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Animação com os pés no Nordeste

publicado: 26/12/2023 10h00, última modificação: 26/12/2023 10h00
Conheça o Mold, estúdio especializado de João Pessoa que produz projetos como uma série animada que resgata o folclore regional
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Como nas lendas nordestinas, ‘Caçadores de Botija’ acompanha um grupo de jovens que vive no Sertão da Paraíba e vai atrás dos tesouros de pessoas mortas após um deles ter sonhos premonitórios - Foto: Mold Studio/Divulgação
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Sócios Dimitri Maia (E) e Dennis Sabino (D) - Foto: Mold Studio/Divulgação
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Cenas da série ‘Helô no Espaço’ - Foto: Mold Studio/Divulgação
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Cena da série ‘Viva Rabisco’ - Foto: Mold Studio/Divulgação
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Edição de um laboratório de animação organizado pelo Mold Studio - Foto: Mold Studio/Divulgação
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por Guilherme Cabral*

Único estúdio de animação na cidade de João Pessoa, o Mold Studio está com uma campanha permanente de financiamento coletivo, por meio da plataforma Catarse (www.catarse.me/clubemoldstudio), com o intuito de obter recursos para o desenvolvimento da sua animação mais recente, Caçadores de Botija. Trata-se de uma série com 13 episódios, cada um com 10 minutos de duração e classificação indicativa de 12 anos, ambientado no Sertão da Paraíba, que resgata a temática da lenda das botijas.

Com previsão de lançamento até 2026, por enquanto, um trailer foi lançado este ano, no TikTok, e, até o momento, já registrou mais de 25 milhões de visualizações. Em março, a série vai concorrer na edição do Premios Quirino de la Animación Ibero-americana, na Ilha de Tenerife, na Espanha.

“A repercussão do trailer foi muito grande. No Instagram, pedimos para que as pessoas sugerissem um nome para a personagem principal da série e o escolhido foi Maria Carolina. Mas, para ficar mais fácil a quem vai assistir, abreviamos para Lina”, informou Dennis Sabino, um dos proprietários da Mold Studio. “Em todas as nossas obras pedimos a participação do público para a escolha do nome dos personagens e dar dicas de histórias. É por isso que, por causa de tal prática, nosso Studio é bem reconhecido pelos demais estúdios do Brasil. Isso cria um vínculo tal ao ponto que pessoas nos perguntam quando será o lançamento”.

Para Sabino, as redes sociais são uma das principais formas de visibilidade. “A campanha de financiamento não tem prazo para encerrar, pois funciona como uma assinatura, mas já conseguimos, através da Lei Paulo Gustavo, pela Prefeitura de João Pessoa, R$ 50 mil para, principalmente, finalizar, até o final de 2024, todos os 13 roteiros da série e produzir algumas peças gráficas, como a criação dos personagens”.

A trama de Caçadores de Botija acompanha Lina, que mora na fictícia Serra Encantada, no Sertão da Paraíba. Depois de ter sonhos premonitórios, ela começa a caçar botijas – panelas de barro que contêm tesouros de pessoas mortas. Durante a empreitada, que realiza acompanhada com seus amigos João, Júlia e Beto e seu bodinho, o grupo encontra fantasmas, passa por armadilhas e se depara com locais aterrorizantes.

“A série procura, justamente, resgatar essa lenda da botija, que faz parte do folclore nordestino. A maioria das crianças fica sabendo através da oralidade, pois passa de pai para filho. Nosso objetivo é fazer com que essa lenda continue sendo lembrada, preservando essa cultura”, ressaltou Dennis Sabino.

Caçadores de Botija concorrerá à premiação na Espanha porque ganhou indicação durante o Fórum de Animação dos Países de Língua Portuguesa, que ocorreu de forma virtual nos dias 14 e 15 de setembro. Trata-se de um evento de apresentação de projetos a coprodutores e outros agentes do setor, bem como promove mesas- redondas, portfólio spotlight e programação de curtas-metragens portugueses e brasileiros.

Outra série do estúdio paraibano, Viva Rabisco, foi a primeira a ser produzida, em 2015. O lançamento, por enquanto apenas do piloto (de 13 episódios, com 20 minutos de duração cada), aconteceu em 2021. “É uma parceria com a Voice Makers, que em seu canal no YouTube tem cinco milhões de inscritos, e obteve grande repercussão nacional, e já registrou um milhão e cem mil visualizações. Compararam com o traço da Gravity Falls, animação da Disney de 2015”, comentou Dennis Sabino. “Na trama, dois jovens, sendo um traficante e o outro com perfil de herói, ganham poderes para dar vida a rabiscos, até que chega o momento em que vão se contrapor, por causa de diferença de interesses”. O projeto buscará investimentos de players, a exemplo de canais de TV e editais de fomento.

Depois, no final de 2021, surgiu a segunda produção, Helô no Espaço, série infantil com 13 episódios, cada qual com cinco minutos de duração, e destinada ao público de seis a 10 anos de idade. “É inédito e tem um teaser no YouTube, mas já tem o piloto da série, ainda não exibido. É um dos mais adiantados e, com busca de parceiros para a produção, planejamos terminá-la até 2025”.

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Sócios Dimitri Maia (E) e Dennis Sabino (D) - Foto: Mold Studio/Divulgação

Na trama, quatro personagens viajam pelo espaço, em busca de intercâmbio com outros planetas. “Helô no Espaço foi apresentado, em julho deste ano, na cidade de Bogotá, na Colômbia, em evento onde tinha várias rodadas de negócios. No mês passado, por meio de edital do Ministério da Cultura, o Mold Studio foi selecionado e participou do Mercado das Indústrias Criativas do Brasil (MICBR), em Belém, no Pará. O evento objetiva promover a cultura brasileira, nacional e internacionalmente, através do apoio dos setores criativos para consolidar empreendimentos e profissionalizar empreendedores culturais”.

O Mold Studio foi criado em 25 de janeiro de 2015 por quatro sócios, todos paraibanos, que cursavam design gráfico em uma faculdade privada, em João Pessoa. Atualmente, ela conta com dois sócios, Dennis Sabino e Dimitri Maia. “A princípio, começamos a atuar no mercado de publicidade, que na época era grande, com o estúdio numa sala no Bairro 13 de Maio.

Agora, ocupamos o térreo, onde ministramos aula para formar animadores, e o primeiro andar, onde funciona o estúdio. Mas o nosso intuito era trabalhar com entretenimento, até que veio o momento de tomarmos essa atitude e passamos à criação de patrimônio intelectual. Também trabalhamos para produzir projetos de outros autores, como filmes”, explicou Sabino.

Trabalhar na área de animação é difícil e demorado. “Em média, cada animador produz cinco segundos de animação por dia, enquanto mais animadores trabalhando fica mais caro. Falar de animação é falar de indústria, porque tem a pré-produção, produção e pós-produção, pois começa com o desenvolvimento da ideia, do roteiro, storyboard, animatic (criação dos personagens e cenários) e os riggs, que são os esqueletos para controlar os personagens”, apontou Dennis Sabino.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 26 de dezembro de 2023.