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Como anda o PIB no setor cultural?

publicado: 19/04/2023 15h13, última modificação: 19/04/2023 15h16
Na Paraíba, números revelam grande oportunidade de desenvolvimento social e econômico na área
As peças foram assinadas pelo estilista Ronaldo Fraga e inspiradas nos traços marcantes do artista plástico Flávio Tavares - foto_Francisco França.jpeg

Em 2020, renda renascença da PB foi destaque em evento do SP Fashion Week: a moda ocupou 31% do setor das empresas criativas - Foto: Francisco França/Secom-PB

por Joel Cavalcanti*

Quando se pensa no conjunto de riquezas que um país produz, geralmente as pessoas associam as informações sobre o Produto Interno Bruto a imagem de carros em linhas de montagens nas indústrias, nos maquinários agrícolas em grandes fazendas de grãos ou no intenso fluxo de consumidores do comércio de bens e serviços. O que costuma ficar de fora da construção desse sentido de riqueza é o que se produz na Economia da Cultura e das Indústrias Criativas. Com dados mais recentes de 2020, esse setor já contribui com 3,11% para economia brasileira, bem mais, por exemplo, que a indústria automobilística, que representou 2,1% da riqueza nacional – isso sem os inúmeros incentivos fiscais e tributários que os carros detêm. Na Paraíba, os números revelam ainda uma grande oportunidade de desenvolvimento social e econômico através da cultura.

Essas informações fazem parte da plataforma PIB da Economia da Cultura e das Indústrias Criativas (Ecic), do Observatório Itaú Cultural, lançada no último dia 10, em São Paulo. Após um ano e meio de desenvolvimento e participação de pesquisadores brasileiros e internacionais, foram definidas metodologias inéditas que conseguiram calcular uma movimentação de R$ 230,14 bilhões na Cultura e Economia Criativa do Brasil. Sozinho, esse segmento agrega 130 mil empresas e emprega 7,4 milhões de trabalhadores, o que equivale a 7% do total dos trabalhadores da economia brasileira. Só no ano passado, a cultura e a economia criativa geraram 308,7 mil novos postos de trabalho no país, mesmo na crise que pegou em cheio o setor.

Enquanto a economia nacional avançou 55% entre os anos de 2012 e 2020, o PIB da economia da cultura e das indústrias criativas cresceu 78%. “Isso comprova um fato que é usado mundialmente quando se fala em políticas para a cultura e indústrias criativas: esses são setores anticíclicos de crise e pró-cíclicos de crescimento. São setores que crescem mais que o restante da economia. Isso implica em melhores salários e adesão de maior produtividade ao sistema”, destaca Leandro Valiati, professor e pesquisador da University of Manchester, no Reino Unido, e da UFRGS. Foi ele quem liderou o grupo de pesquisadores neste estudo.

Investir em cultura significa também gerar oportunidade de trabalho com melhores salários e maior formalidade. A remuneração média dos trabalhadores da economia criativa é de R$ 4.180 – 49% maior que a remuneração média da economia brasileira (R$ 2.808). Cerca de 63% dos trabalhadores da economia criativa do Brasil estão ocupados no mercado formal. Esses números revelam também uma realidade de desequilíbrio que caracteriza o país e que acompanha o PIB geral dos estados e regiões nacionais. Cerca de metade (48%) dessas empresas do setor cultural está localizada na região Sudeste, 27% na região Sul, 14% no Nordeste, 8% no Centro-oeste e 2% no Norte.

“Esses números têm uma distribuição que é coerente com a distribuição do PIB de outros setores e mostra um enorme potencial. Falo isso não apenas pelo olhar de economista, mas da pessoa que se interessa muito pela cultura. Olho para isso e percebo nos estados e regiões do Brasil uma capacidade de geração de patrimônio cultural e histórico, comércio baseado em turismo e outras atividades altamente geradoras de impacto econômica por meio da cultura, você percebe um enorme potencial pouco explorado”, pondera Valiati. 

No estado

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Na Paraíba, o estudo aponta que a contribuição da Ecic para o PIB foi de 0,41% no ano de 2020. Apesar desse percentual, as 1.154 que compõem o setor geraram naquele mesmo ano mais de R$ 1,74 bilhões em receita e cerca de R$ 340 milhões em lucros. Isso foi suficiente para empregar cerca de 6% do total de trabalhadores do estado. Só no quarto trimestre de 2022, o número de pessoas ocupadas na Ecic era de 88.416. Elas possuem uma remuneração média de R$ 2.232, rendimento superior ao da média estadual de R$ 1.961. As categorias setoriais que compõem mais de 75% da quantidade de empresas criativas na Paraíba são Moda (31% do total), Publicidade e Serviços Empresariais (23%), Demais Serviços de Tecnologia da Informação (10%), Cinema, Rádio e TV (9%) e Desenvolvimento de Software e Jogos Digitais (10%).

Para Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú, é preciso olhar para esses números como uma estratégia para um novo ciclo de desenvolvimento pós-pandemia. “O que queremos chamar a atenção é a oportunidade de crescimento que existe no estado e o quanto isso é gerador de emprego e renda. Quando oferecemos essa informação, a gente demonstra que podemos ter um número bem maior se a gente for além das commodities. É claro que as commodities são importantes – e é isso que faz com que nosso PIB esteja positivo, inclusive. Mas a gente precisa de melhores políticas e a consciência da sociedade a respeito do nosso setor”.

O estudo cria evidências científicas qualificadas úteis para a tomada de decisão de investimentos tanto no setor público quanto no privado. Além disso, possibilita desenvolver uma narrativa sobre a importância da Cultura para que a sociedade não fique refém de desmontes realizados por políticas anticulturais e anticientíficas, como foram feitas no governo passado. “Essas políticas públicas baseadas em evidência são o que garantem estabilidade e permanência para que ela não desapareça de uma hora para a outra por uma visão diferente sobre a importância do setor. Cultura e Indústrias Criativas são relevantes e essenciais para pensar em estratégias de desenvolvimento econômico no mundo contemporâneo”, finaliza Leandro Valiati.

*O repórter viajou a São Paulo a convite do Itaú Cultural

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 19 de abril de 2023.