Guilherme Cabral
Produção russa de 1956 dirigida por Grigori Chukhrai, cujo enredo mescla guerra, drama e romance, O Quadragésimo Primeiro é o cartaz de hoje da programação do Cineclube O Homem de Areia, da Fundação Casa de José Américo (FCJA), localizada na cidade de João Pessoa. A sessão única - que é gratuita para o público - começa às 19h30. “É um filme belíssimo, que fala de sentimento amoroso, traição, lealdade e é bem estruturado. É, para mim, o filme mais emblemático de uma trilogia do período áureo do realismo socialista, uma filosofia surgida sob a égide do governo do ditador da então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), Stálin, a partir dos anos 1930”, confessou para o jornal A União o crítico de cinema paraibano Wills Leal, que comentará o longa-metragem com os espectadores, após a exibição. Classificação Indicativa: Livre.
“A trilogia começa com O Quadragésimo Primeiro e, na sequência, foram lançados A Palavra do Soldado e Quando Voam as Cegonhas. Esses filmes se enquadram no realismo socialista, formado por dois pilares: o primeiro retrata, em tom apologético, a realidade de bonança, de felicidade do povo russo; o segundo é o de conteúdo de cunho nacionalista, mostrando que os russos tinham seu herói, sua heroína, com aspectos como beleza e encantamento. A filosofia era a de divulgar a ideia da existência de uma pátria, de uma cultura e que o povo russo não era mais um camponês analfabeto, mas era uma potência. E esses três filmes chegaram a ser aclamados e muito premiados, nas décadas de 1950 e 1960, em festivais pelo mundo, como os de Cannes (França), Veneza (Itália) e até mesmo em festival de menos importância nos Estados Unidos”, ressaltou o crítico Wills Leal.
Wills lembrou ter assistido ao filme, em cujo elenco estão os atores Georgi Shapovalov e Izolda Izvitskaya e que comenta nessa quarta-feira (4), na sede da FCJA - localizada na Av. Cabo Branco, nº 3336, no bairro homônimo - há cinco décadas, quando o longa-metragem foi lançado na América Latina com outro nome, A Guerrilheira. “Como nem sempre as traduções são literais, esse título foi dado porque a trama gira em torno de uma atiradora do Exército Vermelho que, incumbida de matar um oficial inimigo, que é o quadragésimo primeiro e último, tem com ele um inesperado romance”, esclareceu o crítico. “É preciso lembrar que o cinema mudo russo estava entre os três melhores do mundo, a exemplo de O Encouraçado Potemkin (1925), que é o clássico, dos clássicos, dos clássicos...”, disse ele.
Já o presidente da Fundação Casa de José Américo, Damião Ramos Cavalcanti, classificou como “espetacular” O Quadragésimo Primeiro. “Por falta de distribuição ao lado mais ocidental, pouco usufruímos da importante beleza que o cinema russo produz. No Cineclube O homem de Areia, temos a oportunidade de ver o filme de Grigori Chukhrai, também conhecido como A Guerrilheira; obra que lembra A Balada do Soldado. Destaque-se o desempenho dos protagonistas nos papeis de Ansenti Yevsykov, de Vadim Nikolayevich Govokha e da radical Filatovna sempre reparando a cor dos olhos da moderada Govorkha”, disse ele.
“Cenas das agruras de guerra que marcam seus passos nas areias do Deserto de Karakum em direção ao Mar de Aral, onde o silêncio muito nos fala. Silencioso, o deserto, como o mar, não só nos dá sede, mas também nos concentra numa meditativa e contemplativa solidão, inspirando-nos um mundo imaginário que se vislumbra além do interminável horizonte, sem fim, desértico, siberiano; quanto mais se caminha, mais distante é a chegada; mira-se o horizonte, às vezes, escondido pelas cortinas de poeira estendidas pelo vento. Seguindo admirável roteiro, a simplicidade rege a arte desse filme”, concluiu Damião Ramos.