Notícias

Artes Visuais

Artes na Beira da Linha

publicado: 11/01/2024 09h25, última modificação: 11/01/2024 09h25
Hoje, no Centro Histórico de João Pessoa, serão abertas as exposições ‘Plantar é um ato político’, de Debora Santiago, e ‘Rave rupestre’, de Sidney Azevedo
1 | 5
Paranaense Débora Santiago apresenta desenhos em aquarela com frases que trazem a discussão da agroecologia, do plantio de alimentos sem uso de veneno e do cuidado ao meio ambiente - Foto: Galeria Ybakatu/Divulgação
2 | 5
Imagem: Sidney Azevedo/Divulgação
3 | 5
Imagem: Sidney Azevedo/Divulgação
4 | 5
Imagem: Sidney Azevedo/Divulgação
5 | 5
Série de pinturas a óleo do paraibano Sidney Azevedo apresenta uma perspectiva onírica e psicodélica, em que vários desenhos de feições rupestres parecem surgir na tela a cada momento em que o visitante dispensa para a sua observação - Foto: Adriano Franco/Divulgação
Debora Santiago - Ybakatu.jpg
Pintura à óleo de Sidney Azevedo - detalhe.jpg
Pintura à óleo de Sidney Azevedo 2.jpg
Pintura à óleo de Sidney Azevedo.jpeg
Sidney Azevedo - Adriano Franco.jpg

por Joel Cavalcanti*

Duas exposições de artistas contemporâneos abrem, hoje, a programação da Beira da Linha Residência Artística deste ano. Plantar é um ato político, da paranaense Débora Santiago, conta com oito desenhos em aquarela com frases que trazem a discussão da agroecologia, do plantio de alimentos sem uso de veneno e do cuidado ao meio ambiente. Já Rave rupestre reúne uma série de sete pinturas a óleo de Sidney Azevedo, professor e crítico de arte que desenvolve seu trabalho através de uma busca pela ancestralidade, remetendo às criações que expressavam suas pulsões na pedra. Com entrada gratuita, a abertura do evento começa às 16h20 no casarão de número 109, localizado na Praça 15 de Novembro, Centro Histórico de João Pessoa.

Foi através do cuidado envolvido no trato com as plantas e animais que a acepção do termo da agricultura se expandiu e chegou a abranger o intelecto humano e a criação de obras de arte, definido-se hoje apenas com o que chamamos de cultura. A arte rupestre, por sua vez, fornece uma janela única para os primórdios da expressão artística humana. Ela forma um dos vestígios mais antigos de produção de arte pelos seres humanos. Atravessada por interpretações próprias de nosso tempo, as duas exposições inauguradas na tarde de hoje fazem um diálogo improvável entre as duas naturezas seminais da criatividade humana.

Sidney Azevedo - Adriano Franco.jpg
Série de pinturas a óleo do paraibano Sidney Azevedo apresenta uma perspectiva onírica e psicodélica, em que vários desenhos de feições rupestres parecem surgir na tela a cada momento em que o visitante dispensa para a sua observação - Foto: Adriano Franco/Divulgação

“São dois trabalhos distintos, duas temáticas distintas, são técnicas diferentes, mas como são artistas residentes, a gente combinou uma agenda possível das duas exposições”, explica Stenio Soares, curador das mostras e diretor artístico da Casa Beira da Linha.

Sobre Plantar é um ato político, ele destaca que as obras de Santiago buscam provocar um processo de conscientização para que as pessoas que vivem principalmente nos centros urbanos passem a perceber a comida e os seus manejos de plantio como uma expressão de nossa cultura. “Muitos dos sistemas alimentares, que dizem respeito a todos os processos relacionados à alimentação, da produção ao consumo, estão profundamente interligados com a mudança e degradação ecológica”, afirma Soares. “Consumir alimentos agroecológicos, para as pessoas que estão conseguindo se alimentar hoje no Brasil, faz parte de uma escolha que interfere nos sistemas alimentares. Produzir alimento saudável também tem sido uma escolha política dos movimentos sociais que lutam pela terra. É o entendimento de um cuidado a todo sistema de produção”.

Plantar é um ato político também propõe um diálogo direto com a sociedade por meio de uma oficina que será realizada a partir de amanhã (12) até o dia 18, junto às mulheres da comunidade quilombola Paratibe.

Já Sidney Azevedo apresenta um trabalho no qual ele vem se aprofundando desde o período da pandemia para criar obras que trazem uma perspectiva onírica e psicodélica, em que vários desenhos de feições rupestres parecem surgir na tela a cada momento em que o visitante dispensa para a sua observação.

“Sidney é um dos mais interessantes pintores hiperrealistas de João Pessoa, e de 2021 para cá, ele começou a experimentar essas pinturas com um imaginário relacionado à ancestralidade. Fala muito da pedra atávica, que é essa que remete a produção dos ancestrais em pedras vivas. Esse artista que já tem uma intimidade com a pintura a óleo e com o hiperrealismo, agora desloca a sua temática visual e também altera um pouco seu plano pictórico. Não nomearia nenhum tipo de tendência, nenhum tipo de escola. Acho que seria muito pobre para o trabalho dele. O que ele faz é um exercício excelente do uso da tinta em tons mais ácidos e o quanto isso pode ser revelador aos olhares com novas luzes, com novas iluminações que a tela vai ter”, analisa o curador.

Novo espaço

Pintura à óleo de Sidney Azevedo 2.jpg
Imagem: Sidney Azevedo/Divulgação

Inaugurada em outubro do ano passado, a Beira da Linha Residência Artística é um projeto do paraibano Stenio Soares que era para ter nascido na Alemanha, onde ele era professor visitante na Universidade de Bayreuth. Com o convite para ingressar no Ministério da Cultura, ele resolveu adaptar a proposta e deslocar a proposta para o Centro Histórico de João Pessoa. “A ideia é que a casa possa acolher projetos de artistas que estão andando no circuito, que já têm o seu trabalho em desenvolvimento, e que possam acolher esses projetos no sentido deles terem uma nova roupagem, um desenvolvimento nesse espaço”, esclarece Soares.

Por enquanto, a gestão do local e a manutenção financeira de suas operações é individual, mas os planos é que uma associação de artistas e produtores culturais possa assumir a coordenação das atividades. “A ideia é que anualmente um artista curador assuma a direção artística da casa. Nesse primeiro ano, como o projeto está iniciando, estou assumindo o papel de artista curador. Então faço o convite aos artistas e elaboro uma programação que entre em diálogo com o que está em produção e em exposição na casa. O suporte financeiro ainda sou eu, então estou entrando como artista e mercena”.

As exposições Plantar é um ato político e Rave rupestre permanecem em cartaz até 8 de março, de segunda-feira a sábado, das 10h às 18h. A abertura contará ainda com o som dos músicos Fievel, Samuca e Iuri, do Coletivo Kola.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 11 de janeiro de 2024.