Guilherme Cabral
“Cristovam Tadeu foi o humorista pioneiro a fazer show solo na Paraíba, o que se chama, nos dias de hoje, de stand-up. Sozinho e de cara limpa, passava 1h30 se apresentando. Realmente, ele foi o fundador do humorismo moderno da Paraíba”, disse, para o jornal A União, o humorista Marcello Piancó, ao apontar um dos legados deixados pelo saudoso artista cajazeirense, que morreu aos 54 anos de idade, ao sofrer infarto fulminante enquanto dormia no último sábado (8), na cidade de João Pessoa, onde morava. “Cristovam, além do talento versátil, também foi o primeiro paraibano a, no ano de 1989, ir à região Sudeste para trabalhar na TV Bandeirantes, no programa intitulado Só Riso, ao lado de Costinha, Zé Vasconcelos, Lilico e Zé Bonitinho. Foi ele quem abriu as portas da televisão, em âmbito nacional, para os humoristas paraibanos”, destacou, ainda, o mesmo amigo, ao mencionar outra contribuição.
Marcello Piancó ainda ressaltou o talento de Cristovam Tadeu. “Ele tinha uma versatilidade enorme e sabia muito bem aproveitar isso nos shows e na TV. Era imitador, contador de causos, chargista, ator, escritor, cantor, dramaturgo e diretor de espetáculos. Era impossível de rotulá-lo, porque conseguia transitar em todas as áreas”, concluiu o humorista.
Já o chargista Régis Soares, que reside na capital, onde mantém atelier, observou que o legado de Cristovam Tadeu é o de ter sido "um artista dinâmico", que era capaz de trabalhar em várias áreas. “E, como pessoa, era um amigo e o admirava como artista. A Paraíba fica mais pobre e ele fará uma falta muito grande”, disse ele, que prestou homenagem póstuma ao saudoso humorista nas redes sociais.
No mesmo dia em que o artista faleceu, o Governo da Paraíba divulgou nota, por meio da Secretaria de Estado da Comunicação Institucional, na qual “expressa todo o pesar” pela morte do humorista e jornalista paraibano. “Diretor de Programação da Rádio Tabajara desde 2011, Cristovam Tadeu tem uma trajetória marcante na comunicação e na produção artística e cultural do Estado e do Brasil. Trabalhou em diversos veículos de comunicação do Estado e, como humorista, levou sua inconfundível graça em apresentações e aparições Brasil afora. Hoje, não provocou risos. Apenas uma profunda tristeza. Mas sua existência estará sempre guardada na memória daqueles que conviveram com ele e que, mesmo sem desfrutar de sua relação pessoal, tiveram a alegria de vê-lo em ação. Que Deus conforte toda a família e amigos. E o receba de braços abertos. Tal qual o próprio Cristovam gostava de se apresentar sempre”, diz o texto da mensagem.
Natural da cidade de Cajazeiras, localizada no Alto Sertão da Paraíba, onde nasceu em 6 de maio de 1962, Cristovam Tadeu Carneiro Vieira - seu nome completo de batismo - iniciou sua carreira em 1980, como ator de teatro. A sua estreia com show de humor ocorreu já em 1982, quando tinha 20 anos de idade, e que se intitulava Prá Morrer de Rir. Em 1986, começou o projeto de humor em bar, se apresentando e lançando novos talentos no famoso Bar Travessia. E, enquanto isso, fora dos palcos, ele produzia projetos gráficos, charges e ilustrações. Ele criou os personagens humorísticos Lampirão - este sob a clara influência de Henfil (1944 - 1988) -, Ostradamos, Herr Fróide e Nestor, além de Bartolo, o mais conhecido e que é aquele bêbado clássico, que vive mais no bar do que em casa, dando opinião sobre tudo e todos, que ele, como colaborador, publicou há poucos anos, no jornal A União.
Cristovam Tadeu também atuou em dezenas de peças de teatro, bem como escreveu e dirigiu dois espetáculos, cujos títulos são Vovô Viu a Uva e Vovó Viu a Ave, ambos de grande sucesso; já no cinema, trabalhou em 24 horas, de Marcus Villar, e Por 30 Dinheiros, de Vânia Perazzo e Ivan Herbalov; e, na TV, participou de centenas de comerciais, escreveu, dirigiu e produziu o primeiro programa de humor da Paraíba, denominado Sábado de Graça.
Em 1989, em São Paulo, integrou o elenco do programa Só Riso, na TV Bandeirantes, ao lado de Costinha, Zé Vasconcelos, Lilico e Zé Bonitinho, e participou, durante anos, do programa Show do Tom, na Rede Record, como Gaetano Velhoso. O mais recente trabalho nos palcos paraibanos de Cristovam Tadeu foi o Movimento Humorial, em homenagem ao escritor e dramaturgo paraibano Ariano Suassuna (1927 - 2014). E, desde 2011, ele era diretor de Programação e Artístico da Rádio Tabajara. O corpo de Cristovam Tadeu foi sepultado às 11h do último domingo (9), no Cemitério Senhor da Boa Sentença, localizado no bairro do Varadouro, em João Pessoa.
Autoridades elogiaram o talento
A morte do humorista, ator e diretor de Programação e Artístico da Rádio Tabajara também causou comoção entre autoridades e amigos. “Tristezas pela partida de Cristovam Tadeu. Muito cedo. Inesquecível como Dom Marcelo, Caetano e singular como ele mesmo”, manifestou-se, por exemplo, o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), nas redes sociais. “Foram 35 anos de muitas vivências!!!! A gente riu muito junto e certamente fez muita gente rir também! Não demos espaço pras tristezas e conflitos. Fomos parceiros! Fomos felizes! Eu e minha família te amamos muito!!!!! Deus te receba e abençoe meu amigo e compadre! Sentiremos sua falta! “, disse a presidente da PBTur, Ruth Avelino.