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A todo Vapor renovado

publicado: 13/12/2023 09h10, última modificação: 13/12/2023 09h10
Novo álbum da banda Bixiga 70 é marcado por uma renovação rítmica, cuja mudança teve a contribuição dos teclados de um paraibano
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‘Big band’ paulistana formada em 2010 que mistura ‘afrobeat’, ‘funk’ e ‘jazz’ teve também a adição do forró piseiro e eletrobrega à tradicional sonoridade do grupo graças a entrada do paraibano Pedro Regada (à esq., de cabelo rosa) - Foto: José de Holanda/Divulgação

por Joel Cavalcanti*

Bixiga 70 é uma big band paulistana formada em 2010 que mistura elementos do afrobeat, do funk e do jazz. Foi dessa forma que eles entraram em diversas listas de melhores shows do ano e que alguns de seus álbuns figuraram entre os melhores lançamentos do país. Passados 13 anos e com a mudança de alguns integrantes, foi preciso revigorar o som do grupo e um paraibano foi fundamental nesse processo. Pedro Regada é um dos novos músicos do Bixiga 70 e o responsável por adicionar com seus teclados os estilos do forró piseiro e do eletrobrega à tradicional sonoridade da banda. O resultado dessa mudança está em Vapor, álbum com sete faixas que marca a renovação rítmica do grupo.

“Houve uma mudança drástica. Teclados tradicionais e ritmos foram totalmente modificados. Não tinham nada a ver com a estratégia. Acho que uma boa parte dessa mudança é da minha responsabilidade”, confirma Pedro Regada. Quando o paraibano passou a integrar o grupo depois de ser aprovado em uma audição, não havia a perspectiva de mudança no som da big band. Também não estava previsto que ela passasse a seguir caminhos mais nordestinos. “A maioria nem tem essa ligação com a diáspora periférica brasileira. Em várias situações, eu botei certas coisas do forró e tecnobrega, e a galera disse: ‘Rapaz, isso aqui é muito forró’. Vocês contratam um nordestino, quer que faça o quê? Eu não sei tocar jazz, não. Mas aí eles foram incorporando e gostaram pra caramba. Ficaram bem felizes”.

Pedro Regada afirma que sempre foi muito fã do Bixiga 70, que desde o seu início seguia uma linha de produção com grooves tradicionais em uma referência mais na world music do que nos ritmos locais. Para ele, era preciso colocar forró eletrônico na africanidade paulistana habituada aos Hammonds e Rhodes. Para o álbum lançado no último mês de outubro, com a entrada de Regada e de parcerias com a da percussionista Simone Sou – com toda a sua carga de brasilidade –, as coisas foram mudando de figura e Vapor começou a tomar forma. O resultado é visto por todos os nove integrantes como um renascimento do grupo.

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Com o álbum lançado no último mês de outubro, e a entrada de Regada e de parcerias como a da percussionista Simone Sou, o resultado é visto por todos os outros integrantes como um renascimento do Bixiga 70 - Imagem: Glitterbeat Records/Divulgação

Mas para Pedro Regada, que há seis anos está radicado na capital paulista, o caminho não é assim tão novo. O Macumbia, grupo que ele fundou em João Pessoa, já aceitava essa proposta rítmica desde o seu início, em que sempre foi marcante a presença forte e festiva das guitarras, assumindo os tons mais carnavalescos e do carimbó. Ele também já integrou o Parahyba Ska Jazz Foundation e é um produtor muito procurado por artistas locais. Já fez trabalhos com a Sinta A Liga Crew e a cantora Mebiah. Hoje ele continua realizando parcerias com a paraense radicada na Paraíba, Lau Capym. “Ela é o futuro da Paraíba. É muito talentosa e tem uma voz absurda”, considera Regada.

Nem sempre a posição de conseguir realizar os projetos artísticos foi uma realidade para o tecladista. Pedro já foi proprietário por dois anos de um bar localizado no bairro dos Bancários, na capital, um local de ponto de encontro da cena cultural paraibana para onde convergiam muitos músicos de várias vertentes estéticas diferentes. Tudo parecia dar certo, menos com o dono do espaço. “Comecei a ficar muito triste e a entrar em depressão profunda. Porque, lógico, para uma pessoa com alma artística é muito difícil ir para o lado de administração. Via todo mundo tocando e eu não conseguia tocar”, recorda ele. Conversando com um pianista de Petrolina que havia se mudado para São Paulo ele decidiu, então, fazer o caminho tão comum a tantos outros. “Aí vendi tudo. Peguei minhas coisas e vim de ônibus para São Paulo com tudo que eu tinha. Aí começou a minha vida aqui”.

Pedro possui no momento ainda projetos com o cantor e compositor Marcelo Jeneci e com a banda Luísa e os Alquimistas, além de estar sempre disposto a subir no palco de quase todo mundo com uma proposta razoavelmente interessante de apresentação. Mas a mudança de perspectiva na música em São Paulo quem lhe deu mesmo foi a banda que ele ajudou a renovar. “Bixiga 70 foi um marco para mim, uma transformação imensa. Cada bandinha que eu tenho é uma coisa totalmente diferente, mas só que o instrumental com o metal é uma coisa que me deixa muito feliz. Foi onde essa transformação aconteceu. Mas é sempre isso, a gente aprende um pouquinho aqui e demonstra para o mundo. Essa foi uma coisa muito feliz em minha vida. Até hoje está assim”.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 13 de dezembro de 2023.