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Ana Adelaide Peixoto lança dois livros de crônicas

publicado: 31/03/2016 21h36, última modificação: 31/03/2016 21h36
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Mais paraibana que cearense, Ana Adelaide estreia no universo literário - Foto: Edson Matos

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Linaldo Guedes

Cearense, professora doutora do departamento de letras estrangeiras da Universidade Federal da Paraíba, Ana Adelaide Peixoto Tavares tem um quê de Cora Coralina. Poeta goiana, Cora Coralina também tinha Anna no nome de batismo (seu nome era Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas) e também estreou tarde na literatura, lançando seu primeiro livro aos 76 anos de idade. Ana Adelaide, hoje mais paraibana que cearense, faz hoje a sua estreia em literatura com duas obras. A autora lança os livros “Brincos, prá que te quero?” e “De paisagens e de outras tardes” a partir das 19 horas, na Fundação Casa de José Américo, em João Pessoa.

Ana começou escrevendo domesticamente, sem pretensão literária alguma. Por ocasião da perda do seu pai, fez uma crônica/homenagem e depois foi se animando. “Depois, somente após uns dez anos publicando, comecei a pensar em agrupar as crônicas. Mas aí a vida foi caminhando; fui fazer doutorado em Recife; o trabalho exigindo; e fui adiando sem compromisso. Mas confesso que há muito tempo venho trabalhando nesse livro”, relata.

Sua primeira missão foi achar os escritos! Não tinha computador (há 25 anos) e teve primeiro de procurar os textos nas gavetas! Nas pastas! Nos jornais! Nos arquivos do computador, posteriormente. Trabalho insano! “E me dava preguiça. Achando que eu tinha a vida toda para realizar esse projeto. Não tinha. Nesse espaço de tempo perdi Juca (meu marido), que me dizia: D. Ana apronte logo esse livro que eu cuido de publicá-lo! Ele tinha as articulações. Admirava minha escrita. Mas a vida não espera, e aí foi sua doença, morte, luto e depois....Até que me enchi de força para concluir. Arregacei as mangas! Estou feliz!”, comemora.

Os textos dos dois livros foram publicados ao longo desses 25 anos, em vários jornais: O Norte, Correio da Paraíba, União, Contraponto e no site wscom. “Brincos, prá que te quero?”são crônicas mais íntimas e pessoais. Fala dos pais, irmãs, filhos, amores. Das saudades, das roupas preferidas, das experiências amorosas, colegiais; dos seus vestidos e da sua calça Lee; das festas, das loucuras, entusiasmos, vertigens e abismos! E dos brincos!Em “De paisagens e de outras tardes”,fala da cidade de João Pessoa, de um bairro, de uma praça, de um passeio, de Caetano Veloso, dos recantos, do carnaval, e de alguma personalidade local. “Mas interessante é que a intimidade e a rua se misturam. Quando vi, meu quarto estava na Praça da Independência! E Tambaú na minha sala de estar!”, exulta.

Ana confessa que leu os mestres da crônica: Rubem Braga, Drummond, Paulo Mendes Campos na adolescência, mas nem de longe pensava em escrever nada. “Só redação no colégio que eu adorava. E cartas. De amor então?!”. Mais tarde, dava risada lendo Danuza Leão e seu sarcasmo; se identificava com Martha Medeiros e o cotidiano e se emocionava com a escrita de Adélia Prado. “Também lia Adriana Falcão, Antônio Prata, Maitê Proença, Antônia Pellegrino, as crônicas de gastronomia de Nina Horta. E gosto muito das mulheres jovens e seus blogs, seus pequenos textos, suas irreverências, como Clarice Falcão. Sem falar dos paraibanos mestres Gonzaga Rodrigues, Luis Augusto Crispim, Martinho Moreira Franco, André Ricardo Aguiar e Ronaldo Monte”, acrescenta.

Mais paraibana que cearense, Ana Adelaide estreia no universo literárioO gosto pela leitura começou cedo. Na infância eram os quadrinhos e fotonovela, para desespero da mãe. No ginásio os clássicos José Lins do Rego, Jorge Amado, Drummond e tinha um olho comprido para os livros de filosofia do pai.“Mas acho que só vim descobrir o prazer de ler na Universidade. Fui fazer Letras porque não dava para Medicina, Engenharia ou Direito (o que tinha na época). Era o ano de 1973 e o mais próximo de mim era Letras, mais pela Língua Inglesa do que pela literatura. Aí descobri a literatura Inglesa, Os contos de Oscar Wilde, Joyce, D. H. Lawrence, Virginia Woolf. Pelo meio fui lendo Clarice Lispectore a crítica feminista e todo o trabalho de resgate das escritoras primeiras! Acho que o mergulho nos estudos feministas me forçaram à esse prazer da leitura e também a uma maior organização/prazer no ato de ler. Na pós-graduação também fui mergulhando e descobrindo outras leituras. Mas, paradoxalmente, sou uma pessoa mais da imagem. Sou viciada em TV e amo Cinema. E adoro ler entrevista...tomara que gostem desta daqui!”.

Ana Adelaide é de uma geração que viu de um tudo. Desde da ida do homem à lua, movimento hippie, queda do muro de Berlim, ditadura, repressão, e também o de excelência nas artes: boom da música popular, movimentos como Tropicália, Bossa Nova, Jovem Guarda, e as drogas, sexo e Rock n`roll! Sobre o atual momento de crise que vive o Brasil, ela acha que isso inspira a escrever. “Aliás, hoje todos podem se manifestar, artística e politicamente. Os imbecis inclusive! Mas é o preço das oportunidades. Gosto disso. Manifesto-me como quero e posso. Uso as mídias sociais. Mas sou uma pessoa sempre em falta com os escritores. Nunca li Milton Hatoum e Guimarães Rosa só fui ler na pós-Graduação! Não tenho vergonha dizer do que não conheço. Ou sei pouco. Sou curiosa e antenada! Olho ao redor! Mas sempre com outro olhar lá longe...E não tenho a ilusão de saber muito. Pelo contrário! Sei bem o tamanho das minhas pernas!”, comenta.

Sua utopia literária? Ana provoca: “Utopia? Palavra linda mesmo! Será que entendi? O meu desejo maior?”. E arremata: “Olha, sou muito despretensiosa nesse quesito. E em outros também. Minha ambição era publicar um livro. Já vou com dois! Queria registrar as coisas de que falo e escrevo há tanto tempo. E claro, ter leitores! Me sinto grata e feliz por esta realização.E agora vi que tenho material para mais e mais. Já tenho projetos para o ano que vem! Acho bom isso. Vou fazendo, vou levando, sem maiores exigências. Agora nessa fase da vida então! Quero sombra e água fresca. Acho muita graça nas coisas pequenas e simples. E nas grandes também. Um dia por vez! Não consigo fazer planos a perder de vista. Não acho que tenhamos muito controle do que nos acontece. Vou deixando a vida me levar (feito Zeca Pagodinho). E o único luxo que me seduz é viajar. Gosto de ter comida, diversão e arte! Sou inquieta mas hoje também apaziguada, com essa vida que me há dado tanto!! Apesar das faltas, ausências e saudades”.