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CULTURA POPULAR

Cavalo Marinho fará turnê na Europa

publicado: 18/01/2024 13h00, última modificação: 18/01/2024 13h00
No mês de maio, manifestação folclórica com sede em Bayeux fará uma série de apresentações em Portugal
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Um dos ensaios do grupo Cavalo Marinho da Paraíba, na sala Roberto Cartaxo, da Funesc - Fotos: Marcos Rodrigues/Divulgação

por Guilherme Cabral*

Seis componentes do Cavalo Marinho da Paraíba, com sede em Bayeux, já vem se preparando para empreender a turnê internacional A Viagem dos Sons – O Retorno, em Portugal. As apresentações serão realizadas no mês de maio, em três localidades, que são a capital do país luso, Lisboa, e as cidades de Aveiro e Évora. As datas e locais ainda serão definidos, mas deverão ocorrer ao longo de dois finais de semana. “Será motivo de felicidade representar Bayeux, a Paraíba e a América do Sul”, disse o coordenador do grupo, José Bento. Enquanto todos não embarcam, o que está previsto para o dia 12 de maio, os ensaios vêm acontecendo na Sala Roberto Cartaxo, no Espaço Cultural José Lins do Rego, situada em João Pessoa.

“O título da turnê, A Viagem dos Sons – O Retorno, é porque, durante a Expo 98, feira mundial realizada em setembro de 1998, no Museu do Folclore Edson Carneiro, no Rio de Janeiro, a gravadora Tradisom, de Portugal, lançou coleção intitulada Viagem dos Sons, contendo 12 CDs de grupos de vários países de língua portuguesa, como Moçambique, Goa e Sri Lanka, num projeto então idealizado pela Comissão de Países de Língua Portuguesa, sediada em Cabo Verde. O Cavalo Marinho da Paraíba foi o único representante do Brasil e da América do Sul, na qual estamos no volume 12, em que gravamos músicas folclóricas de domínio público, como aboio e toada, com livretos bilíngues, ou seja, português e inglês, numa edição de luxo, com 126 páginas a cores. A viagem será realizada através de projeto da Funarte, que vai permitir o custeio das passagens e estadia”, disse José Bento.

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Folguedo popular utiliza o mesmo boi do fundador Mestre Gasosa

O coordenador do Cavalo Marinho da Paraíba, que possui 20 integrantes, informou que viajará para Portugal apenas a orquestra do grupo, cujos componentes são: Aglaia Costa, considerada por pesquisadores e estudiosos como a melhor rabequeira contemporânea de Pernambuco, que chegou a tocar no Quarteto Romançal, criado na segunda fase do Movimento Armorial, criado pelo paraibano Ariano Suassuna (1927-2014); Cristiano Oliveira (viola); Mateus Costa (rabequeiro); Gabriel Daher (percussão); Marcos Paulo (percussão) e o próprio José Bento, o vocalista, ou, como preferiu classificar, o “toadeiro”.

Bento fez estimativa de que o grupo deverá permanecer, a princípio, até o dia 20 de maio, na Europa. Mas disse acreditar que seja possível passar mais tempo, pois um representante da Gravadora Tradisom é quem está articulando a definição das datas nas três cidades e a possibilidade de que o Cavalo Marinho faça mais shows. “Em cada cidade de Portugal, nós apresentaremos o mesmo repertório para o público. Além disso, durante os shows, também deveremos participar de um bate-papo com as pessoas presentes, para falarmos sobre temas como folclore, cultura e a respeito do Cavalo Marinho como folguedo popular. Em Évora está enterrado o cacique potiguar Zorobabé, um grande chefe que, naquela época, resistiu durante as invasões portuguesa, francesa e holandesa e foi levado para Portugal, onde morreu em 1609”.

Genuíno

Para o coordenador do grupo, “o Cavalo Marinho é genuíno, sendo de origem ibérica, na época em que Portugal pertencia à Espanha”. José Bento informou que o grupo Cavalo Marinho da Paraíba surgiu em 1970, no Engenho Novo, sob o comando do Mestre Gasosa, como era mais conhecido o vigia noturno José Raimundo da Silva, que morreu em 2003. A manifestação folclórica utiliza o mesmo boi de Mestre Gasosa, só que foi restaurado.

Brincadeira popular que envolve performances dramáticas, musicais e coreográficas, o cavalo marinho é um folguedo inscrito no Livro de Registro das Formas de Expressão, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em dezembro de 2014, que se realiza em um terreiro de chão plano e, geralmente, ao ar livre. Nessa manifestação cultural, a formação da brincadeira é em semicírculo, com espaço para a plateia, e inclui diversos aspectos artísticos e culturais e sócio-históricos, a exemplo de mestres e de personagens e os elementos da vivência do trabalho rural. Na música do Cavalo Marinho da Paraíba, três termos são usados por seus integrantes para subdividir o repertório. Um é o aboio, forma de cantar estrófica e sem acompanhamento instrumental, usada pelos vaqueiros para tanger o gado; o canto, ou toada, de tipo formal variado; e o a dança, cuja forma também é variada. Enquanto a forma e a função específicas do aboio são mais imediatamente compreensíveis pela importância do boi no desenvolvimento do brinquedo, a distinção entre canto e dança é mais sutil. As peças denominadas cantos apresentam personagens ou revelam, nos textos, momentos importantes da trama, enquanto que as danças enfatizam determinada coreografia, a exemplo do entrelaçamento de arcos ornamentados por fitas ou por tipos de sapateado.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 18 de janeiro de 2024.