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Colecionador há 50 anos conta como se apaixonou pelo universo das HQs

publicado: 22/05/2016 00h05, última modificação: 22/05/2016 10h33
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Aficionado por histórias em quadrinhos (HQs), Antônio tornou-se um dos maiores colecionadores da Paraíba - Foto: Marcos Russo

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Lucas Silva - Especial para A União

Segundo o dicionário Aurélio, colecionar significa reunir em coleção, coligir, colecionar selos ou colecionar vitórias, erros e desenganos, mas ‘Seu Antônio’, como é popularmente conhecido Antônio Marcolino por amigos e admiradores, vem durante 16 anos fazendo muito mais que colecionar ou comprar relíquias antigas. No percorrer de todos esses anos ele vem fazendo muitos homens e mulheres sentirem a nostalgia dos anos 40 e 60 nos milhares de quadrinhos expostos em sua loja.

Atualmente, com 67 anos, Seu Antônio atua no universo dos colecionadores paraibanos há cinco décadas. Com loja, ou melhor, museu de quadrinhos fixo no Mercado Central, no Centro da capital, os apreciadores, colecionadores e curiosos em descobrir mais sobre o meio das antiguidades são convidados a mergulhar nas histórias preto e branco e coloridas que ele guarda em suas vitrines e estantes.

“Eu comecei quando tinha 14 anos, mas naquela época nós não tínhamos dinheiro pra fazer quase nada, porque o que nossos pais nos davam mal dava para pagar o ônibus. A forma que eu e meus amigos ganhávamos um trocado era quando íamos para a porta do cinema e lá nós víamos as revistas antigas sendo vendidas. Daí a partir disso, comecei a compra e vender as revistas e aquilo era bom, porque era a nossa forma de diversão e a partir disso fui tomando gosto”, contou em detalhes em entrevista ao jornal A União, Antônio Marcolino.

O colecionador frisou ainda que, pra conseguir dinheiro pra comprar mais revistas, ele e seus amigos seguravam cadeiras do cinema. “Era como se a gente reservasse e vendesse a cadeira para um casal de namorados, por exemplo, que quisesse assistir um filme juntos”, completou.

Fazendo uma verdadeira viagem ao tempo, quem entra em sua loja se depara com diversos objetos que as gerações passadas, e até mesmo a contemporânea, já teve algum tipo de contato ou já ouviu falar sobre. Sua coleção, por muitas vezes, cresce de forma colaborativa. Algumas pessoas que querem se desfazer de suas revistas muitas vezes preferem doar ao colecionador ao invés de jogar no lixo.

“Muitos vem aqui querendo me doar algum material antigo. Por exemplo, vem amigos de outros estados que já possuem muitas coisas e me dão ou trocam material comigo. Isso pra mim é ter um grande apreço e amor pelos quadrinhos”, confessou emocionado Antônio Marcolino.

Aparentemente, sua loja é um ambiente simples e não muito bonito esteticamente, porém muito rico em cultura e histórias travadas entre vilões e super heróis, além disso, existem muitos contos românticos e emocionantes entre grandes personagens de Hollywood dos anos 40, 50 e 60. Esse é apenas um pouco do cenário que o público que estiver presente na loja verá.

Já entre os quadrinhos que mais se destacam em sua coleção estão às primeiras edições de Tarzan, produzida em 1951 e a do Superman de 1947 com 68 páginas. Porém, por não terem tanto destaque Seu Antônio não trata os demais gibis, revistas e quadrinhos com desprezo. Ao ser perguntado sobre as demais revistas de sua loja ele citou nomes como Roy Rogers, Tex, Capitão America, Zé Carioca, entre outros que são bem cuidadas e lidas diariamente por ele.

“Tarzan e Superman foram as edições que mais tive dificuldade para reunir, mas estão entre as minhas favoritas. Além delas, Zorro também entra para o páreo, porque é um personagem que gosto muito”, contou Seu Antônio orgulhoso ao falar que possui em sua coleção duas raridades.

Os apreciadores e colecionadores de HQs podem mergulhar no mundo dos quadrinhos antigos na loja de Seu Antônio, no Mercado CentralSendo considerado um celeiro de desenhistas e roteiristas por Antônio Marcolino, a Paraíba se uniu e se destacou em fazer do Estado um celeiro de grandes valores que já desembocam no cenário mundial. Por consequência disso, temos Deodato Borges – pai e filho – Cristovam Tadeu, Emir Ribeiro, Tônio & Tenório, Henrique Magalhães e Assis Valle, só para citar alguns dos nomes que pontificam na linha de frente da História em Quadrinhos (HQ) paraibana, cada um a seu estilo, cada um com seu traço e sua temática característicos. Além da nossa Thaïs Gualberto, talento da nova geração de ilustradoras que recentemente substituiu Angeli nas tirinhas da Folha de São Paulo.

Se formos falar em números, a quantidade de material que o Antônio Marcolino possui em sua loja ultrapassa mais de mil gibis, fora os demais elementos existentes na ambiente como, por exemplo, VHS, DVDs, fitas cassetes e vinis antigos de grandes nomes da música brasileira e internacional.

“Eu tenho uma parede igual a essa que você está vendo aqui, cheia de quadrinhos. E quando vou dormir ou passo um tempo em casa eu fico olhando pra eles e muitas vezes volto a lê-los e reviver o meu tempo de garoto”, revelou.

Uma curiosidade que poucas pessoas sabem é que, antes mesmo daquele local ser um verdadeiro museu que conta milhares de histórias de personagens da ficção, lá já fora uma bomboniere. Entretanto, como o apreço e amor pelas páginas de histórias em quadrinhos era maior, o colecionador fez uma reviravolta em sua vida e mudou completamente de ramo.

“Antes de ser o que é hoje, minha loja já foi uma bomboniere, como uma loja de balas e chocolates”, disse o colecionador ao relembrar de sua história.

Hoje, já com dois filhos crescidos e alguns netos, Seu Antônio construiu grande parte de sua vida apenas com o universo dos gibis e revistas. Além disso, possui um grande legado que carrega consigo muitas histórias e aventuras.

“Tudo isso aqui será passado de geração em geração. A exemplo disso, meu filho deu um gibi a meu neto e ele não larga, tem um tremendo carinho pela revistinha”, comentou orgulhoso em saber que seu legado recolhido durante anos permanecerá vivo.