Guilherme Cabral
“José Lins do Rego terá sempre importância documental muito grande, pois ele soube retratar tão bem, em seus livros, a decadência do ciclo da cana-de-açúcar. E, literariamente, José Lins foi quem escreveu falando a linguagem do povo e procurava se identificar com os mais humildes, com os homens do povo”. Foi o que declarou para o jornal A União o escritor e jurista paulista Carlos Francisco Bandeira Lins, que hoje, durante a programação da sessão solene que a Academia Paraibana de Letras (APL), localizada no Centro da cidade de João Pessoa, realiza a partir das 18h para comemorar os seus 76 anos de fundação, lança o livro - são dois volumes - intitulado Gente do Taipu – Os Lins Cavalcanti de Albuquerque, desde remotos ancestrais medievais até a morte de José Lins do Rego, publicado pela Mídia Gráfica e Editora Ltda., que tem mais de mil páginas e, na ocasião, vai custar R$ 100. Na oportunidade, o autor também proferirá palestra sobre Zé Lins, que é o patrono da Cadeira nº 39 da instituição.
Embora tenha confessado que se sente um paraibano, embora não tenha a cidadania, Bandeira Lins disse que veio ao Estado lançar o livro aproveitando o momento em que a Paraíba lembra os 60 anos da morte do escritor José Lins do Rego, natural do Município de Pilar e que faleceu em 12 de setembro de 1957, no Rio de Janeiro. A obra - cuja ‘orelha’ é assinada pelo historiador José Octávio de Arruda Mello - é resultado de 25 anos de pesquisa que o autor realizou sobre origens da família do autor de Menino de Engenho, num trabalho que lhe rendeu muitas descobertas. Para se ter uma ideia, o que serviu como ponto de partida para o escritor empreender essa jornada foi uma simples caderneta de anotações familiares, mas que redundou em uma das mais profundas e completas investigações já feitas sobre a ancestralidade da família materna de José Lins do Rego, que se tornou um dos maiores nomes da literatura nacional.
“Zé Lins conseguiu um prodígio. Ele não precisou inventar uma família, como Dostoiévski fez com Os Irmãos Karamazov, nem como Balzac, que inventou Eugènie Grandet, ambos romances. O difícil é ter nascido no Pilar, que é um ponto de referência da literatura universal, pegar a própria família e transformá-la numa obra de primeira grandeza”, ressaltou, ainda, Bandeira Lins, para quem obras como Menino de Engenho, Doidinho, Bangüê, Moleque Ricardo, Usina e Fogo Morto, que é considerado o livro síntese da temática da cana-de-açúcar, não perecerão, porque fazem parte da história da literatura universal. “Esses romances, junto com Meus Verdes Anos, constituem um grande painel do fim de um sistema produtivo surgido nos primórdios da colonização do Brasil. E, para traçá-los, Lins do Rego voltou os olhos para sua própria família, dona de vastas extensões de terras, em que eram mantidos rudimentares engenhos de bangüê”, disse ele.
José Lins Cavalcanti de Albuquerque, apelidado Num e trisavô de Zé Lins, é a figura central - e fio condutor - da obra que Bandeira Lins lança hoje, na APL. Por intermédio da consulta à pequena caderneta, o escritor chegou a nomes que Borges da Fonseca menciona na obra Nobiliarquia Pernambucana, e depois aos apontados na linhagem dos portugueses, desde o que foi registrado por D. Pedro Afonso, Duque de Barcelos, autor do célebre Livro de Linhagens, do século XIV, passando pelo madeirense Henrique Henrique de Noronha, com seu Nobiliário da Ilha da Madeira, até chegar a genealogistas contemporâneos. Ele destacou o maior cuidado que teve no estudo da família portuguesa dos Albuquerque e de duas famílias não portuguesas, os Cavalcanti, de Florença, e os Lins, das cidades de Ulm e Augsburg, na atual Alemanha. “São esses os nomes que vieram a se combinar no de José Lins Cavalcanti de Albuquerque, o chamado Num”, justificou ele, acrescentando que Gente de Taipu possui informações e dados históricos do Brasil e de Portugal úteis aos estudiosos da literatura brasileira, da língua e de etnologia, das ciências políticas, da religião, da antropologia e da economia, além da implantação da cultura canavieira e do ciclo dos engenhos e do açúcar nos estados da Paraíba e Pernambuco.