Linaldo Guedes
Lá se vão mais de 30 anos que as pessoas que costumam passar, seja de veículo próprio, de ônibus ou a pé, pela Rua Etelvina Macedo de Mendonça, 265, na Torre, tem o hábito de ficar atento à charge colocada, com destaque, no ateliê do artista Régis Soares. São trabalhos comentando assuntos cotidianos, políticos, sociais e de comportamento da população de João Pessoa e do Brasil de uma forma geral. Régis está chegando, agora, à construção de sua charge 1.500 na rua.
Para marcar a data, pretende fazer uma charge que resuma todas as outras feitas anteriormente. Algo que remeta a todas as 1.500 criadas até então, embora ele não explique como seria. A primeira charge na rua, no entanto, ele lembra muito bem. Foi feita sobre um buraco na rua onde fica o ateliê. Na época, colocou uma placa com uma charge e os dizeres: “Assim eu não voto”. A charge caiu no gosto da população, que começou a cobrar outros trabalhos na mesma linha. Foi, então, que Régis teve a ideia de investir neste trabalho feito nas ruas de João Pessoa.
Neste tempo todo, o artista diz que só tem a agradecer a receptividade da população. “Tem muita gente que valoriza e dá os parabéns por isso”, afirma, enquanto cobra: “Já chegou o momento deste trabalho ter uma repercussão mais nacional, porque todo mundo aqui já conhece meu trabalho. Só está faltando isso numa mídia nacional. A gente só vê coisa ruim e um trabalho que já vem há bastante tempo, resistindo, merece ser reconhecido, porque não é fácil fazer esse trabalho. Não tenho recurso e nem apoio nenhum, porque venho gastando além do criativo, gastando material. Se for colocar no papel a quantidade de tinta e papel esse tempo todo é grande. Mas agora é um trabalho que já faz parte da população”.
A sua rotina diária, para a produção das charges, é ficar atento com tudo que acontece, durante a semana, o dia todo, ligado nos acontecimentos sociais e políticos. “Você tem que estar bem informado para ter o processo criativo”, ensina.
Sua vocação para a charge começou quando tinha entre oito, dez anos e trabalhava num mercadinho com o pai. “Meu pai comprava muitas revistas, principalmente a Cruzeiro. Via aqueles desenhos do Amigo da Onça. Eu achava interessante. Comecei a perceber aqueles desenhos e a gostar daquilo ali. Achava interessante. E eu já tinha também o dom de desenho. Eu começava a desenhar as pessoas, que frequentavam a mercearia de pai, e tentava fazer aquelas pessoas bem perfeitas, mas elas saiam bem engraçadas”, recorda.
Foi aí que pessoas que frequentavam o mercado, como Cláudio Limeira e Chico dos Santos, perceberam seus traços. “Eu devo muito a esse pessoal. Eles começaram a mostrar para mim o que era aquilo que eu fazia. Começaram a me dar incentivo, material... Eu ia pra casa de Chico, de Limeira, e comecei a tomar gosto. Desenho é aquilo que quanto mais você faz mais vai melhorando os traços”, comenta.
Régis busca inspiração, sobretudo, no cenário político nacional. “O prato cheio mesmo é a política brasileira. Tanta contradição... Eles mesmo que dão o mote. O lado de criação fica em cima das contradições. Eles são os verdadeiros humoristas. Às vezes quem faz a charge são eles mesmos. A gente faz apenas reproduzir”, observa. Régis reconhece que também desagradou muitas pessoas com suas charges. “Eu me sinto isolado, mas gosto do que faço. O destino me colocou nesta missão e vou até o fim. A população gosta e faço uma coisa que traz benefício no sentido de despertar o lado crítico da sociedade. Até peço desculpas. Tem gente que acha que sou contra 'a' ou 'b'. Não sou contra ninguém. Sou a favor do humor, da consciência social”, explica.
Reginaldo Soares Coutinho, nascido em 1960, é paraibano de João Pessoa. Viúvo, tem dois filhos, é chargista, cartunista e caricaturista. Iniciou a publicação de suas charges no Jornal O Momento, a partir de 1983. Publicou quatro livros: 'Charges e Caricaturas', 'Pintando o Sete e Desenhando os Outros', 'Charges na Rua' e '15 anos de Charges na Rua'. Participou de várias exposições, salões de humor, na Paraíba e em outros estados. O seu trabalho foi publicado em vários veículos da imprensa como o Pasquim, A Tribuna, O Norte, Correio da Paraíba, em jornais sindicais. Seu trabalho já foi objeto de pesquisa em mestrado da professora Francineide Fernandes de Melo.