Notícias

Banda 5 de Agosto

Seis décadas que vão além da tradição

publicado: 06/08/2024 09h33, última modificação: 06/08/2024 09h33
Um dos conjuntos musicais mais experientes da cidade de João Pessoa procura encarnar no espírito da renovação
1 | 2
Em 2020, na ocasião dos 435 anos da cidade de João Pessoa, o artista visual Sóter Carreiro fez uma homenagem à banda em aquarela | Imagem: Sóter Carreiro/Divulgação
2 | 2
Tocando da música erudita à popular nos mais diversos eventos, atualmente uma das características do grupo é se tornar uma banda sinfônica | Foto: Div./Secom-JP
5-de-Agosto---Aquarela-Sóter-Carreiro-2020---Instagram.jpg
Concerto da Banda 5 de Agosto na Sala de Concertos Radegundis Feitosa na 6ª Semana do Trompete UFPB 2023.jpg

por Marcos Carvalho*

“Eu vi na Banda 5 de Agosto uma possibilidade de iniciar minha carreira profissional e assim aconteceu”, revela a flautista Thallyana Barbosa, que ingressou num dos conjuntos musicais mais tradicionais da cidade de João Pessoa, enquanto cursava o bacharelado em Música, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Só se afastou da banda para fazer o doutorado em Música, na Universidade de Évora, em Portugal, mas, assim que retornou à capital paraibana, foi reintegrada ao grupo, onde, além do aprendizado, construiu laços de afeto e amizade.

“Na época, eu tinha muita vontade de tocar em um grupo profissional, tanto para adquirir experiência, quanto pela questão financeira”, recorda a flautista. O maestro Anderson Machado, que esteve na fundação da banda e esteve à frente do grupo por cerca de 30 anos, foi o grande incentivador da jovem. “Uma personalidade distinta, muito querida pelo público pessoense. Tratava os músicos como filhos, conduzindo a banda com muita responsabilidade e amor”, destaca a flautista.

Thallyana Barbosa representa bem o processo de renovação pelo qual tem passado a Banda 5 de Agosto nos 60 anos de existência, comemorados em 2024. A “bandinha”, como era chamada por muitos, deixou de tocar apenas nas festas religiosas e cívicas da cidade e vem procurando se reinventar.

“A gente toca da música erudita à popular. Tocamos com o maestro Wagner Tiso, com Joana, Daniel Boaventura e vários cantores de nome nacional. No mês passado, a gente esteve no Imagineland, onde tocamos só temas de cinema. No Sabadinho Bom, que é outro espaço que a gente toca, a gente costuma fazer samba e choro”, frisa o atual maestro da banda, Rogério Borges. Segundo ele, essas apresentações não aconteciam antes, porque no início a formação dos músicos era basicamente de militares reformados ou de quem vinha de bandas marciais do interior.

O quadro começou a mudar com a criação do curso de Bacharelado em Música da UFPB. E o maestro viu e viveu esse processo. Tocava na banda do colégio de sua cidade natal, Itaporanga, no Alto Sertão do estado, conhecida pela vocação musical, e quando se mudou para João Pessoa, logo procurou a Banda 5 de Agosto para fazer um teste. Passou e começou no conjunto como trompetista, enquanto fazia o curso de Música na universidade.

“É uma paixão que você traz da infância. Você vem para a capital estudar, mas a banda sempre corre em suas veias”, comenta o músico. Depois Borges passou a atuar como maestro adjunto, dividindo a regência com o titular, maestro Anderson Machado, até que assumiu, ano passado, a condução integral da banda.

“A gente ainda mantém sete músicos da época do início da banda, mas a grande maioria, hoje, vem da universidade, com graduação e até mestrado e doutorado”, relata o regente. Ao todo são 50 músicos, que se dividem em instrumentos como clarinete, flauta, oboé, fagote, saxofone (alto, baixo, soprano, barítono e tenor), trompete, trompa, trombone, tuba, pífano e vários instrumentos de percussão. A banda conta ainda com dois maestros e um ajudante, que atua na produção.

Outra inovação, introduzida nos últimos três anos, tem sido algumas formações musicais menores que se apresentam em determinados eventos, como o quarteto de clarinete, o quinteto de saxofone, big band, entre outros. O maestro explica que essa organização surgiu porque alguns eventos menores não comportavam todos os seus integrantes da banda. “Às vezes, para o lançamento de um livro, o espaço é pequeno e fica melhor a gente levar um quarteto. Assim, a gente chega mais próximo dos músicos e também divulga mais a banda, porque consegue chegar em eventos menores”, argumenta o músico.

A renovação da Banda 5 de Agosto não exclui os eventos tradicionais que fizeram sua fama na capital paraibana, como o desfile de 7 de setembro e as presenças na Festa das Neves e nos concertos de Natal. A agenda fica a cargo da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), e inclui participação em festas de padroeiros dos bairros e outros eventos cívicos. Os ensaios do grupo acontecem todas às terças e sextas-feiras, das 8h às 12h, no Casarão 34, Centro de João Pessoa.

Representatividade

Rogério Borges acredita que a Banda 5 de Agosto é um ponto turístico da cidade de João Pessoa, porque ela está em todos os eventos. O maestro defende que ela se torne patrimônio histórico e cultural porque o conjunto representa muito bem a capital paraibana.

“A gente tem um foco na cultura local e faz vários concertos com artistas locais tocando música nordestina”, ressalta o regente, que, por ser compositor e pesquisador da música armorial, sempre dá um jeito de incluí-la no repertório. Também não podem faltar nas apresentações o “Hino de João Pessoa” e canções como “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, e “Paraíba Joia Rara”, de Ton Oliveira.

“A característica da nossa banda, hoje, é se tornar uma banda sinfônica. Inclusive porque entraram instrumentos como flauta, oboé e fagote, que são de orquestras sinfônicas”, aposta Rogério Borges.

No horizonte dos músicos também estão melhorias das condições de trabalhos, o de uma sede própria e de um maior reconhecimento da classe no cenário pessoense. “Desejo vida longa à Banda 5 de Agosto e que sua música possa ecoar por todos os cantos da cidade”, congratula a flautista Thallyana Barbosa, por ocasião dos 60 anos do conjunto. As comemorações pela data significativa estão sendo pensadas para o fim do ano.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 4 de agosto de 2024.