O mais importante festival de cinema da Paraíba chega à maturidade celebrando sua própria trajetória e reforçando a identidade construída ao longo dos anos de abrir espaço para produções audiovisuais que retratam o universo musical brasileiro. A programação da 18ª edição do Fest Aruanda foi anunciada em coletiva realizada ontem e traz já na abertura o documentário carioca Nada Será Como Antes – A Música do Clube da Esquina, de Ana Rieper, e, no encerramento, Black Rio! Black Power!, de Emílio Domingos, outro documentário musical do Rio de Janeiro. Com mais 30 filmes divididos entre sessões especiais e mostras competitivas, o evento acontece gratuitamente entre os dias 30 de novembro e 6 de dezembro no Cinépolis do Manaíra Shopping, em João Pessoa.
Entre os homenageados da edição deste ano estará a paraibana Soia Lira, que receberá um troféu pelo conjunto da obra e fará parte do júri que vai escolher o Melhor Filme na Mostra Nacional. Pacarrete (2019), de Allan Deberton, será exibido na Sessão Especial em tributo à atriz cajazeirense. Já Aruanda, filme que dá nome ao festival, vai ser novamente homenageado durante a abertura do evento. Desta vez o destaque será para os atores que integraram o curta de Linduarte Noronha, de 1960: Antônia Carneiro dos Santos e Erico Paulino Carneiro.
“Este será um dos momentos mais bonitos e emocionantes desta edição. Será uma homenagem diferenciada porque vamos trazer esses atores naturais que aparecem no filme e dão a feição que vai compor o que será chamado depois de a estética da miséria. É um filme-denúncia, mas, ao mesmo tempo, um filme com muita poesia”, afirma o produtor executivo do Fest Aruanda, Lúcio Vilar. O curta Aruanda inaugurou um novo olhar sobre o Nordeste e abriu um caminho para o cinema brasileiro, tornando-se uma referência ao documentarismo nacional na década de 1960 e sendo considerado um dos precursores do movimento Cinema Novo.
O terceiro homenageado da edição será o escritor e um dos maiores críticos de cinema do país, o paulista Inácio Araújo. Publicando seus textos há 40 anos nas páginas da Folha de S.Paulo, ele se tornou patrimônio da análise cinematográfica e referência a novas e velhas gerações. Durante o Fest Aruanda ele vai lançar ainda o livro Inácio Araujo - Olhos livres para ver, que trata sobre sua importância no cinema nacional. Mas o Fest Aruanda existe também pela competição entre os filmes atuais que, assim como nas edições anteriores, estão divididos entre os longas e curtas da Competitiva Nacional e os longas e curtas da Mostra Competitiva sob o céu nordestino.
“Alguns temas nortearam a escolha dos curadores. Nos orientamos pela identidade do festival criada em seus 18 anos”, confirma o curador Amilton Pinheiro, antes de anunciar os filmes do festival. “Existe uma diversidade temática e de produções dessa nova safra espetacular do cinema nacional. Muitos desses filmes não entram em cartaz na Paraíba e esta é uma oportunidade única de ver obras tão importantes que estão sendo produzidas levantando questões pertinentes da sociedade brasileira. O cinema que ensina o mundo a enxergar o Brasil e o cinema que ensina o Brasil a se enxergar”, complementa ele.
Os longas da competitiva nacional são: Levante, de Lillah Halla (SP); Ana, de Marcus Faustini (RJ); Othelo, o Grande, de Lucas H. Rossi dos Santos (RJ); Saudosa Maloca, de Pedro Serrano (SP); Peréio, Eu Te Odeio, de Tasso Dourado e Allan Sieber (RJ e SP); e Citroloxix, de Julia Zakia (SP). Já entre os curtas, os selecionados foram: Alvará, de Fernando Abreu (PB); Bergamota, de Hsu Chien (RJ); Emerenciana, de Larissa Nepomuceno (PR); Feira da Ladra, de Diego Migliorini (SP); José Sette Cinema Infernal, de Sávio Leite (MG); O Brilho Cega, de Carlos Mosca (PB); O Destino da Senhora Adelaide, de Breno Alvarenga e Luiza Garcia (MG); O Presente, de Ursula Marini (RJ); Pulmão de Pedra, de Torquato Joel (PB); Sereia, de Estevan de la Fuente (PR); Travessia, de Gabriel Lima (RJ); e Vão das Almas, de Edileuza Penha de Souza e Santiago Dellape (DF).
Entre os longas nordestinos estão Cervejas no Escuro, de Tiago A. Neves (PB); Memórias da Chuva de Wolney Oliveira (CE); Saudade Fez Morada Aqui Dentro, de Haroldo Borges (BA); e Sem Coração, de Nara Normande e Tião (PE). Os curtas da Mostra sob o céu nordestino são: O Orgulho Não é Junino, de Dimas Carvalho (PB); Pantera dos Olhos Dormentes, de Cristall Hannah e Ingsson Vasconcelos (PB), Para Onde Eu Vou?, de Fabi Melo (PB); Abrição de Portas, de Jaime Guimarães (PB), Flora, a Mãe do Rei, de Geóstenys de Melo Barbosa (PB); Céu, de Valtyennya Pires (PB); e Flor dos Canaviais, de Lívio Brandão e Lucas Machado (PB).
Único longa paraibano selecionado nas mostras competitivas, Cervejas no Escuro é o primeiro longa de ficção da carreira de Tiago A. Neves e o primeiro a ser rodado em Princesa Isabel, segundo o realizador. “Estou empolgado de fazer parte do Fest Aruanda deste ano. Nosso filme é uma jornada emocionante que conta a história da Paraíba sob o olhar de Edna, que é de Princesa Isabel, cidade que pulsa história da Paraíba. Ela tem o sonho de fazer um filme que conte a história desse lugar, que é a sua própria história”, define o cineasta.
A programação completa do Fest Aruanda, que acontece nos três turnos durante os sete dias do evento, pode ser conferida em detalhes através do site oficial do festival (festaruanda.com.br). Além da exibição de filmes e homenagens, haverá espaço ainda para debates, oficinas e lançamentos de livros. Tudo de graça. “Todos os anos a gente tem se pautado por essa preocupação de contemplar estéticas, mas, sobretudo, abordagens de temas candentes da sociedade brasileira, que são da ordem do dia. Todos esses filmes trazem esse vigor e a coragem de tratar desses temas espinhosos com muita beleza. Por isso eles foram selecionados”, conclui Lúcio Vilar.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 21 de novembro de 2023.