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Grupo mantém fidelidade às canções inspiradas no pop nacional setentista, com bases no rock alternativo

Banda-Fôrra lança 3° disco neste mês

publicado: 11/05/2022 09h08, última modificação: 11/05/2022 09h08
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Foto: Kécia Andrade/Divulgação

por Joel Cavalcanti*

Existem basicamente duas formas de se comportar diante de um desastre iminente: procurando anunciá-lo ou tentando postergá-lo. A Banda-Fôrra faz sua escolha com o lançamento de Baladas para adiar o fim do mundo, terceiro álbum do grupo criado há oito anos em João Pessoa. Em oito faixas autorais, o trabalho mantém as características de fidelidade às canções inspiradas no pop nacional setentista com bases no rock alternativo, mas ele é um produto artístico que vem completamente afetado pelo contexto da pandemia, que influenciou o processo criativo da banda e as condições de trabalho. Em pré-save nas plataformas de música, o álbum será lançado oficialmente no dia 20 deste mês.

A produção do disco precisou ser interrompida ainda em seu estágio embrionário e os integrantes da banda foram isolados uns dos outros. O grupo se permitiu, então, mudar o curso que haviam traçado para o álbum e incorporar os novos fatores que estavam atravessando a criação das músicas. Parte delas foi gravada no Estúdio Peixe-Boi, em João Pessoa, e a outra parte teve que ser adaptada para as condições mais caseiras. “Foi uma experiência totalmente nova, que acabou adicionando camadas diferentes de significado nas canções. A gente tem um reportório com uma qualidade muito solar, e muitas vezes a gente se via em um lugar de querer refletir um pouco a natureza meio agreste desse tempo que a gente vive. Mas, de certa forma, essa qualidade solar acabou se impondo devido à necessidade de pensar sobre um futuro que, espero, seja um pouco mais legal com a gente”, explica o vocalista da Banda-Fôrra, Guga Limeira.

Por camadas diferentes entende-se o que está demonstrado em letras existenciais e de amores urgentes que encaram a necessidade premente de se estabelecer encontros entre as pessoas. “Nós fugimos um pouco de experiências coletivas, pois não são canções que refletem necessariamente o momento político. São canções que falam de uma conexão um a um, da gente com a gente mesmo”, diferencia Limeira, que compõe a maior parte das letras da banda. “Estamos muito marcados e cheios de cicatrizes desses últimos dois anos. Independentemente do assunto que a gente aborde, isso vai estar atravessado de forma que é impossível não perceber a diferença desse trabalho para os anteriores”.

Um indicativo da proposta que norteia o novo álbum foi dado no mês passado, quando a banda antecipou em suas plataformas de streaming o single ‘Contra-maré’, composição de Ernani Sá e Guga Limeira. Em um ritmo que escancara a reverência que a banda realiza aos Beatles, eles acrescentam nuances do indie rock em uma letra que vem com cheiro de maresia, que segue: “Deixa a brisa refrescar suas ideias / acalmar o coração / sei que todo tempo do mundo / é pouco para caminhar com seu irmão / é preciso navegar contra a maré / largar os pesos, as medidas e cair de pé”. Pode até não adiar o fim do mundo, mas oferece uma perspectiva para onde olhar e o que fazer enquanto o momento final não chega.

O grupo teve início fazendo covers de Caetano Veloso, o que sempre deu pistas bem claras sobre a presença do Tropicalismo na atitude artística da Banda-Fôrra. Mas desde o primeiro EP homônimo, lançado em 2015, e com o álbum Trilha, de quatro anos depois, as referências se mostram variadas pela poesia e por bandas como Tame Impala, Homeshake, Mac Demarco, até o Clube da Esquina e os paraibanos que formaram o Musiclube, como Chico César, Totonho, Adeildo Vieira, entre outros. “Rótulos musicais interessem pouco a gente. Esse álbum tem uma linguagem que é muito fiel a canção do Brasil, e isso não muda. O que não pode mudar em nossos trabalhos é a fidelidade ao gênero da canção”, afirma Guga Limeira. A maior novidade na sonoridade da banda presente em Baladas para adiar o fim do mundo é o que foi agregado com a parceria de músicos convidados, a exemplo de Helinho Medeiros, que gravou os pianos em todas as faixas, e o baterista Pablo Ramires, responsável pela percussão do álbum.

Já a formação oficial da banda permanece trazendo Lucas Benjamin (bateria), Matteo Ciacchi (baixo), Hugo Limeira (guitarra, violão e vocal), Ernani Sá (guitarra e vocal), além de Guga Limeira nos vocais. Produzido por Ernani Sá e Hugo Limeira, o álbum foi gravado no Estúdio Peixe-boi por Hugo Limeira e Marcelinho Macedo, que também foi responsável pela mixagem. A masterização é de Fernando Sanches, no Estúdio El Rocha.

Sobrevivendo a todas as crises, sejam elas políticas, sociais ou sanitárias, permanecer atuante artisticamente já serve para dilatar o sentido de estar no mundo. “O que prevalece nesse trabalho é simplesmente uma vontade de continuar existindo. Produzir ‘Baladas para adiar o fim do mundo’ foi uma forma de ficarmos vivos. Essa é uma promessa de vida”, finaliza Guga Limeira.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 11 de maio de 2022