Guilherme Cabral
O pai, cujo dia se comemora hoje, é - ou deveria ser - uma das figuras mais importantes, ao lado da esposa, dentro do lar. Não é raro o fato de que, ao adotar um procedimento íntegro no modo de viver, seja alvo da admiração de quem esteja não apenas no ambiente doméstico, mas também em outras áreas, como o local de trabalho, e ainda ser capaz de influenciar - em graus diversos - quem convive com ele em casa, inclusive na escolha da profissão. Exemplo dessa situação é o cantor e compositor paraibano Adeildo Vieira, cujos dois dos três filhos - que se chamam Uaná e Rudá Barreto - decidiram seguir a carreira de músico, ao ponto de ambos, desde 2011, dividirem o palco, durante as apresentações do pai e terem participado da gravação do terceiro CD de Adeildo, intitulado África de Mim e que será lançado em show previsto para o primeiro semestre de 2017.
“Sou feliz porque não é só o fato dos meus dois filhos estarem seguindo a carreira de músico, mas fazendo isso com competência e maestria. Eles têm gosto estético apurado, agem com ética no comportamento e levam a música muito a sério, possuindo uma posição gregária, respeitando a união dos músicos e a cena cultural da Paraíba. Vejo neles a continuação dos meus ideais culturais. Eles são cidadãos decentes dentro da profissão e o pai quer que sejam honestos, ordeiros e pessoas do bem. Esses princípios valem para qualquer profissão, e não apenas para quem é músico. O meu terceiro filho, Cairé Barreto, que é irmão gêmeo de Uaná, faz Biologia em Florianópolis, onde vai defender a tese de conclusão do mestrado neste dia 31 de agosto, e não sou menos feliz porque ele escolheu outra profissão, pois ele possui os mesmos princípios dos outros dois”, confessou para o jornal A União Adeildo Vieira, que viajará para assistir a performance de Cairé, que, em seguida, iniciará o doutorado. “São três filhos encantadores, que estão em paz e felizes com o que fazem”, garantiu ele, que é natural de Itabaiana, município localizado na região da caatinga litorânea do Estado, e já lançou os discos intitulados Diário de Bordo (2000), Há Braços (2009) e África de Mim (2015).
Adeildo garantiu que não incentivou, ou sequer sugeriu, que os filhos se tornassem músicos. O músico disse que o ambiente familiar contribuiu para a decisão de ambos. A informação prestada por ele foi confirmada pelos dois filhos. “Foi tudo muito espontâneo”, lembrou Uaná, cujo nome, em tupi-guarani, significa “vagalume”. Hoje com 23 anos de idade, ele - que é professor de piano na Escola de Música Anthenor Navarro (Eman), da Funesc (Fundação Espaço Cultural da Paraíba) - contou que decidiu ser músico em 2001, quando o pai abriu uma oficina de percussão no bairro dos Bancários, em João Pessoa. Mas, até então, já vinha sendo influenciado dentro de sua própria casa, pelos parentes que são músicos, a exemplo do tio, Pádua Santos.
O irmão Rudá - que, em tupi-guarani, significa “deus do amor” - também lembrou que sua opção em ser músico se deu na mesma época da oficina ministrada pelo pai, Adeildo. “A decisão aconteceu naturalmente”, disse ele, que tem 25 anos de idade e é professor substituto de guitarra e violão no Departamento de Música da Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa, onde - a propósito - os três irmãos nasceram. Além de integrarem a banda do pai, Rudá e Uaná criaram, há três anos, o grupo instrumental Alamiré, cujo significado é “afinação dos tambores” na cultura afrobrasileira. Formado por seis componentes, todos pretendem lançar no próximo ano, sob o patrocínio do Fundo de Incentivo à Cultura (FIC) Augusto dos Anjos, do Governo da Paraíba, o primeiro CD, cujo título é A pesar com tudo, reunindo cerca de 12 músicas, todas autorais, incluindo uma do vocalista, Titá Moura.
“Papai é extremamente dedicado, humilde e me ensinou que a música pode oferecer condições para se viver honestamente, sem se deixar violentar pelas lógicas do mercado, que são muito cruéis. E, como ser humano, é uma pessoa humilde e digna”, disse Rudá Barreto, ao confessar os aspectos que o fazem admirar Adeildo Vieira. “Ele é muito companheiro e nos mostrou muitos ensinamentos da vida e da arte que foram primordiais para a nossa formação humana e artística”, elogiou o outro filho, Uaná.
Sobre a data
O Dia dos Pais foi comemorado pela primeira vez no Brasil em 16 de agosto de 1953. Quem a idealizou foi o publicitário Sylvio Bhering, à época diretor do jornal O Globo e da rádio homônima, com objetivos sociais e comerciais. No início, a tentativa era associar a data ao dia de São Joaquim, pai de Maria, mãe de Jesus Cristo, que é comemorado em 16 de agosto, no calendário litúrgico da Igreja Católica, já que a população brasileira era predominantemente constituída de católicos. No entanto, anos depois, a homenagem passou a ser prestada sempre no segundo domingo do mês de agosto, prática que permanece até hoje.