Guilherme Cabral
Criador de personagens agora clássicos da história em quadrinhos (HQ) no Brasil, a exemplo de O Menino Maluquinho e A Turma do Pererê, o cartunista mineiro Ziraldo completará 85 anos de idade na próxima terça-feira (24). “É um processo demorado, mas tomei um susto. Faz parte da vida, principalmente quando se tem saúde e ânimo. A saúde está boa e o ânimo não diminuiu e continuo trabalhando”, confessou o artista, durante entrevista exclusiva, concedida por telefone, para o jornal A União. Ele já sabe como vai comemorar a data, antecipando que a celebração será com um jantar com amigos.
Apesar da idade, Ziraldo garantiu que não pretende parar de criar. “Estou terminando a série de livros Os Meninos do Espaço e começando outra série, uma coleção sobre 12 meninos, com uma obra a cada ano, a qual pode me garantir trabalhando por mais 12 anos”, informou ele, que também continua viajando para participar de eventos. “Aposentadoria é o maior inimigo do homem. O homem foi feito para produzir sempre. Sou contra”, disse o artista.
Ziraldo está ciente do importante papel que a arte do desenho cumpre na sociedade, seja no Brasil ou em outros países. Nesse sentido, ele lamentou, por exemplo, o atentado terrorista que, cometido em janeiro de 2015, no escritório do jornal satírico Charlie Hebdo, instalado na cidade de Paris, capital da França, em virtude da publicação de uma caricatura do profeta Maomé, causou a morte de vários funcionários. “O cartunista Wolinski era meu amigo. Eu me encontrava com ele quando ia a Paris”, disse ele, referindo-se a uma das vítimas da ação, mas acrescentou que também conhecia os outros cartunistas que faleceram no mesmo local.
O artista mineiro esclareceu que a charge é um estilo de ilustração, cuja finalidade é satirizar, por meio de uma caricatura, algum acontecimento da atualidade, com um ou mais personagens envolvidos. "É uma anedota para criticar temas como a política. É mais direta”, comentou Ziraldo. “O cartum é um desenho com sentimento humano, mas, no Brasil, está acabando, pois está meio escasso”, prosseguiu. E indagado sobre o que estaria levando a essa situação, respondeu o seguinte: "É por causa do mundo que está mudando muito. É como aconteceu com os cinemas. Hoje, não existem mais cinemas de rua, mas só nos shoppings”.
Um dos fundadores, com outros humoristas, de O Pasquim - tabloide alternativo de periodicidade semanal que se destacava por sua linha editorial de combate à ditadura militar no Brasil e circulou de 1969 a 1991 -, Ziraldo confessou que ainda tem apreço pelo meio de comunicação impresso. “O jornal é mais humano e tem mais força do que a internet. O inimigo do jornalista é a comunicação digital. Com a notícia publicada no jornal você mexe com a cabeça do público. Se alguém não lê não sabe o que está acontecendo. Pelo jornal você sabe o que está acontecendo e o texto fica gravado de forma permanente. É uma comunicação escrita que se pode ler e guardar e reler para ajudar na formação de opinião. Por isso acho que o livro e o jornal vão sobreviver”, disse ele.