Guilherme Cabral
Conhecido como o Bruxo do Cariri Velho, o poeta, cantor e compositor paraibano Júnior Cordeiro está celebrando, neste ano, uma década de carreira. No intuito de marcar o transcurso da significativa data, acabou de lançar - por enquanto, só disponível, a preços variados, em plataformas digitais de compra na Web, a exemplo do Amazon e Itunes, e pelo site do próprio artista, o www.juniorcordeiro.com - o novo álbum, que é produção independente, cujo título é Sonhos, Sertão e Loucura e reúne 15 músicas. Já o CD físico, ora em fase de prensagem em São Paulo, deve chegar em quatro semanas. No entanto, ele antecipou para o jornal A União que a comemoração também se estenderá em 2017, quando, durante o primeiro semestre, pretende gravar - provavelmente no antigo Hotel Globo, localizado no Centro Histórico de João Pessoa - o seu segundo DVD, denominado Dezmistificando.
“Em Sonhos, Sertão e Loucura a loucura, verdadeiramente marginalizada pela sociedade moderna, ganha ares divinos e primordiais à prática artística e, porque não, à própria existência humana. Uma incursão nas percepções sociais sobre a loucura pelas épocas históricas é um dos motes da obra, que tenta exaltar a loucura nos moldes da antiguidade clássica como sendo uma manifestação mental divinatória, bela e necessária”, disse Júnior Cordeiro para A União. “Sonoramente falando, disponho ao público uma verdadeira loucura em mistura de gêneros musicais”, acrescentou ele. Nesse sentido, o artista finca sua base na já usual união entre rock e baião, explorando diversos ritmos e vertentes sonoras, os quais vão desde o jazz e do twist até a valsa e o coco de roda. “Para sacramentar a ideia delirante do disco, exalto, em cada música, uma tendência que combina em muito com quaisquer expressões musicais que envolvam loucura: a psicodelia. Tem-se muito o que enlouquecer com esse disco, o que sonhar também”, prosseguiu o cantor e compositor.
Júnior Cordeiro ainda observou que, por intermédio da arte, “a fantasia cria um universo particular de compreensão e percepção da vida que se contrapõe à dominação das atividades mentais pela lógica da razão e do domínio social”. Ele também disse que, nas 15 canções integrantes do novo CD, “intimamente ligado à loucura está o universo dos sonhos, verdadeiro mistério das profundas da mente. Autores como Jung, Freud, Foucault e Erasmo de Roterdan”, prosseguiu o cantor e compositor, “são citados em partes do disco, nunca como certezas, mas sempre como propagadores e exaltadores do assombro dos sonhos, dos devaneios e dos delírios”.
“Não obstante as postulações teóricas, pode-se notar, na obra, um apelo à compreensão dos sonhos e da loucura pela visão popular, pelo senso comum. É aí que entra o Sertão, já tão presente em toda a minha discografia, já que não canso de esmiuçar o misticismo e os delírios populares presentes no Nordeste mítico e arcaico. Esse universo pictórico e alucinante servirá, agora, de espaço para a propagação dos sonhos e da loucura, do mistério e da criação artística”, observou novamente o artista, cuja obra, ao mesmo tempo que denuncia fortes influências dos cordelistas e repentistas nordestinos, carrega sutis traços dos mais diversos poetas literários.
A música de Júnior Cordeiro é caracterizada pela alquimia chave de juntar forró com o rock pesado. Essa união de gêneros - neste caso, na opinião do próprio artista, “junção de ideologias, pois os dois segmentos transcendem o puro conceito de 'estilos' e atingem a ideia de culturas musicais” - não é, conforme admitiu, nada nova na cena brasileira. No entanto, o que é considerado como sendo inovadora é a maneira com que atinge esse diálogo de forma tão natural. Em seu novo álbum, o Bruxo do Cariri Velho viaja por, praticamente, todos os segmentos de música nordestina: da toada ao baião; do segmento do rock’n’roll progressivo/psicodélico ao heavy metal, estabelecendo um acento musical forte, que ele mesmo conceitua como “rock-baião”.
Ao longos dos seus 10 anos de carreira, Júnior Cordeiro conseguiu estabelecer uma característica, que exerce forte influência em sua obra: a peculiaridade dos temas abordados, que são o Nordeste mítico e místico, a herança ibérica, a magia popular, os delírios messiânicos, o catolicismo rústico e sertanejo, o ocultismo ocidental, a loucura, bem como outros intricados assuntos, tudo unido em uma ideia fixa: a verificação e denúncia dos males da coisificação do homem na pós-modernidade líquida e globalizante, num campo imagético rico e fértil, onde o imaginário coletivo está sempre presente e revigorado. Tudo isso tem servido de inspiração para o artista desde o primeiro disco, cujo título é Carrascais, lançado em 2006, passando por O Lago Misterioso (2011) e Capa Preta (2013), até desembocar no seu mais novo álbum, Sonhos, Sertão e Loucura.