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Chegou a vez do samba

publicado: 01/10/2024 08h53, última modificação: 01/10/2024 08h53
O gênero é o protagonista da edição de hoje do “Palco Tabajara” com shows de Polyana Resende e Helton Souza
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Polyana Resende e Helton Souza são expoentes da cena paraibana do samba | Foto: TabajaraFM/Divulgação

por Daniel Abath*

A nacionalização do samba, gênero musical que enfrentou diversas ondas de preconceito no início do século passado, parte mesmo do Rio de Janeiro. Mas isso não quer dizer que a Paraíba não possa fazer um samba original da terra. O Palco Tabajara está aí para provar essa tese, com as apresentações dos sambistas Polyana Resende e Helton Souza, hoje, a partir das 20h, na Sala Vladimir Carvalho da Usina Cultural Energisa, em Varadouro, na capital, com entrada franca.

Promovido pela Empresa Paraibana de Comunicação (EPC), em parceria com a Energisa, o programa, em sua temporada 2024, vem acontecendo desde o dia 13 de agosto, sempre às terças--feiras, com direção de Marcos Thomaz e apresentação de Val Donato, transmitido ao vivo pela 105.5 FM e pelo canal da Rádio Tabajara no YouTube. Só neste ano, já passaram pelo Palco os artistas Filosofino, Wil Cor & Eletrocores, Myra Maya, Arquiza, Som D’Luna, Titá Moura, Confluência, Blues à Brasileira, Lil’Lion, Candeeiro Natural, Nathalia Bellar e Módulo Lunar.

 Samba alto astral

Polyana Resende já participou outras duas vezes do Palco e foi novamente convidada para participar do evento, enfatizando a felicidade do seu retorno. Diverso de um samba mais dolente, Polyana destaca que o seu repertório é focado no samba de partido alto e em vertentes como o samba baiano, salientando o caráter dançante e alegre de suas apresentações. Embora também transite por outras vertentes, como o samba-canção, a base do seu trabalho está mais centrada em uma variação de samba mais percussivo e em ritmos brasileiros, como o afoxé e o ijexá.

“Eu ser citada quando se fala em samba, isso pra mim é muito gratificante. Fico muito feliz de estar participando, de ser lembrada como uma das representantes do samba da Paraíba, isso pra mim é muito importante e significativo”, afirma a sambista, destacando a importância de promover o ritmo brasileiro que, segundo ela, ainda enfrenta muitos preconceitos e marginalização.

Apesar de apresentar outros gêneros musicais durante seus shows, o samba é parte constitutiva e essencial da artista: “O samba é um gênero genuinamente brasileiro e é uma música que me contagia, que eu gosto de cantar, me ensinou muito e faz parte de mim. Tenho ótimas memórias ligadas ao samba desde a infância e eu aprendo muito com os compositores”.

Detentora de um álbum autoral — Samba Teimoso (2017) —, além de singles já publicados, a exemplo de “Um samba a dois” (2018) e “Não vou mais engolir o choro” (2021), a pernambucana radicada na Paraíba conta que começou a cantar em Cabrobó, no Sertão pernambucano, quando fez parte da Psiu, banda de axé e forró eletrônico fundada por seu cunhado. Tendo experimentado diferentes gêneros e estilos, tais como axé, reggae e frevo, foi no samba que a artista se encontrou.

Polyana convida o público a comparecer ao evento, destacando o clima de amizade e familiaridade entre os músicos participantes — Helton e Polyana já se conhecem há muitos carnavais e ambos participaram de projetos recíprocos. “Vamos fazer muito samba. Vai ter músicas lançadas através do meu trabalho independente e também vou fazer releituras de clássicos do samba. Vai estar um clima bem dançante, bem pra cima, bem astral”, ressalta.

 O samba é pra geral

Pouco antes da realização de sua cirurgia bariátrica, Helton Souza recebeu o convite para participar do Palco Tabajara. Mesmo sem ter a certeza do acordo entre as datas, o artista confirmou presença, já que, para ele, subir ao Palco era um sonho antigo. “Vai ser minha volta aos palcos, depois de dois meses em off por conta da cirurgia”, declara.

Helton faz parte da nova geração de sambistas paraibanos, mas já conta com uma história como instrumentista. Ele lembra que foi integrante do tradicional e antigo grupo de samba pessoense, o extinto Pura Raiz. “Estou com uma expectativa gigante, porque sempre quis participar. Já tinha realizado o primeiro sonho de participar com o Pura Raiz, foi uma vibe muito boa. Eu já tinha minha carreira paralela e, depois que o grupo acabou, continuei com o meu projeto”, detalha.

 Em 2013, surgiu a ideia de lançar o projeto Helton Souza como artista solo, com composições autorais e identidade própria. O primeiro show do artista foi realizado no Vila do Porto, seguido por participações em projetos como o Sabadinho Bom e tocadas em bares e eventos em João Pessoa. Em 2018, gravou o EP Vá na Fé, com cinco faixas autorais.

O ponto mais importante para Helton em relação ao Palco Tabajara é o bate-papo e as dinâmicas de trocas e interações que acontecem na hora do show, ao vivo. “Você, como artista, se sente muito valorizado. Val é massa demais, eu sou suspeito de falar”, descreve enfaticamente.

No show de hoje, Helton apresentará algumas músicas novas, que não estão no EP, incluindo “Vidas negras importam”, canção que, se não fosse a pandemia, teria sido inscrita em uma das primeiras edições do Festival de Música da Paraíba. O sambista está para gravar a música, pretendendo lançá--la em um single no mês de novembro. “Devoto de São Jorge”, apontado como carro-chefe do EP por Helton, estará no repertório de hoje, bem como as demais canções do disco.

“O meu samba é do povo, tem para todos os gostos. Inclusive, tem uma música que eu fiz que tem esse título, ‘O samba é do povo’, porque samba é samba. Tem aquele samba mais canção, que é aquele samba que a galera gosta de dançar coladinho, tem aquele samba mais agitado. A gente começa devagar e vai evoluindo. Tem pra todos os gostos”, detalha.

 O último Palco

Na próxima terça (8), o Palco Tabajara se despede desta temporada em seu último movimento, com as apresentações de Chico Limeira e Wister. Os músicos estavam programados para se apresentarem na segunda semana do programa, ainda em agosto, o que não aconteceu por razões técnicas. O encontro vai, enfim, realizar-se no último dia do Palco Tabajara.

Criado em 2017, o programa se assemelha ao formato de auditório, sendo transmitido ao vivo por rádio e internet. Dirigido por Marcos Thomaz, o Palco Tabajara se destaca pelo compromisso com a qualidade e versatilidade musical, dinamizado por apresentações que intercalam execuções musicais seguidas de entrevistas ao vivo com a apresentadora Val Donato.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 01 de outubro de 2024.