Notícias

Depois de um hiato de 10 anos, cantor e compositor Zé Ramalho lança o álbum inteiramente de inéditas ‘Ateu Psicodélico’, cujos detalhes, o artista paraibano revela para o Jornal A União

“Eu não estava morto”

publicado: 18/09/2022 00h00, última modificação: 19/09/2022 09h54
Ramalho_LeoAversa-0271.png

- Foto: Foto: Leo Aversa

tags: zé ramalho , CULTURA , ‘Ateu Psicodélico’

por Guilherme Cabral*

 

A espera acabou. Dez anos depois de lançar Sinais, Zé Ramalho apresentou, no início deste mês, nas principais plataformas de streaming, seu novo trabalho, feito inteiramente de composições inéditas. Com produção de Robertinho do Recife, Ateu Psicodélico (Discobertas/Avôhai) tem participações de nomes como o roqueiro Andreas Kisser (Sepultura) e do sanfoneiro Waldonys.

Canções como ‘A estrada de tijolos amarelos’, ‘O diagrama da alma dourada’, ‘O gosto fino das sensações’, ‘Olhar entorpecido’ e ‘Sextilhas filosóficas’ compõem o setlist de Ateu Psicodélico.

“O Ateu Psicodélico é uma fase da minha vida em que não acredito nas divindades das religiões”, relatou o cantor e compositor para o Estadão. “Todos que acreditam em alguma religião têm sua fé e a partir do momento que lhes dá esperança e conformismo, que seja! Tenho o meu direito de pensar assim, sem desmerecer nenhum culto que existe, apesar de saber que todos estão ligados a uma questão financeira”, justificou ele.

Antes do lançamento, Zé Ramalho chegou a escreveu em um breve texto sobre o trabalho, alegando que “esse disco é um manifesto, um turbilhão de imagens e vocábulos para contrastar com a música praticada atualmente no Brasil”.

O paraibano de Brejo da Cruz, em entrevista para o Jornal A União, conta sobre os detalhes do novo álbum, que teve batismo de um ex-Mutante (cuja “carta-poema” está na contracapa do disco), o que estava fazendo durante o hiato de uma década e sua relação com o selo Discobertas. Confira a seguir.


A entrevista

196925492188-cover-zoom.jpg
Temas presentes no novo disco são os que o artista de Brejo do Cruz trabalha há 45 anos: misticismo, discos voadores, cultura nordestina, repentistas e sensualidade

Qual a razão da escolha do título do novo disco que está saindo pelo selo Discobertas?

Não é só o selo Discobertas, a Avôhai Music – meu selo – é o produtor, que licencia para a Discobertas, portanto, é um trabalho conjunto. O título é Ateu Psicodélico. Colhi esse título numa postagem do genial ex-Mutante Arnaldo Baptista, comentando um dos meus discos nas redes sociais.

Quantas faixas tem o álbum e quantas são inéditas? Quais os temas das composições?

São 12 faixas, todas inéditas. Foram feitas durante a pandemia, no recolhimento do meu lar, em 2021, e concluídas durante as gravações em estúdio. O processo de composição durou dois meses. Os temas são os que eu trabalho há 45 anos: misticismo, discos voadores, cultura nordestina, repentistas e sensualidade.

Quais as novidades que esse novo trabalho deverá trazer?

As novidades podem ser todas que acabamos de falar: músicas inéditas, produção de Robertinho do Recife e participações especiais. Além do próprio Robertinho nas guitarras, o sanfoneiro e brilhante artista cearense Waldonys comparece no disco em duas faixas (‘Amanhecer tantra’ e ‘Martelo armagedon’), além do guitarrista da banda Sepultura, Andreas Kisser, que participa também de uma das faixas (‘Repentista Marvel’). No mais, são letras delirantes e como o título do disco diz: psicodélicas.

Qual a importância do novo disco? Estima-se que você não lançava um disco há uma década. Qual a razão desse hiato?

A importância deve-se à veia criativa, que todo autor precisa ter e manter. Se eu não lançava um disco de inéditas há 10 anos, não quer dizer que eu estivesse com minha criatividade encerrada. Esses 10 anos foram de reorganização da minha banda, algumas cirurgias cardíacas e a recuperação, que obviamente requer nesses casos.

A pandemia chegou a atrapalhar, de alguma forma, os trabalhos? Como tem sido o sentimento e a sensação de poder retomar o contato com o público, a partir da flexibilização atual?

Não acho que a pandemia tenha atrapalhado, já que foi graças a ela que compus as músicas. O sentimento desse retorno criativo é bom de sentir, mas acho normal também. Eu não estava morto. Voltar a fazer shows deu muita satisfação, com plateias lotadas e me dando retorno em forma de carinho e respeito pelo meu trabalho.

Há possibilidade de vir realizar o show desse novo álbum na Paraíba?

Estou sim, numa turnê gigantesca, chamada Show dos Sucessos, que todos estão querendo ver. Lamentavelmente, nenhuma empresa ou empresário da Paraíba se interessou em levar esse show para João Pessoa, apesar de eu ter feito em Campina Grande, recentemente, e no São João deste ano. Também fiz em Santa Luzia e Esperança.

Como tem sido a sua relação com a Discobertas, que tem lançado vários discos ao vivo e raridades da sua carreira?

Minha relação com a Discobertas começou no ano 2000. Relação profissional e amistosa. São vários CDs que foram editados e realizados em forma de documentos e raridades, além de boxes contendo coleções preciosas do meu arquivo. Fizemos um DVD de voz e violão que obteve muito sucesso e continua sendo comentado diariamente no meu canal oficial do YouTube.

Quais são os próximos projetos, inclusive com a Discobertas?

Eu ainda não sei. Espero que seja sempre, a relação profissional e reveladora que tenho aprimorado junto ao Marcelo Fróes, diretor do selo Discobertas.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 18 de setembro de 2022.