Guilherme Cabral
Intervalo é o título da primeira exposição que a artista visual paulista Marília Scarabello realiza na Paraíba. A abertura da individual - que reúne uma série de oito imagens fotográficas digitais - acontece nesta quinta feira (10), a partir das 19h, na Galeria de Arte Archidy Picado, instalada nas dependências do Espaço Cultural José Lins do Rego, localizado na cidade de João Pessoa. A mostra - a segunda selecionada por meio do Edital de Ocupação da instituição - permanecerá aberta para a visitação gratuita do público até 17 de junho.
“É normal que os artistas se inscrevam em editais abertos em outros estados do país. Essa é uma maneira que encontram para a circulação dos seus trabalhos e para a construção do currículo. Quanto mais um artista se inscreve para realizar exposições por meio de editais, mais esses editais referendam a obra dele”, disse para o jornal A União o coordenador de Artes Plásticas da Funesc (Fundação Espaço Cultural da Paraíba), Edilson Parra, ao justificar o interesse da paulista Marília Scarabello vir expor na cidade de João Pessoa. “Eu participei da comissão de seleção dos editais e se percebeu que Marília realiza um trabalho muito consistente, com diversas camadas. Ela fez fotos e construções simples e, no mesmo dia, quando foi no cartório, constatou que esse imóvel não mais consta registrado nessa condição. Diante disso, em cada imagem, ela escreveu no sistema Braille, que normalmente é lido por deficientes visuais, as informações que não mais correspondem ao que se vê na foto. É um tipo de verdade, mas que não coincide com o que está registrado”, acrescentou ele.
A exposição Intervalo é composta por oito fotografias digitais de imóveis particulares, que Marília Scarabello captou por um telefone celular. Posteriormente, ela inseriu as datas de quando foram realizadas, impressas em papel para escrita Braille, grafadas nessa mesma escrita sobreposta a elas. As imagens são apresentadas sobre suportes de madeira levemente inclinados, posicionados na altura das mãos do observador, no intuito de que possam ser tocadas. Cada fotografia com o apoio caracteriza-se como uma peça do trabalho e recebe um título diferente.
“Intervalo surgiu da constatação de um erro e da consequente busca por um reparo possível. Ao cruzar a certidão autenticada de propriedade atual de um imóvel com a sua situação in loco a partir de um registro fotográfico recente, constatou-se que havia um lapso de tempo entre as duas situações: o documento oficial descrevia algo que não havia mais ali: uma casa de moradia.
Para regularizar a situação daquele imóvel nos órgãos públicos seria necessário demolir a casa, isto é, demolir a casa no papel, demolir a casa existente que não mais existe. Só então o imóvel se tornaria o que também é: uma ruína”, afirma Marília Scarabello no texto que assina para apresentar essa sua individual.