Linaldo Guedes
A ideia apareceu de forma meio despretensiosa, mas em pouco tempo A Budega Arte Café se transformou num espaço alternativo para a cultura paraibana, com boa culinária, decoração original e receptividade acolhedora dos seus proprietários. Algo assim, como na canção de Adeildo Vieira, que diz: “Companheiro, abre a porta de sua casa, enche a sala de sorriso e de suor... No jardim podem pisar na grama. Sei que não pisam na flor”. Localizada no Bancários, na rua Arthur Américo Cantalice, 197, a Budega já tem agenda de eventos confirmada até agosto e vem atraindo artistas e escritores da Paraíba e de outras partes do Brasil.
Hygia Margareth Sousa idealizou o local e é quem cuida com carinho de tudo que envolve o local. Ela conta que trabalhava no governo, fazia apaixonadamente o que gostava, mas um dia resolveu sair, “esvaziar a cabeça”. Foi num jantar descontraído com um casal de amigos que foram surgindo várias ideias de como se ocupar com o que podia fazer bem. “E as ideias fluíam, todas convergiam para a cultura. Passei um tempo amadurecendo em família com tranquilidade”, lembra.
Até que um dia foi além e motivada pela imaginação criativa sentou com a mesma amiga do jantar e numa tarde as duas tiveram uma boa conversa sobre a vocação de Hygia e como imaginava o projeto. A tarde terminou com a Budega praticamente funcionando. “Já em casa apresentei o projeto pensado e a partir do espaço que tínhamos ociosos em casa iniciamos a reforma, pensando inicialmente em uma loja de arte, mas que tivesse um cafezinho com bolo, boas conversas, algumas oficinas para movimentarmos o ambiente”, narra.
Com a reforma, o encantamento foi chegando. O nome escolhido - A Budega – foi uma homenagem a infância de Hygia e a riqueza de diversidade das budegas de antigamente. “Gosto do que passou, do que vivi. Trazer essa memória para hoje combina com resistência. O jantar foi em abril de 2015, e o chão foi se fazendo e em dezembro, dia 15, fizemos uma apresentação da A Budega Arte Café para familiares e amigos que sempre frequentaram nossa casa partilhando noites de cafés e boas conversas”, recorda.
A culinária e o espaço reformado foram testados. Muitas mãos ajudaram, a garimpagem foi feita, cada uma das peças ganharam vida. Dia 17 de dezembro, o espaço foi aberto ao público. “Ainda hoje vivemos esse movimento continuo de mudança-garimpagem-reorganização” afirma.
Com duas semanas de inauguração, um casal de jovens viu a página e foi conhecer A Budega com a vontade de alugar o espaço para realizar a celebração de seu casamento em família. “Uma surpresa que nos causou reboliço por não estar nos planos. Mas fomos amadurecendo a ideia e resolvemos alugar. Nesse meio tempo surgiu a possibilidade de um lançamento de cd e de um livro. Também levamos um susto e aceitamos o desafio. E em fevereiro/março tivemos o lançamento do cd que deu muito certo. Então, outros foram procurando e gostando do espaço descontraído, colhedor e intimista. Também em janeiro recebemos a visita de uma paraense chef de cozinha dona de um restaurante, em Porto Velho. Após comer alguns de nossos pratos e de uns papos combinamos um jantar. A noite do Pará foi um sucesso. Este foi o nosso primeiro evento”, acrescenta.
A Budega foi iniciada em família: marido, filhos e genro, cada um com uma tarefa, e ainda foi contratada uma cozinheira. Com o passar do tempo e aumento da demanda, irmãs, sobrinhas cunhados e alguns amigos foram chegando e ajudando no que podia. O funcionamento é de segunda à sexta, das 17 às 21 horas, com exceção dos dias de evento, onde estica o horário um pouco mais. O espaço, que foi projetado pela sobrinha (estudante de arquitetura), ficou pequeno e aos poucos foram sendo ampliados de acordo com a necessidade. No local, funcionam alguns projetos, como budegaria literária, sextas da música na Budega e o language café.
Segundo Hygia, todos gostam deste formato alternativo e despojado e despretensioso. “Quem chega participa se sente mais perto do artista. Existe a desconstrução do palco e plateia. O que acontece é um sentir acomodado, próximo”, comemora.
Hygia destaca que a Paraíba tem uma riqueza cultural enorme e de uma diversidade profunda. “Sempre tive o prazer de conviver com vários artistas populares, uns conhecidos outros não. Todos existindo e resistindo à falta de política cultural que os aproxime do povo. Despretensiosamente a Budega tem servido de espaço para divulgação/apresentação das diversas manifestações culturais. A música e a literatura tem estado muito presente. Nosso espaço está aberto para quem faz e quem gosta de apreciar e prosear da boa arte. Que se tenha outros espaços como este nos diversos bairros e por aí afora”, defende. No local, já se apresentaram artistas como Adeildo Vieira, Chico Limeira, Milton Dornellas e Totonho, entre outros. Escritores como Sérgio Fantini (de Minas Gerais), José Inácio Vieira (da Bahia) e Maria Valéria Rezende (Paraíba) lançaram livros na Budega.