Em tempos de ameaça à soberania nacional e de manifestações políticas que substituem a bandeira do Brasil pela dos Estados Unidos, a banda campinense Zepelim e o Sopro do Cão propõe um resgate de símbolos da nossa cultura, por meio de uma homenagem a um clássico de Luiz Gonzaga e Zé Dantas. A faixa “Derramaro o gai pt. 2”, definida como uma crítica ao imperialismo e uma ode às riquezas do país, chega hoje às plataformas de música antecipando o segundo disco do grupo — que chega ao público no próximo dia 26.
Definindo esse novo compacto como uma espécie de sample da canção do Rei do Baião, o vocalista, Babuindo, assevera que o tributo vai muito além do uso da frase título, desaguando num uso contemporâneo da expressão, encampando, por exemplo, o debate sobre o uso de recursos como o gás natural. “Por sermos nordestinos, todos esses sons ditos de ‘raiz’ permeiam nosso imaginário e fazem parte do nosso universo de criação. Mas o conteúdo não deseja apontar para si como uma ‘sequência’”, diz ele, sobre a “parte 2” do título.
Comentando sobre a canção tocar num tema tão urgente, como a defesa da soberania nacional, Dedé Guima, a cargo das guitarras, destaca que a coincidência veio a calhar e que a denúncia presente na letra deve ser bem recebida pelo público da banda. “O imperialismo sempre existiu e avançou sobre o mundo, mas, pelos últimos acontecimentos na geopolítica, esse tema voltou ao debate. É algo de extrema importância, frente aos ‘espantalhos’ que nos distraem do que realmente importa”, sustenta.
Além da dupla acima, Zepelim e o Sopro do Cão é composta por Igor Punk (também na guitarra) e Igor Carvalho (baixo). A banda surgiu na Rainha da Borborema em 2006, carregando os anseios adolescentes daqueles artistas. “A gente só queria tocar e se expressar. Nesse período, a cidade tinha uma cena interessante, e foi através dos eventos nas praças e universidades que a banda começou a tocar e os sons foram circulando, criando-se uma identidade musical. Hoje, a pegada é outra, mas a raiz permanece”, sinaliza Babuindo.
Debatendo sobre o atual cenário do rock paraibano — com a ascensão de bandas como a Papangu e o sucesso perene de grupos como Seu Pereira e o Coletivo 401 — Dedé indica que a origem interiorana da Zepelim foi um obstáculo na consolidação de seu trabalho. “Esse movimento ainda está muito centrado na capital, mesmo com artistas como a Cabruêra [que é de Campina]. Mas o movimento tem muito a ganhar com uma maior visibilidade ao que é feito por todo o estado”, projeta.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 17 de setembro de 2025.