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Ser Tão Teatro apresenta espetáculo inspirado em conto de Tchekhov

publicado: 12/01/2017 00h05, última modificação: 12/01/2017 08h03
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O elenco da peça é composto pelos atores Rafael Guedes, Cely Farias e Thardelly Lima - Foto: Divulgação

tags: coletivo ser tão teatro , alegria de náufragos , funes , teatro


Lucas Silva
- Especial para A União

"Acredito que seja difícil alguém nos ver em um espetáculo calmos, principalmente durante as cenas, porque somos muito acelerados e ligados”, disse o ator Rafael Guedes do grupo coletivo Ser Tão Teatro, que sobe ao palco do teatro Paulo Pontes hoje, às 20h, ao lado de Thardelly Lima e Cely Farias na peça intitulada “Alegria de Náufragos”. Em um breve recorte do que a peça apresenta ao público, os atores fazem um diálogo e acabam reconstruindo o conto “Uma história enfadonha”, do escritor russo Anton Tchekhov. Os interessados em contemplar a apresentação podem adquirir seus ingressos na bilheteria do local nos valores de R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).

Algo interessante a se destacar é que além de ter uma nova apresentação amanhã também no mesmo horário e local, a peça teatral está inclusa no Circuito Cardume - projeto este implementado pelo Espaço Cultural na capital.

Originalmente escrito em 1888, portanto, há mais de cem anos, a história escrita por Anton Tchekhov é narrada pelo personagem de um professor chamado Nicolai. Com 62 anos, o professor é um sujeito enfastiado com a vida, mas é um enfado racionalizado, descritivo, justificado.

“A peça conta um pouco da história de Nicolai, que já está no fim de sua carreira e nos seus últimos dias de vida. Com isso, no decorrer da peça ele vai olhando para trás e avaliando o que construiu ao longo de sua vida”, disse a atriz Celly Farias. A intérprete completou dizendo que o disco que o professor tem no decorrer da peça faz com que o espectador se questione sobre o que ele está fazendo da vida. “A peça leva a quem a assiste a avaliar sua própria vida. Acho ainda que a pergunta principal que ela deixa na cabeça das pessoas é ‘O que você está fazendo de sua vida?’”, completou Farias.

Mergulhando ainda mais no espetáculo, a peça explora muito bem o currículo impecável de Nicolai, que ao longo do tempo já tem constituído família e denominado nas palavras do próprio autor como um “homem feliz”, gradativamente ele é submetido a um doloroso processo de falência interior, onde nos últimos instantes o professor começa a adquirir clareza sobre o lado patético da sociedade e suas instituições.

Em uma das passagens do texto original da peça é possível ver de fato que Tchekhov busca conhecer a si mesmo - “Quando amanhece, estou sentado na cama, abraçando os joelhos, e, não tendo o que fazer, procuro conhecer a mim mesmo. ‘Conhece-te a ti mesmo’ - eis um belo e útil conselho; dá pena, porém, que os antigos não tenham adivinhado como indicar o meio de utilizá-lo.”

“Chegamos em um momento que trabalhamos muito no teatro de rua, mas paramos por um momento e percebemos que precisávamos falar outra coisa, entrar num processo onde não existe somente texto e sim um ponto de partida. Foi daí que surgiu a ideia de usar um conto de Tchekhov. Entretanto, embora a ideia central tenha partido disso, a dramaturgia seria completamente nossa vindo de provocadores de fora, com atores em cena e improvisação. Tudo isso para você entender que aquele espaço é dado para você se jogar literalmente no universo teatral”, descreveu detalhadamente o ator Rafael Guedes.

Curiosidade sobre a peça:

Admirador do teatro contemporâneo enérgico, e conectado com as referências do mundo pop e a presentificação do ator no espaço, como é o caso de grupos como o pernambucano Magiluth – convidou o dramaturgo magiluthiano Giordano Castro, para ser um dos provocadores do processo de adaptação do texto de Tchekhov. Junto à ele, César Ferrário, da companhia potiguar Clowns de Shakespeare, também foi convocado. “A gente queria o lado rock n’roll de lidar com a dramaturgia do Magiluth e sempre conhecemos o lado mais romântico do Clowns. Então, decidimos juntar esses dois ritmos de condução teatral na nova experiência do grupo”, contou Thardelly Lima em entrevista à revista Cardamomo.

Quem é o Coletivo Ser Tão Teatro?

O Ser Tão Teatro é um grupo de pesquisa formado em 2007, na cidade de João Pessoa, a partir da reunião de alunos e profissionais das artes cênicas do Departamento de Teatro da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Tem como missão difundir uma linguagem teatral de grande vibração energética buscando renovação artística a cada experiência, a fim de promover o acesso à arte e à cultura.

O grupo vem se destacando no cenário nacional e regional com uma trajetória de sucesso e uma pesquisa especialmente voltada para as áreas da comicidade e do trabalho do ator, utilizando como matrizes para a construção da cena referenciais do teatro popular. As investigações visam a valorização da dramaturgia nacional adaptada e relida para a realidade atual; o teatro como palco para o debate de ideias através da abordagem de questões pertinentes ao contexto histórico, político e social, e a busca por uma interpretação que dialogue com as manifestações populares.