O livro 'Brasil: Almanaque de Cultura Popular' (Editora Andreato, 312 págs, R$ 49,90) é uma seleção do que melhor se publicou na revista Almanaque Brasil durante 15 anos, entre 1999 e 2014. Ao longo desse período, a equipe liderada por Elifas Andreato foi responsável pela elaboração de milhares de artigos sobre a cultura brasileira, constituindo um acervo inestimável da memória do país.
Em textos leves e saborosos, a diversidade do país ganha contornos originais. Ilustres brasileiros juntam-se a desconhecidos notáveis, a ciência divide espaço com a cultura popular, personagens do Brasil de ontem encontram-se com os do Brasil de hoje. História, causos, esportes, design, política e artes se misturam e se completam. Esta imensa força da cultura brasileira, segundo o idealizador do livro Elifas Andreato, “tem enfrentado incansavelmente o retrocesso das políticas culturais dos últimos anos, com a grande mídia priorizando entretenimento de qualidade duvidosa, fechando espaços para a boa história brasileira e seus exemplos de conquistas e saber popular”. Como uma ferramenta cultural rebelde e otimista, um “vulgarizador da memória nacional”, como lembra Elifas no prefácio, o Almanaque Brasil mirou desde sua criação as escolas, sempre reforçando para crianças e adolescentes que “o melhor do Brasil é o brasileiro” (Câmara Cascudo).
Tal qual um calendário válido para qualquer ano e composto apenas de datas marcantes, as brasilidades espalham-se de janeiro a dezembro. Não há como folhear o livro 'Brasil: Almanaque de Cultura Popular' sem se surpreender com as histórias desse país que só cabem mesmo nas páginas de um almanaque. Segundo o escritor e educador Rubem Alves, “almanaques me levam para a infância na roça, casa de pau-a-pique, fogão a lenha, casinha do lado de fora. Dizem que o povo não gosta de ler. O Almanaque Brasil contesta”. Para o cantor e compositor Gilberto Gil, ex-ministro da Cultura, “o Almanaque representa uma possibilidade de novos olhares para a sociedade e a cultura brasileiras”. E o ator Antônio Fagundes declara: “É um prazer redescobrir nossa boa história nas páginas do Almanaque Brasil. São surpresas em cada página”.
Foram 180 edições repletas de histórias sobre o Brasil e os brasileiros, misturando esporte com ciência, personagens com história, educação com sabedoria popular, abrindo espaço para que a arte de um sapateiro do Sertão tenha o mesmo valor que os mais famosos designers, assim como a literatura e as artes tenham a mesma importância que os causos do povo. Na sessão Papo-Cabeça, por exemplo, cerca de 200 personalidades mostraram do que a nação é capaz, de Fernanda Montenegro a Ariano Suassuna, de Pelé a Chico Buarque, entre eles historiadores, grafiteiros, educadores, rappers, cientistas...
O formato da publicação reverencia os antigos alfarrábios que fizeram parte da memória nacional, principalmente no interior do país, durante os séculos 19 e 20. Eles reuniam cartas enigmáticas, tabelas, informações breves, efemérides. As principais características dos antigos almanaques continuam mantidas: a diversidade de temas e a leveza da abordagem. Com textos breves, dinâmicos, pequenos quadros, brincadeiras e jogos, retrata-se a alma nacional, revelando o Brasil aos brasileiros e os brasileiros ao Brasil.
Elifas Andreato é artista gráfico e jornalista, idealizador e diretor editorial da revista Almanaque Brasil. Foi um dos criadores da revista Placar e da coleção História da Música Popular Brasileira, além dos semanários Opinião, Movimento e da revista Argumento, fundamentais no combate à ditadura militar. Nos anos 1970, iniciou o trabalho de programação visual para peças teatrais e passou a criar capas para os discos dos mais importantes nomes da MPB, tornando-se rapidamente o mais respeitado profissional da área. Foi, também, cenógrafo e diretor artístico de diversos espetáculos musicais, diretor e cenógrafo de programas televisivos e criador de inúmeros projetos culturais.
Em 2011, pelo conjunto da obra, recebeu o Prêmio Especial Vladimir Herzog, destinado a personalidades que se destacam na defesa de valores éticos e democráticos e na luta pelos direitos humanos. O reconhecimento, assim como a comenda da Ordem do Mérito Cultural, concedida em 2009, junta-se a diversos prêmios que recebeu ao longo da carreira pela contribuição ao país.