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Artistas lamentam a morte de D. Ivone Lara

publicado: 18/04/2018 00h05, última modificação: 18/04/2018 05h08
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Nascida Yvonne Lara da Costa, que ficou mais conhecida como Dona Ivone Lara era conhecida como ‘Rainha do Samba de Raiz’ e ‘Grande Dama do Samba’ - Foto: Divulgação

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Guilherme Cabral 

Jãmarrí Nogueira

“O samba está de luto. O Brasil perdeu a Dama do Samba. Ela influenciou - e muito - mulheres a serem sambistas, a exemplo de Beth Carvalho e Leci Brandão. E deixou um legado que é a sua obra musical, que inclui vários sambas clássicos, além do próprio neto, André de Lara, que toca cavaquinho e a acompanhava nos shows”. A declaração, em tom de lamento, foi dita para o jornal A União pelo sambista paraibano Preto Netto, ao se referir à morte, aos 97 anos de idade, na noite da última segunda-feira (16), no Rio de Janeiro, da sambista carioca Dona Ivone Lara, cujo corpo foi velado na quadra da agremiação do seu coração, a Escola de Samba Império Serrano, no bairro de Madureira, e sepultado no Cemitério de Inhaúma. “Dona Ivone Lara é uma das figuras mais emblemáticas do samba e, sendo mulher, ainda tinha uma força extraordinária. Ela era compositora, cantora e acredito que a obra dela vai se perpetuar. Deixou um legado gigantesco”, afirmou a sambista Polyana Resende. “É uma grande perda. Quando ela chegar no Céu vai cantar o seguinte: ‘Foram me chamar, eu estou aqui, o que é que há?’. O Samba está de luto”, disse, também, o sambista paulista - radicado na Paraíba há 29 anos - Mirandinha, ao falar sobre o falecimento da artista que ainda era conhecida como “Rainha do Samba”.

Preto Netto, que teve a oportunidade de assistir a um show ao vivo de Dona Ivone Lara em Pernambuco, admitiu que se espelhou na arte da agora saudosa cantora e compositora. “Ela influenciou no meu canto, pois a voz dela era clara, com afinação e perfeita, embora tenha sido uma artista autodidata”, disse o sambista, cujo avô, Augusto Coto, foi um dos fundadores da Escola de Samba Malandros do Morro, cuja sede se localiza na cidade de João Pessoa. “Ela está no patamar de outros sambistas, como Noel Rosa e Cartola, compositora de sambas como ‘Sonho meu’, em parceria com Délcio Carvalho”, concluiu o músico.

“Muita gente boa está indo embora, como já foram os sambistas João Nogueira e Cartola e, agora, a Dona Ivone Lara, mas ficando outra gente boa, só que não está aparecendo, porque a mídia não está dando oportunidade. Ela agora se foi e nos resta rezar para que possa nos dar inspiração para continuar fazendo coisas boas”, comentou, ainda, o sambista Mirandinha.

Conhecida, em âmbito nacional, como “Rainha do Samba” e “Grande Dama do Samba”, Yvonne Lara da Costa - nome de batismo da cantora e compositora Dona Ivone Lara - estava internada, por causa de um quadro clínico de anemia, desde a última sexta-feira (13),  no Centro de Tratamento e Terapia Intensiva (CTI) da Coordenação de Emergência Regional (CER), localizada no bairro do Leblon (RJ). Ela nasceu no dia 13 de abril de 1921, no Rio de Janeiro, e, aos 12 anos de idade, compôs seu primeiro samba, intitulado ‘Tiê, tiê’, provavelmente inspirada no pássaro da espécie Tiê que havia ganhado dos seus primos. O tio, Dionísio Bento da Silva, foi quem a ensinou a tocar cavaquinho.

Em 1945, Dona Ivone Lara começou a frequentar sua primeira escola de samba, a Prazer da Serrinha, agremiação para a qual compôs sambas que eram assinados pelo seu primo, chamado Fuleiro, por causa do preconceito contra as mulheres que existia na época. Duas décadas depois, ou seja, em 1965, ela ingressou na Império Serrano. Em 1974, gravou seu primeiro disco, cujo título é ‘Samba minha verdade, samba minha raiz’. A “Grande Dama do Samba” também foi enfermeira e assistente social e, ao se aposentar em 1977, depois de trabalhar com pacientes portadores de doença mental, passou a se dedicar em tempo integral à música. E, entre suas composições mais conhecidas, estão Sonho meu e Acreditar, ambas em parceria com Délcio Carvalho.