Notícias

Artista plástica ressalta, em trabalho acadêmico, a importância do jornal impresso

publicado: 21/08/2016 00h05, última modificação: 20/08/2016 10h50
Sayonara Brasil.jpg

Sayonara Brasil afirma que o jornal deveria ser mais utilizado para fins acadêmicos e para análise científico-cultural - Foto: Edson Matos

tags: Sayonara Brasil


Guilherme Cabral

A importância do jornal para a educação do olhar em artes é o título do Trabalho de Conclusão de Curso de Metodologia do Ensino de Artes elaborado, sob a orientação do professor Sidney Barbosa, pela artista plástica baiana - radicada na Paraíba desde 1991 - Sayonara Brasil, com o qual encerrou sua atividade acadêmica no primeiro semestre de 2016 no Uninter - Centro Universitário Internacional, Polo Epitácio em João Pessoa, cuja gestora é a mineira Cristina Porcaro. “Sou a favor da continuidade do jornal impresso pois, além de noticiar, atende às necessidades de informação e formação da comunidade. Não podemos destruir um meio de comunicação com base na produtividade. Se tem algum bem ou mal no jornal isso está no próprio capitalismo existente na sociedade”, defendeu, durante entrevista para A União, a artista, cujo trabalho foca mais as áreas artística e educacional e já utilizou - de maneira prática, na Escola Municipal Nazinha Barbosa, localizada no bairro de Manaíra, na capital - o jornal como suporte para suas obras.

“Quando uma pessoa lê o jornal impresso ela pode demonstrar reações diversas, pois pode rir, chorar e questionar”, comentou Sayonara Brasil. “Esse meu trabalho propõe esclarecer a importância do uso experimental do jornal em sala de aula para educação do olhar na área de artes, analisando-o em seu contexto histórico, semiológico, científico e cultural de vanguarda, como também mostrar imagens de experiências criativas vividas no ambiente escolar”, disse ela, que, para tanto, recorreu, para elaborar seu TCC, ao pensamento histórico social. “Enfatizei qualidades múltiplas deste tipo de ferramenta, que possibilita construção diferenciada, dialógica, ampliada e transdisciplinar”, prosseguiu a artista, que é contra o processo de extinção dos jornais impressos e cujo objetivo, com esse trabalho, foi o de “potencializar o conceito educativo da comunicação e vivência plural em uma sociedade capitalista”.

Sayonara tem uma opinião formada a respeito do veículo impresso. “Penso que o jornal possa ser grande aliado na descoberta de potencial crítico e criativo, porque o manuseio deste instrumento de comunicação versátil, biodegradável, alternativo, sozinho ou em conjunto, proporciona descobertas que levam o educando a perguntas e respostas, questões que estão mensuradas no tempo e no espaço do outro e de si mesmo. Portanto, podemos apresentar o jornal como instrumento que cria situações diferenciadas, tornando um aliado para os fins acadêmicos, de análise científico-cultural. Um desafio constante de aproveitamento enquanto ferramenta pedagógica”, ressaltou ela, embora não deixe de reconhecer uma publicação descartável, apesar de relevante por seu caráter informativo.

“É fato que uma boa parte da sociedade encara as notícias, nos dias seguintes, como desatualizadas e muitas pessoas não sabem o que fazer com os jornais adquiridos no dia anterior”, observou ela. No entanto”, prosseguiu a artista, “em caso de pesquisa científica, o jornal tem um tempo maior de aproveitamento. Mesmo assim, a comunidade escolar do Ensino Fundamental do local onde tenho residência há mais de 20 anos não tem acesso sistematizado, um projeto único, voltado ao trabalho de formação de hábito de leitura de imagens, de análise crítica do olhar, dos avanços tecnológicos, da composição artística e profissional, do uso psicomotor a partir deste material. Acredito que um montante utilizado pelo público consumidor, dentro da sociedade em geral, não é direcionado para o meio escolar, a não ser em caso de refugo. Essa atitude torna-se inconcebível enquanto matéria prima intelectual”, lamentou. “O jornal pode ser apresentado como instrumento que cria situações diferenciadas, tornando-se um aliado para os fins acadêmicos, de análise científico-cultural. Um desafio constante de aproveitamento enquanto ferramenta pedagógica”, defendeu ela.

Sayonara fez questão de ressaltar a importância desse tradicional meio de comunicação. “O jornal está atrelado à sociedade como símbolo cultural, pois ele favorece a assimilação de informações, promove a comunicação e cria ambiente propício à civilidade e historicidade. Gera centros de interesses. Estimula atividades relacionadas à coordenação motora. Amplia a percepção do movimento e textura. Enriquece a acuidade visual e auditiva, caminha em direção à promoção da criatividade, promovendo a interatividade. É um suporte facilitador enquanto produto utilitário, artesanal e decorativo. Contribui para a liberdade de expressão. Proporciona questionamentos enquanto matéria-prima de transformação renovável”, disse ela.

“Infelizmente, em muitas situações escolares, o livro didático acaba realizando todo o planejamento do professor, fazendo com que ele se transforme em uma “amarra” do processo pedagógico. É claro que existem excelentes livros, mas também existem os ruins. Temos de nos preocupar com essa questão, pois grande parcela da população escolar brasileira tem somente acesso a esse tipo de livro, não frequentando bibliotecas ou comprando outros tipos de livros. Isso requer da escola um trabalho maior de escolha dos melhores livros para que o trabalho pedagógico seja enriquecido com mais esse material”, observou Sayonara, que defende a ideia de que o professor encontre espaço para modificar seu cotidiano em sala de aula, não deixando de utilizar obras didáticas, mas também se valendo de materiais alternativos, como o próprio jornal impresso, para estabelecer maior interação com os alunos e, assim, melhorar sua ação educativa. “Tomar os jornais como fonte artística educativa implica em ampliar os horizontes para além da educação escolar ou instituição escolar, pois é evidente que a imprensa tem seu lugar na educação da sociedade”, disse ela.