Linaldo Guedes
São 35 anos sem uma das maiores intérpretes da Música Popular Brasileira: Elis Regina. A “Pimentinha”, que chegou a ser comparada a Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan e Billie Holiday (estrelas do jazz americano), surgiu nos festivais de música dos anos 1960 e foi cantar em outra dimensão no dia 19 de janeiro de 1982. Em João Pessoa, haverá homenagens à data com o Especial Elis Regina e Maria Rita a partir das 20 horas, na voz de Sandra Pinheiro, no After Pub, que fica na avenida Fernando Luiz Henrique dos Santos, 945, Bessa. Cantoras como Cida Alves, Nathalia Bellar, Mira Maya e Débora Vieira confessam-se marcadas pela força interpretativa e pelo repertório de Elis.
Nascida em Porto Alegre, Elis Regina transitou por praticamente todos os gêneros, como Bossa Nova, samba, jazz, rock, com interpretações clássicas, como as de “Arrastão” e “Atrás da Porta”, que marcaram várias gerações de cantoras no País. Na Paraíba não poderia ser diferente. Para Nathalia Bellar, Elis Regina foi a cantora mais completa que esse País já teve. “Tecnicamente potente, carregava uma força inigualável em suas interpretações. Tinha paixão, explosão no palco! Para a MPB, ela foi um marco! Lançou muitos dos compositores que hoje admiramos e respeitamos. Além de todos esses atributos musicais, ela foi ainda uma mulher preocupada com os problemas sociais do País. Lutava pelos direitos do músico e da mulher”, comenta.
Já Mira Maya revela que Elis foi a primeira cantora brasileira que lhe despertou a vontade de cantar. “Na infância ficava horas ouvindo a radiola de painho e entre os discos estava Elis". Mira diz que a importância de Elis para o Brasil, e não apenas para a música brasileira é a sua postura. “Sempre aguerrida e avançada para sua época, ela forma um grupo de cantoras que elevou o nível do empoderamento feminino, hoje muito presente em todos os ritmos e estilos musicais”, explica.
Débora Vieira afirma que só veio conhecer o trabalho da Elis na adolescência. “De cara, fiquei enlouquecida. Foi impactante na minha vida sua forma visceral de interpretar. Hoje, parte da minha expressão musical deve-se a ela, meu espelho, minha diva. Não consigo escutá-la sem me emocionar”, observa.
Para Cida Alves, Elis Regina foi uma artista completa. “Quando ela estava no palco conseguia traduzir algo a mais, para além da música, da melodia, conseguia emanar um sentimento humano, artístico, uma expressão artística que completava. Conseguia reunir corpo, alma, tempo-espaço, música, tudo numa mesma interpretação. Uma artista transcendental. Era uma atriz no palco. Para mim, é minha professora de canto. Diria que sou uma filha dela, musicalmente”, comentou.
Difícil definir uma música preferida dela. Mira Maya entende que talvez Belchior tenha sido o melhor compositor para Elis, ou Elis sua melhor intérprete. Por conta disso, diz que “Como nossos pais” e “As Velas do Mucuripe” são as duas que mais lhe tocam. Nathalia Bellar revela que aquela que arranca lágrimas e arrepios é “Trem Azul”. Débora Vieira assume que “Me Deixas Louca” e “Atrás da Porta” a fazem chorar todas as vezes que a vê cantar. Cida Alves destaca as composições de João Bosco, mas não esquece de “Na batucada da vida”, de Ary Barroso.
Débora Vieira, Nathalia Bellar, Cida Alves e Mira Maya são quatro cantoras de destaque na Paraíba e costumam se apresentar em bares, teatros e casas de shows com repertório eclético, cantando artistas da terra e grandes nomes da MPB e também artistas do exterior. Como elas incluem Elis Regina em seu repertório? No repertório de Débora Vieira, por exemplo, estão canções como “Alô Alô Marciano”, “Romaria”, “Como Nossos Pais”, “Tatuagem”, “O Bêbado e o Equilibrista”, “É Com Esse que Eu Vou” e “Tiro Ao Álvaro”. Nathalia Bellar, além do show em homenagem à Elis que começou a fazer em 2015, executando cinco edições em João Pessoa, tem sempre canções dela no repertório. “Madalena”, “Nada será como antes” e “Vou deitar e rolar” são as que mais canta. Já Mira Maya, atualmente está com um repertório mais pop, mas sempre que o público pede canta clássicos de Elis Regina e canções como “Velha Roupa Colorida”, de Belchior. Cida Alves costuma incluir “Morro Velho”, “Como nossos pais”, “Bicho do Mato” e “Velha Roupa Colorida”.
Sobre Elis
Elis Regina Carvalho Costa nasceu em Porto Alegre, em 17 de março de 1945, e morreu em São Paulo, no dia 19 de janeiro de 1982. Foi a primeira pessoa a inscrever a própria voz como se fosse um instrumento, na Ordem dos Músicos do Brasil. De temperamento forte (daí o apelido “Pimentinha”), defendeu os direitos da mulher, se posicionou contra a Ditadura e não abria mão de suas convicções. Causando grande comoção nacional, faleceu aos 36 anos de idade, devido a complicações decorrentes de uma overdose de cocaína e bebida alcoólica. Em 22 de setembro de 2005, inaugurou-se na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre, um espaço memorial para abrigar o Acervo Elis Regina. Trata-se de uma coleção de fotografias, artigos, objetos. Em 2016, foi lançado o filme “Elis”, tendo Andreia Horta como a famosa intérprete.