Veio do coco de roda de Sapé a vencedora do 6º Festival de Música da Paraíba. Vestida com roupas brancas e feitas em renda, a cantora, poeta, compositora e atriz Bianca Costa subiu ao palco diante do maior público para o qual já se apresentou na carreira para sair de lá consagrada com o prêmio principal da noite. Defendendo a música ‘Dona Maria’, a jovem de 24 anos recebeu na noite do último sábado (dia 3) das mãos do governador João Azevêdo um cheque simbólico de R$ 10 mil, além de uma nova perspectiva de carreira artística. “Eu já sabia que queria viver disso, mas pensava que não iria agradar as pessoas. Hoje, eu sei que esse é o meu caminho porque agora eu recebi uma resposta maior ainda”, afirma Bianca Costa.
A competição musical também aclamou outros nomes. Em segundo lugar, ‘Conto de Fadas’, deu ao trio MC Negrão, MC Salah e DJ Adriano o prêmio de R$ 7 mil. Ele foi seguido, em terceiro lugar, por um já veterano do Festival, o pessoense João Carlos Jr., que, além dos R$ 5 mil, somou mais R$ 3 mil por ter sido escolhido pelo júri oficial como o Melhor Intérprete pela performance da música ‘Homem Branco’. Há dois anos, ele já havia ganho todos os principais prêmios em disputa. Na categoria de voto popular, Iago D’Jampa garantiu um recorde entre todas as edições do Festival de Música da Paraíba. O jovem rapper levou a maioria dos 89.106 mil votos por sua interpretação de ‘Terra de Mlk Doido’, e embolsou R$ 5 mil. Com transmissão ao vivo pelos canais da Rádio Tabajara e da TV Funesc, no YouTube, e pela TV Assembleia, o Festival é realizado pelo Governo do Estado por meio da Secretaria de Comunicação Institucional (Secom-PB), Empresa Paraibana de Comunicação (EPC) e Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc).
O destaque maior foi mesmo para quem subiu ao palco da Praça do Povo, no Espaço Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa, levando na cabeça um penteado que fazia de seu cabelo amarrado para cima já uma espécie de coroa. Bianca Costa só começou a acreditar que teria chances na competição um dia antes da final. Uma intuição de que algum prêmio viria. “Mas eu não pensei em nenhum momento que eu ficaria em primeiro lugar”, garante a jovem de Sapé. A música composta por ela em parceria com Jamylli Ferreira foi interpretada ao lado da rabeca de Xandão Viajante. Foi entoando os versos “Dona Maria / Me mandou comprar uma renda / Pra fazer o vestido dela / Pra na roda ela dançar” que a Bianca conquistou a preferência dos jurados. “É uma música que traz a regionalidade e a letra fala sobre nossa cultura. Acredito que minha performance é muito cativante ao ponto de conseguir passar essa mensagem”.
Identificação e paixão
Bianca Costa começou a ter mais contato com o coco de roda quando passou a integrar a Cia. Cênica Torre de Papel, de Guarabira. Foi nesse grupo que ela teve sua atuação artística mais significativa da carreira, quando interpretou a personagem Creuza no espetáculo O Pavão Misterioso e o Romance da Donzela. Sob a influência do movimento Armorial, a peça que começou a ser montada em 2019 tinha o coco como referência e Bianca por zabumbeira durante as apresentações. Já no Coletivo Casaca de Couro, de Sapé, vieram as suas principais realizações como cantora, participando de saraus e em canto coral. “Comecei a pesquisar muito e descobri que meu avô, já falecido, tinha uma relação muito forte com o coco de roda de Cabedelo. Quando comecei a compor, só saía coco de roda”, diz a artista.
Atualmente cursando Letras, na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Guarabira, desde os 10 anos de idade que Bianca Costa percebia sua inclinação para a arte, mas ela tinha muita timidez em cantar até para a família de professores. Só há três anos ela perdeu o medo de soltar a voz em público acompanhada pelo violão dado por sua mãe. Esse apoio, unido com a crescente afirmação de sua identidade de mulher negra, que lhe deu direção para a sua expressão artística.
Apesar de não ser iniciada em nenhuma religião de matriz africana, Bianca Costa tem os seus guias espirituais e costuma frequentar centros que misturam Jurema com a Umbanda. E o coco de roda faz parte dessa história. “É o ritmo que eu tenho mais identificação e paixão. É ele que eu quero levar a frente. Como jovem, eu quero continuar disseminando esse ritmo que é tão importante”.
Com uma carreira ainda nos seus primeiros passos, Bianca ainda não faz planos para entrar em estúdio e está querendo investir nas relações que foram criadas durante a competição musical para aproveitar futuras oportunidades.
Na edição marcada pelas homenagens ao cajazeirense Zé do Norte, o Festival deste ano vê uma artista da Zona da Mata paraibana despontar na cena cultural. “Foi algo diferente eu ter ganhado porque os vencedores sempre foram da Região Metropolitana de João Pessoa ou de Campina Grande, e eu sou do interior. Consegui essa oportunidade de ser vista. Já tenho algumas músicas, mas é tudo muito novo para mim. Quero experimentar e saber como eu vou fazer porque estou me descobrindo ainda”, conclui a vencedora da 6ª edição do Festival de Música da Paraíba.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 6 de junho de 2023.