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Cinema feminino

publicado: 06/08/2024 09h56, última modificação: 06/08/2024 09h56
A segunda edição da Mostra Djaniras começa hoje com o objetivo de dar visibilidade à produção audiovisual feita por mulheres
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A mostra será realizada na Usina Cultural Energisa até sexta, com diversos filmes (veja mais abaixo os cartazes de alguns deles) | Foto: Kio Lima/Divulgação

por Esmejoano Lincol*

A Usina Cultural Energisa, em João Pessoa, recebe nesta semana a segunda Mostra Djaniras, que promove de hoje até sexta-feira ciclos de exibições de filmes, oficinas de audiovisual e palestras com produtoras e realizadoras brasileiras. O objetivo desta nova edição do evento é o mesmo da primeira: dar visibilidade à produção feminina no audiovisual brasileiro. Além do acesso gratuito a toda a agenda da mostra, os espectadores contarão com recursos de acessibilidade, por meio de interpretação de libras e audiodescrição.

Em 2024, foram inscritos mais de 180 filmes; 35 deles acabaram sendo selecionados para integrar a grade deste ano, dentro e fora das mostras competitivas. “Margarida” e “Acácia” são os nomes das mostras que, respectivamente, trazem filmes da Paraíba e de outros estados do país. Serão três sessões com filmes em disputa, todas elas com exibições na Sala Vladimir Carvalho.

As chamadas mostras especiais passeiam por outros segmentos: “Campo em flor”, dedicada a filmes infantojuvenis, em parceria com o Festival Kilombinho; “Benvenutty”, reservada para a exibição do documentário sobre a ativista de direitos humanos Indianara Siqueira; “Aroeira”, com projeção de filmes sobre povos originários e com a participação de Patrícia Ferreira Pára Yxapy e Jaci Tabajara, cineastas indígenas; e “Benedita”, com exibição de filmes e uma homenagem à diretora paraibana Antônia Ágape.

Nos três primeiros dias, sempre a partir das 9h, a Djaniras ofertará três oficinas com realizadoras locais. Hoje, Ana Bárbara Ramos apresenta o filme-carta Tudo Está Conectado – Reimaginando o Mundo. Amanhã, Carine Fiúza estará à frente do curso “O papel pedagógico da representação da mulher no cinema”. Na quinta-feira, Anny Stone conclui a rodada de oficinas com “A língua do filme: assistência de direção”; os três cursos serão ministrados no Café da Usina. Na sexta-feira, às 15h, a mesa “Guerrilha e gambiarra” contará com a participação da União das Mulheres do Audiovisual Paraibano (UMA-PB).

O nome na mostra revela o desejo de Martina Nobre, coordenadora da Djaniras, de reverenciar figuras femininas. “Djanira é a avó de uma grande amiga e também o nome de uma música de Cátia de França que diz ‘Não é à toa que as Djaniras do campo em flor são filhas do menor chuvisco, saberá, saberá’”, cita a realizadora, mencionando trecho da canção de Cátia. Este ano, o evento ganhou mais um dia de programação, ampliando o acesso a sessões e debates. Martina ainda celebra a presença das convidadas desta edição. “Temos a honra e a felicidade de receber Patrícia Ferreira Pára Yxapy, importante realizadora audiovisual indígena da etnia Mbyá-Guarani, e Jaci Tabajara, com a exibição de seus dois filmes”, declara. 

Cinema como emancipação

Para Martina, a mostra surgiu sintonizada com outras urgências, além da importante janela de visibilidade para as realizadoras e produtoras audiovisuais do nosso estado. “Também nasce de uma necessidade de estar em rede, estar perto, poder trocar e alimentar esse mercado. Entendemos o audiovisual enquanto ferramenta emancipatória, por isso o nosso desejo de trabalhar em torno de formação técnica, artística, pedagógica e também política”, explica.

Mencionando o atual mercado audiovisual no estado e o número de filmes inscritos nesta edição do Djaniras — maior do que no ano passado — Martina credita este impulso às ferramentas de fomento, promovidas por editais das leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo. “Os números indicam que estamos produzindo cada vez mais. Sem dúvida, as políticas públicas, quando dialogam com a classe do audiovisual, têm um poder grande de modificar e proporcionar um mercado mais igualitário, plural e com maior circulação dos filmes”, pontua a coordenadora.

Falando das próximas gerações de cineastas mulheres, Martina assevera que não haverá vitória sem luta, mesmo que o caminho esteja mais “largo” em relação à trajetória das realizadoras do passado. “Acredito que o trabalho coletivo de mulheres cria um cenário cheio de outras possibilidades de atuação. Há muito o que fazer, estamos atentas e em redes”, finaliza. 

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 06 de agosto de 2024.