Guilherme Cabral
“Mais do que de autoajuda. Ele é de alta ajuda. Ou seja, de ajuda coletiva”. É assim que o escritor, jornalista e cronista paraibano Carlos Romero considera o livro intitulado O Evangelho Nosso de Cada Dia, publicado por A União Editora e cujo lançamento - em sessão de autógrafos e serviço de coquetel - acontece hoje, a partir das 19h, na Fundação Casa de José Américo (FCJA), localizada em João Pessoa. Na ocasião, a obra será apresentada pelo próprio filho do autor, o arquiteto Germano Romero. E, na oportunidade, o artista plástico Célio Furtado - que elaborou a arte da capa - também vai expor diversas telas, com estilos variados.
Prefaciado pelo pastor da 1ª Igreja Batista de João Pessoa, Estevam Fernandes de Oliveira, e com orelhas assinadas por Dom Aldo di Cillo Pagotto, o livro de Carlos Romero reúne 73 textos selecionados, todos focados no Evangelho. O escritor confessou que não houve nenhuma premeditação para lançar a obra. “Estas crônicas vieram de forma completamente espontânea, quase mecanicamente. Eu não esperava, nem planejei. Fui escrevendo, escrevendo... e, depois, percebi que eram todas sobre temas do Evangelho”, esclareceu ele para o jornal A União.
O cronista - que ingressou no jornal A União em 1945 - também considerou como “quase mediúnica” a ideia de convidar o pastor e o bispo emérito para assinarem o prefácio e as orelhas, respectivamente. “Veio assim, de repente, intuitivamente, e só sei que me senti muito bem com a participação deles e por eles terem aceitado, porque são homens que eu sempre admirei. Foi uma grande satisfação e que valorizou muito o meu livro. Embora possamos ter maneiras diferentes de pensar ou de interpretar, nós comungamos da mesma doutrina que é a doutrina de Jesus”, confidenciou Carlos Romero.
Indagado a respeito de sua intenção de dar um sentido prático para a Boa Nova, conforme sugere no próprio título do livro, o autor deu sua justificativa. “O Evangelho tem que ser praticado, não pode ficar na teoria. O próprio Evangelho tem um sentido prático. Era no dia a dia que Jesus aproveitava para exemplificar, seja com fatos que presenciava, seja com parábolas. E foi dentro desse princípio prático que essas crônicas apareceram. Das minhas reflexões e observações cotidianas”, ressaltou Carlos Romero, que também entende haver afinidade com a pregação doutrinária. “Desde pequeno que eu admirava o Evangelho. Que na minha vida começou com as preleções de papai, que foi quem mais me incentivou. O Evangelho, para mim, foi tudo. Tudo na minha vida. Até hoje”, garantiu o escritor.
Quanto ao motivo de lançar o livro incluindo, na programação, uma mostra de pintura, o cronista disse que a ideia foi do seu filho, Germano Romero, que é admirador do trabalho de Célio Furtado. “Aliás, quem primeiro me falou de Célio foi a minha esposa Alaurinda, no tempo em que ele tinha uma coluna n’A União, com crônicas também muito bonitas, na mesma linha de autoajuda e reflexões sobre a vida. Então, Germano convidou-o para ser o autor da capa e ele fez um belo trabalho, que retrata a cena de Jesus no chafariz, com a Samaritana. Em uma das crônicas, eu falo sobre esse encontro do Mestre com a mulher Samaritana. A mulher está muito presente na vida de Jesus. Ele valorizou muito a mulher. Só sei que, quando o quadro chegou, eu telefonei para Célio e lhe disse que estava tão bonito que dava vontade de entrar nele, quando a gente olhava. Foi quando ele disse que a intenção era essa. “Uma capa que convidasse o leitor a entrar logo no livro”, lembrou o escritor.
Carlos Romero ainda garantiu que sua obra mantém uma “relação completa” com o Espiritismo. “O livro é todo baseado na Doutrina Espírita, pois só prega a caridade. O Evangelho significa Boa Nova. O Espiritismo é a revelação consoladora, e toda pautada nos ensinamentos de Jesus”, observou ele, para quem existem ligações entre ambos. “Elas têm muito em comum. A Doutrina Espírita tem muito a ver com o Evangelho. Porque é uma doutrina consoladora, que prega a Caridade, tanto que tem como principal slogan: “Fora da Caridade não há Salvação”. E a caridade é o que mais existe no Evangelho”, enfatizou.
Questionado a dar sua opinião sobre como Jesus seria recebido no mundo de hoje e o que mais Cristo reprovaria, Carlos Romero, em meio a risos, respondeu o seguinte: “Acho que ele daria meia volta e ia-se embora”. Em seguida, acrescentou que “o mundo hoje é completamente diferente do que ele pregou. Ele só poderia reprovar. Como reprovou muita coisa do mundo e da época em que passou pela Terra. Hoje se vive num mundo completamente distorcido dos valores cristãos. Esse mundo não é o Evangelho nem a Boa Nova de Jesus. Não prega o amor, a caridade, a responsabilidade pelos atos praticados. Sobretudo a caridade e o amor, que é onde estão a compreensão, a tolerância”.
O cronista ainda considerou como “natural” ter o Cristianismo se dividido tanto, ao ponto de perder a essência ecumênica que caracteriza a mensagem de Jesus. “Isso acontece pela própria natureza humana, ainda cheia de distorções, a má compreensão da mensagem de Jesus. Na verdade, o grande defeito é do homem, que não sabe se entender”, disse ele, que também não vê “nada de mais” na crescente participação de religiosos na política. “Se eles entram na política com boas intenções, desejando contribuir para ajudar ao próximo, se for para uma participação valiosa, uma atuação em benefício da coletividade, não há nada contra. Agora, se forem para a política com outros interesses, é reprovável”, observou ele.
Sobre o autor
Natural de Alagoa Nova, Carlos Romero é autor dos seguintes livros e plaquetes: A outra face de Beethoven e O milagre de Anchieta, ambas conferências proferidas na Sociedade de Cultura Musical e na Faculdade de Direito da Paraíba, respectivamente; A Dança do Tempo (crônicas); O Papa e a mulher nua (crônicas de viagem); Lições de Viver (crônicas); Viajar é sonhar acordado (crônicas de viagem); Meu Encontro com Kardec e A Falência no Direito Brasileiro. Bacharel em Direito, o escritor e jornalista é filho de José Augusto Romero e Maria Pia de Luna Freire. Ele foi professor da Universidade Federal da Paraíba, juiz de Direito, vice-presidente da Federação Espírita Paraibana, sub-chefe da Casa Civil no Governo de Pedro Gondim, diretor da Rádio Tabajara, membro do Conselho Estadual de Cultura, um dos fundadores da Orquestra Sinfônica da Paraíba (OSPB) e, também, do Correio das Artes - suplemento literário, do qual foi editor, de A União - e é colunista deste centenário jornal e do Correio da Paraíba, além de membro da Academia Paraibana de Letras, onde ocupa a Cadeira nº 27.