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Aberta ao público a partir de hoje, em João Pessoa, exposição é a primeira da retomada das ações presenciais da Funesc

‘Claustrum’ marca volta de Flávio Tavares às galerias

publicado: 09/11/2021 08h31, última modificação: 09/11/2021 08h49
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Foto: Eduardo Tavares/Divulgação

tags: #fláviotavares , #funesc , #exposição , #claustrum , #joaopessoa

por Joel Cavalcanti

por Joel Cavalcanti*

O artista plástico Flávio Tavares se dedica em suas obras à figuração como alegoria. Ele cria em suas telas espaços imaginários que funcionam como um cenário de fantasia cheios de personagens reais. E com Claustrum, que Tavares expõe pela primeira vez na retomada das ações presenciais do projeto ‘Panapaná - Novembro das Artes Visuais’, promovido pela Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc), o pintor coloca o público como parte integrante de sua obra. Formado por cinco telas que fechadas formam um quadrilátero simulando um ambiente de enclausuramento, o conjunto forma uma obra autobiográfica com uma grande dose de ficção e com um forte tom de protesto político.

A exposição é aberta à visitação a partir de hoje na Galeria Archidy Picado, localizada no Espaço Cultural. Para ter acesso à galeria é preciso realizar um agendamento através do site agendamentos.pb.gov.br. O horário de visitação é das 8h às 12h e das 13h às 17h, de segunda a sexta. É preciso apresentar, ainda, o cartão de vacinação contra a covid-19, com pelo menos 14 dias após a primeira dose, e uso de máscara. A programação traz ainda, às 19h, uma transmissão ao vivo de um bate-papo com a presença de Flávio Tavares e da ilustradora e designer editorial paraibana Luyse Costa no canal do YouTube da Funesc.

Os quadros serão apresentados tal qual o artista realizou a pintura, mas dois lados estarão abertos para que o público possa se movimentar por dentro dele. Nesse contexto, a própria galeria com as suas dimensões diminutas e o teto mais baixo é parte da exposição. “Estou enclausurado para que tenha, verdadeiramente, todos os sentimentos claustrofóbicos deste mundo apocalíptico que estamos vivenciando. Uma das quatro partes fica aberta para que eu respire e evitar a toxicidade da tinta. Eu me comparo, às vezes, a um mecânico cheirando a óleo”, relaciona o cenógrafo, pintor e desenhista natural de João Pessoa.

“Tem uma transpiração de sobrevivência”, conta Tavares sobre as cinco telas expostas e que trazem como tema ‘Família’, ‘Infância’, ‘Juventude’ e ‘Inferno’, medindo 3m de largura por 1,7m de altura. A última parte é uma sátira ao governo federal e faz uma relação na tela que retrata o juízo final com a peste bubônica da idade média, que é atualizada para a crise sanitária da pandemia do coronavírus. “Estamos numa guerra e a gente tem que lutar com as armas que temos, como o pincel e a tinta, no meu caso. A consciência política aflorou muito e um sentido comunitário de sobrevivência, que é como uma resistência mesmo”, compara o artista de 71 anos.

O universo pictórico do artista é cercado de rememorações pessoais e estéticas. Uma foto de sua família pode ser vista na obra com seu autoretrato de quando ainda era criança, assim como de personalidades que povoam o imaginário do pintor. A trajetória de Flávio Tavares está sempre muito próxima de suas referências à História da Arte, como sua relação com o universo da antropofagia e do surrealismo, sempre visível em suas obras. Essas aproximações a artistas e movimentos que influenciam Tavares é agregado por circunstâncias bem locais de onde o pintor nasceu. Na parte da tela que traz o retrato de sua família, o artista recria a paisagem desde o Centro até a orla de João Pessoa. “Tem o Varadouro, onde se comprava todo tipo de material de construção civil, entre outros produtos, e bairro para a farra dos mais velhos e de poetas, como os do Grupo Sanhauá, que são importantíssimos e eu mesmo lia esses grandes poetas, a Lagoa do Parque Sólon de Lucena, que era o ponto de atração para quem queira se encontrar e olhar quem por lá andava, e a praia do Cabo Branco, um ponto que marcou a vida de todos”, cita.

Quem for à exposição vai poder se deparar com outras obras além dos quadros que compõem O Claustrum e que trazem mais camadas de compreensão sobre a obra e o processo de criação de Flávio Tavares. Uma delas é a apresentação de Cláudio Cardoso Paiva, que conta com um poema de Hildeberto Barbosa, professor, poeta e crítico literário que acompanha a trajetória de Tavares há mais de 40 anos. Denominado O Claustro, o poema foi desenvolvido a partir do trabalho do artista plástico.

“É uma apresentação bastante penetrante desse momento político. Ele não fica apenas na crítica de arte, mas na contextualização da política mundial que nós estamos vivendo e que leva até aquela obra”, destaca Tavares, lembrando ainda que o público terá acesso também a vídeos gravados por seu filho retratando o processo criativo do artista. “Eu abri o meu ateliê no sentido visual. Eu faço isso para desmistificar um pouco o trabalho do pintor que, por causa da clausura, fica sempre muito fechado e elitista. Como eu não tenho mais uma saúde plena para dar aulas, eu fico transmitindo a minha experiência”, afirma Tavares sobre a exposição organizada pelo presidente da Funesc, Pedro Santos, e Edilson Parra, artista visual e gerente de Artes Visuais da Fundação. O Claustrum deve ficar aberto ao público até o dia 15 de janeiro.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 09 de novembro de 2021