Ei, bacana: o artista paraibano Nairon Barreto, reconhecido por seu personagem mais famoso, o Zé Lezin, celebra neste mês quatro décadas de carreira. Para comemorar, ele promove, hoje, em João Pessoa, o show Zé Lezin, 40 anos de Humor: será às 19h30, no Teatro Pedra do Reino, situado no Centro de Convenções.
A data utilizada como marco da trajetória artística de Nairon foi seu começo nos “bares da vida”, cita o humorista. Mas como todo bom contador de “causos”, ele também tem uma história curiosa sobre sua estreia nos palcos profissionais, no Teatro Lima Penante, em meados dos anos 1980. Ainda sob a vigilância do Regime Militar, os textos teatrais tinham que passar por análise da Polícia Federal, mas Nairon esqueceu de encaminhar o roteiro de sua apresentação para os censores. “O show era às 20h30 ou 21h e cheguei lá por volta das 19h30. O censor estava na porta e havia riscado o texto todo, dizendo que ‘aquilo não era pra ser dito em canto nenhum no mundo’. Nunca houve o primeiro show, eu acabei começando pelo segundo”, afirma, rindo.
O bom humor e a capacidade de contar histórias vieram, literalmente, do berço. “Minha família toda é muito alegre, divertida, sempre tivemos essa verve. Papai também era contador de histórias e mamãe tirava onda com a cara de todo mundo”, explica. O contato com as artes foi estreitado na escola e, posteriormente, na faculdade. “O Liceu Paraibano, em João Pessoa, me deu oportunidades para participar de corais e grupos de dança. Como aluno da UFPB, ingressei em outro grupo de dança, este folclórico”, relembra Nairon.
Trabalhando com o ídolo
Entre uma apresentação e outra, Nairon entrava sozinho no palco para continuar entretendo o público, enquanto os colegas de grupo trocavam de figurino para o próximo número. “Eu recitava poesias matutas e trechos de literatura de cordel. E comecei a inserir também os ‘causos’. Mas tudo foi tomando um volume grande, a ponto de minhas professoras Dadá Gadelha e Dinalva França dizerem: ‘Olhe, já tá bom de você começar a fazer seu próprio trabalho’”, rememora o humorista.
A experiência com os docentes e colegas de universidade também enriqueceu seu arcabouço sobre cultura popular. “Nasci em João Pessoa, tinha pouca intimidade com a vida do sertanejo. Tudo aconteceu por meio de uma melhoria didática, de procurar estudar mais”, justifica.
O Zé Paraíba surgiu, primeiro, como personagem orientado nas pesquisas de Nairon, que inspiraram também o figurino — a camisa estampada, o chapéu de couro e o tradicional bigodinho. O sucesso aumentou, fazendo com que ele ultrapassasse as barreiras do estado. Isso precipitou a troca no nome de sua figura nos palcos — no fim dos anos 1990, ele passou a se chamar Zé Lezin, para diferenciar-se de um forrozeiro que tinha o mesmo nome.
Sua fama chegou a Chico Anysio, que o convidou para participar da Escolinha do Professor Raimundo, em 1998. “Todo mundo tem seu ídolo e o meu era Chico. Trabalhar na Escolinha foi o melhor presente que ganhei na vida. Mas não fui só ‘aluno’, acabei me tornando amigo dele. Choramos e rimos juntos em várias situações”, revela.
Com o passar do tempo, seu principal personagem foi se modificando: ele tornou-se mais “cosmopolita”, pelo contato com a cidade grande, motivo pelo qual outras figuras ganharam voz nos shows de Nairon. O humorista criou Miro, ainda provinciano, e Vicente, que está no meio do caminho entre o interior e a metrópole. Mas e o próprio intérprete — teria diferenças ou aproximações com suas “criaturas”? “A gente vai ficando velho e vai criando certas defesas. Assim como Zé, não admito mais aquela conversa mole, nem perguntas bestas. Mas isso é normal do ser humano. Apesar disso, eu tento passar por meio de Zé Lezin a alegria e o desejo de paz para todo mundo”, finaliza.
- ZÉ LEZIN
- Hoje, às 19h30.
- No Teatro Pedra do Reino (Centro de Convenções, PB-008, km 5, s/nº, Polo Turístico Cabo Branco, João Pessoa).
- Ingressos: de R$ 40 (balcão/meia) a R$ 120 (plateia A/inteira), antecipados na plataforma Outgo.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 22 de junho de 2024.