Notícias

música

A Paraíba no palco

publicado: 13/08/2024 08h54, última modificação: 13/08/2024 08h54
Começa hoje a nova temporada do Palco Tabajara, com shows de Filosofino e Wil Cor & Eletrocores
1 | 2
Wil Cor (na fila de cima, no meio) & Eletrocores e Filosofino levam o rap à Sala Vladimir Carvalho | Foto: Thercles Silva/Divulgação
2 | 2
Foto: Divulgação
FILOSOFINO3.jpg
Wil Cor e Eletrocores.jpg

por Daniel Abath*

O Palco Tabajara declara aberta a sua mais nova temporada de caça aos talentos paraibanos. Com direção de Marcos Thomaz e Val Donato, a primeira edição do programa deste ano estreia hoje, às 20h, na Sala Vladimir Carvalho da Usina Cultural Energisa, na capital, com transmissão pela 105,5 FM e pelo YouTube, sempre às terças-feiras, no mesmo horário. Cada dia será dedicado a duas atrações de um mesmo gênero musical e, hoje, a abertura fica por conta do hip hop, com Wil Cor & Eletrocores e Filosofino. Passarão ainda pelo programa nomes como Chico Limeira, Mira Maya, Nathalia Bellar e Polyana Resende, em apresentações até o dia 1o de outubro.

O diretor do Palco Tabajara, Marcos Thomaz, explica que o projeto existe desde 2018, constituindo-se como uma importante vitrine para a música autoral paraibana. Em sua análise, ele destaca a representatividade do projeto ao longo de sete temporadas, às quais contaram com a participação de aproximadamente 100 artistas locais. Esse número impressionante reforça o papel fundamental do Palco Tabajara na promoção da música autoral produzida no estado. “É condicionante para o artista participar do Palco Tabajara que ele tenha uma produção conceitual, original. Isso é fundamental”, destaca Marcos.

Tanto os novos artistas da Paraíba quanto os veteranos já passaram pelo Palco Tabajara. Dentre os clássicos, Marcos destaca Adeildo Vieira, Escurinho e Milton Dornellas, seguidos por Seu Pereira, enquanto intermediário, no tempo e pelos novos talentos, a exemplo do rapper paraibano Filosofino, vencedor do 7o Festival de Música da Paraíba (FMPB), e Bixarte. Ele também ressalta a sinergia existente entre o Palco Tabajara e o festival, como articuladores da manutenção da produção e divulgação de música autoral no estado.

Muito além de uma simples plataforma de exposição, o Palco Tabajara também pode ser considerado como um vetor de difusão, ao fazer reverberar a nossa música para um público mais amplo. Outro aspecto interessante é o caráter nostálgico envolvido no formato do programa, o que remete aos tradicionais programas de auditório, sem descuidar de uma roupagem moderna.

“A gente cria um conceito de ‘rádio viva’, que sai dessa coisa dos muros, de executar uma música mecanizada, casando a qualidade de composição artística com a performance, com o calor do ‘ao vivo’. E isso se traduz também no formato de transmissão, já que a gente explora o tradicional rádio, o streaming pelo YouTube, o audiovisual. Essa questão do ao vivo tem um ar de show, mas não é necessariamente um show: é um programa com apresentação ao vivo”.

Abertura premiada

Em junho deste ano, Filosofino venceu o FMPB com a canção “Quilombo groove” e diz que se sente muito realizado em participar da abertura do Palco Tabajara, já que cresceu ouvindo a rádio na oficina do pai. Desde criança o cantor e compositor Caetano dos Santos, criador do projeto multimídia Filosofino, tem uma história ainda mais próxima com a Rádio Tabajara, já que o avô dele trabalhou muito tempo por lá. Conseguir levar o rap e o hip hop ao grande público, gêneros musicais que ele identifica como desprovidos de espaço nas programações das rádios locais, é algo que lhe dá muita alegria: “A gente tem dificuldade pra estar nesses espaços e pra mim, estar lá é uma conquista”.

Quanto às expectativas para a apresentação, Caetano se mostra bastante animado. “Estamos trabalhando em um projeto há mais de um ano, um álbum, e a gente está com algumas músicas inéditas aí que a gente vai ter a oportunidade de apresentar agora nesse palco. Estamos animados pra mostrar uma coisa que já estamos produzindo há um tempo num processo de criação e de desenvolvimento que está florescendo”, revela. “Quilombo groove”, a música que rendeu o prêmio de vencedor do FMPB a Filosofino é presença certa no setlist de hoje.

Outra atração de abertura do Palco Tabajara é o cantor e compositor Wil Cor, junto com sua banda Wil Cor & Eletrocores. Wil diz estar honrado em participar da abertura do programa, ressaltando o papel desempenhado pela Rádio Tabajara, há quase um século, como um dos principais órgãos de fomento à cultura do estado. “Nesse sentido, fazer parte da história cultural da Paraíba, sendo construída a cada ano através de palco, é estar em um momento histórico”, declara.

No Palco Tabajara, Wil Cor e Eletrocores farão o lançamento oficial dos singles “Nossa Senhora Cátia de França” e “Valei-me meu guerreiro Chico César”, canções que já se encontram disponíveis nas plataformas de streaming do grupo e fazem parte do vinil a ser lançado em novembro, no Festival Música Preta Salva. “Nós estamos preparando um show especial em homenagem a Cátia e Chico. Por isso, no Palco Tabajara, já vamos fazer uma parte dele, pois o show é mais reduzido. Estamos empolgados em fazer esses lançamentos, e mostrar a pegada do show novo”, antecipa o cantor.

PALCO TABAJARA
- Shows de Filosofino e de Wil Cor & Eletrocores.
- Hoje, às 20h na Sala Vladimir Carvalho (Usina Energisa, Av. Juarez Távora, 243, Centro, João Pessoa – 3221.6343).
- Entrada franca.

Expandindo horizontes

Quanto às perspectivas futuras em relação ao Palco Tabajara, Marcos Thomaz afirma buscar incessantemente o aprimoramento do programa, quer seja na condução das entrevistas ou no aperfeiçoamento técnico das transmissões. “Acho que a gente tem uma evolução tecnológica muito grande na transmissão, cada vez buscando estar cercado do que tem de melhor, além dessa vitrine da transmissão direta”, reitera. Ele aponta ainda a importância do programa para a construção dos portfólios dos artistas, já que estes podem dispor de um material de registro e divulgação em altíssima qualidade.

“Ouçam artistas locais, ouçam artistas marginais também. Marginais no sentido de pessoas que são marginalizadas; que muitas vezes não têm condição de colocar, de projetar a sua arte no mundo. É muito fácil quando alguém produz ali na sua condição de conforto e tem a moeda pra investir e projetar sua arte no mundo. Nem todo mundo tem essa condição”, destaca Caetano, para quem a oportunidade certa faz toda a diferença.

O músico pondera que às vezes é necessário “um tiro muito certeiro” para que o artista possa conseguir aparecer. Wil Cor lança o mesmo apelo: “Valorizem a música autoral que está sendo produzida agora”. Para Caetano, não existe outra forma de fazê-lo a não ser dando atenção, escutando atentamente o que vem sendo produzido. “Porque tem muita gente boa fazendo muita coisa boa. Galera das batalhas de poesia, galera das batalhas de rima, sabe? Agora, projetar isso no mundo, ganhar a mídia é um desafio, que infelizmente a gente tem que fazer esse lembrete. Escutem a gente. Escutem o que as ruas estão falando”, finaliza Caetano. Se depender do Palco Tabajara, o som que vem das ruas será música para os ouvidos da Paraíba e do mundo.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 13 de agosto de 2024.