por Audaci Junior*
Geralmente, os caminhos para dar à luz para uma produção audiovisual na Paraíba é um verdadeiro “parto”. Depois de nascido, o filme deve dar seus primeiros passos quase reivindicando sua independência, passeando por festivais, sendo vistos em sessões especiais ou até chegar às plataformas de streaming. Da telona à telinha.
Um desses exemplos, o longa-metragem Rebento, do ator, diretor e roteirista paraibano André Morais, teve até um “intercâmbio” fora do país, abarrotando a prateleira do realizador com quase 30 prêmios pelos festivais onde passou. Hoje, às 19h, o filme ganha uma exibição especial, com direito a debate com a equipe e elenco, ficando em cartaz ao longo do mês no Cine Bangüê, do Espaço Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa.
Após cometer um crime, um mulher abandona casa e família em busca de um destino desconhecido. Não se sabe quem é ela, nem o porquê de tal crime. Ela andará durante um dia inteiro, abraçada a uma melancia, e terá breves encontros que marcarão o seu dia e a sua vida.
De acordo com o diretor, até o fechamento desta edição, foram confirmados as presenças da protagonista, Ingrid Trigueiro, e do ator Fernando Teixeira, além do diretor de fotografia, João Carlos Beltrão, e de Nina Rosa e Metilde Alves, produtoras executivas. “Vamos falar sobre a construção da parte artística, desde as primeiras ideias, escrita do roteiro, partindo para a construção dos personagens pelos atores, e do processo de elaboração da fotografia, além dos desafios de produção e distribuição”, resumiu André Morais.
O diretor revelou que será exibido, antes do longa, o seu primeiro curta-metragem: o premiado Alma, rodado em 16mm, em uma nova cópia produzida pelo projeto Arca Cinema Cloud, voltado para a restauração de obras do cinema paraibano. “Alma é também minha primeira parceria com Zezita Matos e João Carlos Beltrão, meus parceiros que também estão em Rebento. O filme completa 18 anos de seu lançamento e também teve uma história linda em festivais, tendo recebido o Prêmio de Mehor Curta no 7º Festival de Cinema Latino-Americano em Toronto no Canadá, no ano de 2005. É uma forma de saudar uma trajetória e celebrar meu encontro com Zezita e João”, justifica o cineasta.
“Rebento fez, inicialmente, uma trajetória bonita em festivais. Estreamos em janeiro de 2018 na Mostra de Cinema de Tiradentes, um dos festivais mais prestigiados do país, e depois percorremos mostras no Brasil e fora, durante 2018 e 2019, angariando 27 prêmios nacionais e internacionais. Prêmios que foram para vários setores do filme, dentre os 40 artistas paraibanos envolvidos no processo da obra”, aponta André Morais.
“Quando entraríamos em cartaz nos cinemas, seguindo a lógica mais clássica de mercado, veio a pandemia. Então reinventamos nossa trajetória, sendo 2020 e 2021 os anos em que o filme explorou as plataformas digitais e as mostras online. Agora, sinto que fechamos um ciclo com a temporada do filme no Cine Bangüê, voltando a experiência da sala escura, trazendo para o público da cidade a possibilidade da experiência cinematográfica em sua plenitude”, acrescentou o diretor e roteirista.
Nessa trajetória do filme, sobre as impressões como realizador, André Morais sente que o caminho de lançamento de um filme tem ficado cada vez mais dinâmico. “Uma produção pode ir direto para o streaming, depois seguir para a experiência da tela grande ou vice-versa. Clássicos do cinema voltando a ficar em cartaz nos cinemas, outros filmes retomando uma temporada em salas, já depois de algum tempo de seu lançamento. Acho positivo abrir a ideia da experiência da tela grande para além do lançamento do filme, embora haja um desafio imenso em conseguir ocupar as telas e levar o público para o cinema”, pondera ele. “Claro que o lançamento na sala de cinema de um filme, após percorrer festivais, é sempre algo que pode gerar um frisson, a atenção da mídia e do público de uma forma mais forte, e não perder isso é importante, mas acho bacana também subverter e recriar outros caminhos”.
Os ingressos custam R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia), com abertura da bilheteria 1h antes do evento. Rebento será exibido, além de hoje: dia 8, às 18h; dia 10, às 17h; dia 14, às 18h; dia 17, às 19h; dia 22, às 16h; e dia 30, às 17h.
‘Malaika’
André Morais está preparando seu segundo longa de ficção, Malaika, que está na fase de pré-produção. “O projeto foi aprovado no último Prêmio Walfredo Rodriguez, da Fundação Cultural de João Pessoa, além de ter sido um dos contemplados no Brasil Cine Mundi, importante evento de mercado internacional que acontece em Belo Horizonte (MG)”, frisou o cineasta.
O filme conta a história de um dia na vida de uma adolescente albina. “É uma narrativa delicada, que tem tomado minha escrita desde 2016 e que agora vamos colocar em tela. Estamos vivenciando bem todos processos de preparação, começando a fechar as locações, escolhendo equipe e elenco, para filmar em janeiro do próximo ano. Nosso desejo é trazer mais um filme digno de estar na filmografia do cinema paraibano”, finaliza André Morais.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 5 de maio de 2022