Guilherme Cabral
"Tive o privilégio de trabalhar com Cauby no final da década de 90, quando eu e o violinista André Correia fomos convidados para abrir um show dele em Maceió (AL). Tive o privilégio de conhecê-lo: era um homem muito respeitoso com todos, inclusive com aqueles que com ele trabalhavam. Era um gentleman. Depois da perda da voz de Elis Regina, para mim, é a maior das vozes brasileiras. Elis e Cauby são insubstituíveis”, confessou para o jornal A União o cantor e compositor Erick Von Sohsten, ao lamentar a morte por pneumonia, ocorrida na noite do último domingo (15), em São Paulo, do cantor Cauby Peixoto, que tinha 85 anos de idade e foi um dos principais nomes da era de ouro do rádio. “Considero Cauby um marco da interpretação. Foi uma grande perda para a música popular brasileira”, disse o intérprete Paulo Brasil. “Cauby é o maior cantor e intérprete do Brasil, indiscutivelmente, e um dos maiores do mundo. Esse, sim, vai deixar uma lacuna muito grande. Ele não fica a dever nada a outros grandes cantores, a exemplo de Frank Sinatra e Nat King Cole”, garantiu o crítico musical - que também é paraibano - Ricardo Anísio.
Erick Von Sohsten considerou “uma tragédia” o falecimento de Cauby Peixoto, considerado pela crítica - em âmbito nacional - um dos maiores cantores da música brasileira e que estava, desde o dia 9 de maio, internado no Hospital Sancta Maggiore, localizado no Itaim Bibi, na Zona Sul da capital paulista. Aberto ao público, o velório do corpo do artista começou às 8h, no Salão Nobre da Assembleia Legislativa do Estado, e o enterro ocorreu no final da tarde, no Cemitério Congonhas, em São Paulo.
“Cauby é uma escola viva de interpretação, pois criou um estilo próprio. Eu o considero o nosso Frank Sinatra. Sua morte representa mais uma perda na verdadeira música popular brasileira. Cauby valorizava a interpretação e os arranjos numa época em que não havia recursos técnicos. Era na garganta”, ressaltou, ainda, Sohsten, lembrando o fato dos cantores disporem, hoje em dia - e diferentemente daquele período - de, por exemplo, pequenos microfones e processadores de voz. O cantor e compositor paraibano também disse que Cauby tinha penetração internacional, pois falava cinco idiomas e gravou em outras línguas. E, indagado sobre quais canções interpretadas por Cauby mais lhe marcaram, mencionou ‘Bastidores’ (Chico Buarque) e ‘Começaria tudo outra vez’ (Gonzaguinha).
O cantor Paulo Brasil também demonstrou sua admiração pelo saudoso artista. “Considero Cauby um marco da interpretação, pois tinha uma forma única de cantar, com voz potente e leitura da forma de cantar na qual imprimia sua expressão artística. Por todas essas qualidades, Cauby deve ser objeto de estudo, por ser referência e ter sido um artista muito especial”, disse ele, para quem “é uma grande perda para a música popular brasileira”.
“Cauby tinha uma sonoridade rara, o que era um diferencial”, destacou Paulo Brasil, que já cantou, em seus shows, músicas que Cauby Peixoto gravou, ao longo da carreira. Ele acredita que, a partir de agora, o público lhe peça para incluir, durante suas apresentações, mais canções que marcaram a trajetória do saudoso artista. Mas, particularmente, ele considera marcantes ‘Bastidores’ (Chico Buarque) e ‘Conceição’ (Jair Amorim e Dunga), ambas gravadas por Cauby. A propósito, por ter uma voz parecida com a de Emílio Santiago (1946 - 2013), esse intérprete paraibano admitiu que ainda precisa prestar um tributo ao cantor carioca, o que tem sido pedido pelos seus fãs.
Já o crítico musical e jornalista Ricardo Anísio apontou as qualidades que o levam a colocar Cauby Peixoto na galeria dos maiores astros internacionais da música. “Além de cantor, Cauby é um grande intérprete. Há diferença entre um e outro. O cantor canta, mas, além disso, Cauby, como intérprete, tinha uma dramaturgia, que derramava emoção e paz. Era multifacetado. Ele sofreu - entre aspas - o fato de não morar na Europa ou nos Estados Unidos, embora tivesse penetração em outros países. Mas, mesmo assim, fica emparelhado com outros artistas, como Frank Sinatra. Cauby tinha uma voz poderosa, tinha cuidado com o repertório, que é brilhante, fantástico, e era um artista generoso e que merece ser olhado. ‘Bastidores’ é uma obra-prima. É o tipo de artista que nasceu para cantar e morreu como uma cigarra, ou seja, cantando”, disse ele.
Sobre o artista
Nascido em 10 fevereiro de 1931, na cidade de Niterói, município localizado na região metropolitana do Rio de Janeiro, Cauby Peixoto Barros - nome de batismo do cantor e intérprete - cresceu em uma família de artistas. Ele trabalhou no comércio até começar a participar de programas de calouros em emissoras radiofônicas, no fim da década de 40. A gravação do primeiro disco ocorreu em 1951, iniciando uma trajetória artística de 65 anos, carreira durante a qual foi um dos grandes nomes da chamada “era de ouro do rádio” no Brasil e gravou diversos sucessos, a exemplo de ‘Bastidores’, ‘Conceição’, ‘Blue Gardenia’, ‘Mil Mulheres’, ‘New York, New York’ e ‘Nada Além’. Até ser internado em São Paulo, onde faleceu, Cauby Peixoto cumpria turnê pelo Brasil com a cantora Ângela Maria.