Notícias

artes visuais

Arte naïf ocupa o Hotel Globo

publicado: 19/12/2025 08h56, última modificação: 19/12/2025 08h56
Festival realizado em Guarabira traz as obras de sua sexta edição para exposição em João Pessoa
Obra 02.jpg

Imagens: Divulgação

por Esmejoano Lincol*

A expressão francesa naïf, que define a produção plástica e visual caracterizada por cores e traços marcantes, significa, em tradução literal para o português, “ingênuo”, ou “inocente”. O vocábulo tentava atomizar, no início do século 19, a impressão que se tinha daquelas obras de arte, dotadas de um jeito mais simples em comparação a outros estilos. Reunindo nomes contemporâneos desse segmento, o Festival Internacional de Arte Naïf (Fian) traz sua sexta edição para João Pessoa. A mostra será inaugurada hoje, às 16h, durante mais uma edição do projeto cultural Sol Maior, da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope). Como de costume, o evento, aberto ao público, ocorrerá no Hotel Globo, situado no Varadouro. 

A abertura do festival contará com uma apresentação musical do Camerata Parahyba, sob a regência do violinista Rucker Bezerra. Após essa vernissagem, o público poderá conferir o catálogo do festival até o dia 30 de janeiro de 2026, no horário de visitação do local — diariamente, das 8h às 17h. O Fian chega à capital com 96 obras, de artistas nacionais e internacionais. As técnicas não se resumem apenas à tinta sobre tela: além da pintura, também há elementos xilogravura, bordados e outras aplicações têxteis. 

Obras de Con Silva estão entre os trabalhos que começam a ser expostos hoje, no projeto Sol Maior, às 16h

Antes de marcar presença em João Pessoa pela primeira vez, o festival circulou por Penápolis (SP), Fortaleza (CE) e Brasília (DF). Mas as edições iniciais tiveram como palcos cidades do Sertão e do Agreste paraibanos, a exemplo de Guarabira.

“A cena naïf nessa cidade é muito forte, sempre tivemos bons artistas de repercussão, como nos casos do mestre Clóvis Junior, Madriano Basílio e Marby Silva, Joilson Pontes e Márcio Bezerril só para citar alguns”, aponta o idealizador Adriano Dias.

Além de Clóvis e Joilson, outros conterrâneos integram o catálogo do Fian. Participam Analice Uchôa, Célia Gondim, Gildo Xavier, Lucas Silva e mais. Comentando o estilo paraibano da arte naïf, Adriano assevera o destaque que as obras têm alcançado dentro e fora do Brasil tem fomentado novos adeptos.

“Mantemos a essência do movimento, o direito de se expressar, de ser irreverente, fazer do seu jeito: o compromisso maior é com a expressão. Nesse universo, cada artista acaba tendo a sua identidade”, sustenta. 

Obra de Ivone Mendes

Com cerca de quatro décadas de carreira nas visualidades, o  idealizador também tem sua contribuição para a cena naïf. “Tive a oportunidade de conhecer e conviver com o mestre Alexandre Filho, que morou em Guarabira na década de 1980 e que, desde então, tem influenciado gerações”, recorda. Ele mesmo cita colegas contemporâneos que fazem coro a uma geração mais nova de artistas: “Luiz Tamanduá, Tito Lobo, Letícia Lucena, Baba Santana, Geo Oliveira, Dada Venceslau, dentre tantos”.

Para Adriano Dias, a relevância do Fian repousa na oportunidade de difundir tantos trabalhos naïf e de, por conseguinte, quebrar os preconceitos e a resistência em torno do estilo — disputado quanto à sua repercussão crítica.

“Poder realizar um festival de arte naïf, dessa envergadura, em solo paraibano, nos projeta na cena internacional. O apoio recebido pela Caixa Residencial, através da Lei Rouanet, foi de fundamental importância para circularmos pelo Brasil e para continuarmos atuando a nível nacional”, conclui. 

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 19 de dezembro de 2025.