Rua sem saída - A invenção da cidade é o título da exposição que o fotógrafo pernambucano Allan Luna vai abrir hoje, a partir das 19h, na Usina Cultural Energisa, em João Pessoa. A individual, cuja curadoria é do artista Dyógenes Chaves, reúne registros que captam aspectos como paisagens, indivíduos e praias de várias localidades, a exemplo da capital paraibana, Recife, Fortaleza e Rio de Janeiro. Realizada pelo Ministério da Cultura (Lei Rouanet), com patrocínio do Grupo Energisa e apoio do Instituto Energisa, a mostra poderá ser visitada gratuitamente pelo público, sempre de terça-feira a sábado, das 13h às 18h, até o dia 14 de outubro.
“O título da exposição remete à ideia de que a saída é a rua. Trata-se de uma brincadeira, um trocadilho para valorizar esse espaço público, porque é indo para a rua que se vai encontrar um espaço para a convivência social. A rua precisa ser mais democrática, ser menos para carros e mais humana, para os pedestres”, disse Allan Luna. Todas as fotos sem cores, captadas através do Smartphone do próprio artista. “A minha opção por registrar as imagens em preto e branco é porque permite capturar melhor a essência da coisa, sem trazer distrações para o olhar, o que acontece quando se usa as cores”, justificou ele.
- Foto: Allan Luna/Divulgação
O fotógrafo informou que a grande maioria das imagens foi produzida em João Pessoa, onde documentou o Centro Histórico da cidade, a Igreja de São Frei Pedro Gonçalves, a Ponta do Seixas, a Estação Cabo Branco, o Ponto de Cem Réis, fachadas, construções, os bairros de Mangabeira e Castelo Branco e a Praia de Jacumã, no Litoral Sul. “Nas minhas caminhadas pelas cidades registrei um pouco de tudo, mas o grande mote é a relação do ser humano com a cidade em que ele vive. Isso pode ser percebido em todas as fotos e, em algumas imagens, registro situações que costumam passar desapercebidas pelos mais apressados, como alguém caminhando na chuva, um ser humano levando uma jaca na mão e criança brincando no parque. O objetivo da minha exposição é levar o habitante a pensar numa cidade diferente, onde o ser humano tenha mais espaço”, comentou ele.
Na mostra, são 85 imagens produzidas entre 2013 e 2023. “Quando olho cada fotografia desse trabalho lembro, sobretudo, daquilo ou daqueles que não estão visíveis nas imagens. Dessa forma, Rua sem saída é uma espécie de ‘diário’, construído a partir do olhar, ou seja, um diário de visualidades”, comentou o fotógrafo, que também é professor e historiador.
Natural de Recife (PE), Allan Luna disse que para montar a exposição foi preciso, a princípio, escavar seu arquivo das reminiscências, num processo que tanto pode implicar lembranças como esquecimentos. “Estava diante de um mergulho em memórias, territorialidades e afetividades, ou seja, diante de um adentramento em uma cartografia foto-memorialística de meu caminhar sobre as ruas das cidades, ao longo dos anos. São muitas as cidades fotografadas dentro da própria cidade. Os olhares sobre ela são múltiplos, fragmentados. A rua é lugar de imensas desigualdades, lugar onde estão impactos intensos de transformações urbanas violentas e autoritárias, e é, também, lugar da poesia dos pequenos acontecimentos, ações, silêncios e gestos; lugar de momentos ignorados, invisibilizados pelo olhar apressado da sociedade contemporânea”, explicou ele.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 14 de setembro de 2023.