ritmo são tema de exposição da Fundação Casa de José Américo, em João Pessoa
Jackson do Pandeiro - Tônio.jpg

Ilustração: Tônio

por Ademilson José (Especial para A União)*

Na próxima sexta-feira (10), em João Pessoa, a Fundação Casa de José Américo (FCJA) abrirá, na sua unidade de Tambaú, uma exposição gratuita que contará a vida e a obra do paraibano Jackson do Pandeiro. A mostra inclui biografia e discografia e, no destaque, painéis com artistas dos mais diversos estilos falando da influência que receberam do Rei do Ritmo da música brasileira.

Intitulada Jackson do Pandeiro – É ritmo, é raiz, é Paraíba, a exposição também inclui fotografias, depoimentos, notícias e registros da imprensa e será aberta às 10h, ao som do grupo Os Filhos de Jackson, de Alagoa Grande. A montagem e a organização geral é de Débora Oliveira e conta com designs que foram trabalhados por Rossiane Delgado e Ayanne Andrade.

Durante 60 dias, os visitantes da mostra vão se deparar com livros que abordam a vida e a obra do artista, 27 capas de discos e letras de 25 músicas colecionadas ao longo dos anos pela família. Quatro grandes painéis abordarão o “talento”, a “cultura”, a “história” e as “influências” do Rei do Ritmo na carreira de grandes nomes do forró e da música brasileira em geral. Este último ganha destaque especial porque, apesar de nem mesmo boa parte da crítica desconfiar, muito do sincopado e do malabarismo vocal que João Bosco aprendeu a desenvolver em suas interpretações, é influência de Jackson do Pandeiro.

Quem admite e explica tudo isso, claro, é o próprio cantor e compositor mineiro: “Tudo vem do coco. Samba, rock e quase todos os demais ritmos vem do coco”, resume João Bosco, ao complementar que “foi justamente por saber e fazer isso muito bem que Jackson fez o diferencial e influenciou um mundo de gente boa na música brasileira. O que Jackson fazia com a música, eu nunca vi ninguém fazer”, afirmou o artista, em uma de suas entrevistas à TV Cultura.

Conhecido por sua vasta contribuição à música instrumental brasileira, o maestro Moacir Santos (1926–2006) foi outro desses ilustres, cuja admiração que tinha era suficiente para comprovar a genialidade musical de Jackson do Pandeiro. Santos dizia-se impressionado com a capacidade que Jackson tinha de, mesmo sem estudo de teoria musical, dividir ritmos, captar e solfejar as linhas melódicas de tudo o que ouvia.

Para Moacir Santos, “Jackson era mesmo um caso de genialidade nata, sem contar a naturalidade com a qual conseguiu incorporar elementos tradicionais do Nordeste à música popular nacional”, completava o “Diamante Negro” da música instrumental, conforme chegou a ser definido e homenageado em DVD.

Entre os grandes artistas que assumem ter sido influenciados por Jackson do Pandeiro, os pernambucanos Alceu Valença e Geraldo Azevedo são os que mais reverenciam o mestre de Alagoa Grande. Na década de 1980, quando mais conviveu e dividiu palco com Jackson, no Projeto Pixinguinha, Alceu fez a música “Coração Bobo”, uma homenagem à simplicidade e ao fato de Jackson não ter ambição por sucesso e dinheiro.

Com Geraldo Azevedo, Alceu também convidou Jackson para que cantasse com eles o coco “Papagaio do futuro” em um festival de MPB, no Rio de Janeiro. Aliás, foi depois daquele trabalho que Alceu e Geraldo não pararam mais de participar de festivais e de emplacar sucessos por anos seguidos.

Ao lançar o antológico disco Expresso 2222 no período do exílio, Gilberto Gil já incluiu músicas do repertório de Jackson. “Chiclete com Banana” foi uma dessas músicas que, ao ser regravada por Gil, contribuiu para o recolocar o Rei do Ritmo nas paradas de sucessos, isso depois de um longo período de ostracismo midiático. Em seus shows por todo Brasil, Gil sempre fez questão de se intitular “discípulo de Jackson do Pandeiro”.

“Alma brasileira”

Dizem que santo da terra não obra milagre, mas além desses nomes nacionais, os paraibanos Parrá, Biliu de Campina e Livardo Alves não subiam num palco sem falar e sem cantar Jackson do Pandeiro. Parrá porque, além do ritmo, parecia o próprio Jackson em carne e osso; Biliu porque esbanjava repertório no mesmo estilo; e Livardo Alves pelo ecletismo em fazer forró com a mesma facilidade que fazia canção, frevo e qualquer ritmo.

Inicialmente influenciado pelo rock e, posteriormente, consagrado na MPB, o também paraibano Zé Ramalho não difere dos conterrâneos. Sempre assumiu ser fortemente influenciado pelo Rei do Ritmo e tanto é assim que, dos três álbuns-homenagens que lançou, um deles foi Zé Ramalho canta Jackson do Pandeiro. Nos outros dois, Zé canta Luiz Gonzaga e Raul Seixas.

Ainda tem também Lenine para quem, em termos de ritmo, Jackson do Pandeiro sempre foi a “alma brasileira”. E, quando canta, Lenine também tem a mesma opinião. Basta lembrar que foi justamente com o grande sucesso “Jack Soul Brasileiro”, que ele praticamente começou sua carreira.

Em termos de pesquisa, a exposição da unidade de Tambaú da Fundação Casa de José Américo não fica somente nesses artistas: tem muito mais. Entre eles e elas, nomes como Almira Castilho, Anastácia, Antônio Barros, Elba Ramalho, Elino Julião Genival Lacerda, Jacinto Silva, Manoel Serafim, Marinês, Severo e Silvério Pessoa.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 05 de Outubro de 2025.