Amanhã, as artistas visuais paraibanas Marília Riul e Aurora Caballero abrirão a exposição Inventário universal de fabulosos seres descobertos no leste. O vernissage acontecerá a partir das 19h, na Usina Cultural Energisa, em João Pessoa. A coletiva é resultado de uma pesquisa que teve como uma das inspirações O livro dos seres imaginários, do escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986), e reúne mais de 50 obras, entre objetos, gravuras, desenhos, aquarelas, pinturas, fotografias, esculturas e instalação, produzidas entre 2022 e 2023. A mostra, promovida pelo Ministério da Cultura (Lei Rouanet), com patrocínio da Energisa Paraíba e apoio da Fundação Ormeo Junqueira Botelho, permanecerá aberta até 5 de agosto e poderá ser visitada gratuitamente pelo público sempre de terça-feira a sábado, das 13h às 18h.
Um dos projetos selecionado no Edital Ocupação Usina de Artes Visuais 2021-2022, a coletiva é a primeira que ambas realizam juntas, bem como cuidam da curadoria do evento. “O título traduz a ideia da exposição e faz menção ao nosso processo criativo, que está atravessado pelo exercício do fabular, do inventar seres através do hibridismo, da mistura de espécies de bichos, plantas, algas, entre outros seres vivos, e também de elementos inanimados que observamos e registramos em nossas caminhadas por trilhas na mata e vivências na praia”, explicou Marília Riul. “Descobertos no leste, pois os ‘fabulosos seres’ surgem das nossas experiências de observação e fruição da natureza na nossa região da costa leste, que podem ser vistas como pequenas expedições em buscas espontâneas pelas características naturais da estranheza que aparece em diversas formas, texturas e cores do universo natural”.
Marília Riul antecipou o que o público que visitar a mostra poderá observar. “São inúmeros os seres que aparecerão nas obras da exposição. Estas revelam, por vezes, corpos inteiros, suas partes, ou mesmo fragmentos de texturas, formatos e outras características que se complementam na construção do nosso imaginário sobre os fabulosos seres, que foram criados a partir das nossas pequenas expedições no ambiente natural, onde coletamos imagens, memórias e elementos, como pedras, galhos e ossos. A partir daí, a quatro mãos e também em processos individuais, utilizamos várias técnicas para fabular e dar forma aos seres”, disse ela.
A exposição elenca trabalhos produzidos em várias linguagens. “A diversidade de técnicas reflete as nossas experiências enquanto artistas, as nossas trajetórias, a curiosidade e o gosto pela experimentação, pela diversidade de expressões e foi o melhor caminho para a construção da estética que concebemos, que está bastante relacionada à diversidade, pois o hibridismo é um resultado do cruzamento de diferenças. Muitas obras foram criadas a quatro mãos e também há muitos trabalhos criados e executados individualmente, num processo permeado pela nossa comunicação e aproximação constante”, afirmou Marília Riul.
A artista visual ainda falou sobre o conceito e a relação da exposição com a questão do meio ambiente, tema sempre atual no mundo globalizado de hoje. “O objetivo é mostrar o fruto do nosso processo criativo, que envolve todo o nosso repertório profissional, acadêmico e subjetivo, além da liberdade de nos apropriarmos de determinados elementos naturais para fabular, imaginar e conceber os seres híbridos. E um dos braços desse processo tem, sim, relação com a nossa busca pela aproximação à natureza, através de uma das inúmeras possíveis vias de discussão sobre isso, que é o questionamento sobre a forma de produção e disseminação de conhecimento sobre ela”, observou Riul. “A exposição traz obras que representam outras possibilidades de conhecer os seres vivos e o meio abiótico, para além do que é proposto pelo método científico, mas sem nos desvincularmos totalmente dele, pois a Ciência também é uma referência. Assim damos vida ao nosso interesse em conhecer a natureza através da produção artística. Desejamos que isso provoque o interesse e a curiosidade da nossa audiência e que isso possa trazer uma reflexão sobre pertencimento, sobre fazermos parte da natureza”, acrescentou ela.
Caminhos da pesquisa
No texto escrito para apresentação da mostra ao público, a curadora e historiadora da arte paraibana Rita de Cássia do Monte Lima observa, que o “Inventário universal de fabulosos seres descobertos no leste apresenta o culminar da pesquisa das artistas que, por meio de caminhadas ecológicas no Leste da Paraíba, com registros fotográficos e coleta de materiais, resultaram em uma biblioteca de organismos estranhos”.
Marília Riul lembrou que a pesquisa que desenvolveu com a artista visual Aurora Caballero vem acontecendo desde 2021. “Realizamos várias caminhadas juntas e também coletamos materiais individualmente, com uma metodologia livre e guiada pelos nossos processos individuais que se assemelham bastante, o que nos motivou a realizar um projeto juntas. As caminhadas se deram em praias urbanas da cidade de João Pessoa, Litoral Norte e Litoral Sul da Paraíba, Jardim Botânico, Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e praças e parques urbanos de João Pessoa. As caminhadas em ambientes naturais já eram um hábito em comum de meditação e fruição, de avivamento do senso de pertencimento à natureza”, disse ela.
Por acreditar que esse projeto de pesquisa tem um potencial de criação e produção enorme, Marília Riul admitiu que a tendência é de que ambas deem continuidade ao trabalho. “Temos planos de ir para o Litoral Norte juntas, pois, até o momento, só tivemos oportunidade de visitá-lo individualmente”, comentou ela.
Já Aurora Caballero disse que a afinidade do trabalho que as duas realizam levou-as a essa parceria. “Nos unimos para essa investigação que envolveu caminhada, observação e coleta de material e esta será a primeira vez que apresentaremos ao público a produção de obras resultante dessa pesquisa, que são como um exercício de fábulas subjetivas, tendo como referência seres criados”, afirmou a paraibana.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 6 de julho de 2023.