Guilherme Cabral
O Projeto Férias em Cena, que é realizado pela Cia de Teatro Encena para marcar, ao longo deste mês de janeiro, a inauguração de um novo espaço instalado na sede do próprio grupo, localizada em João Pessoa, será encerrado nestes sábado e domingo, sempre às 20h, com a encenação do premiado espetáculo intitulado Anáguas, montagem da Companhia de Teatro Oxente da dramaturga Lourdes Ramalho e dirigida por José Maciel. Os ingressos - a preços populares - custam R$ 10 (inteira) e R$ 5 (estudantes e crianças a partir de quatro anos) e serão disponibilizados ao público às 16h, nos respectivos dias das apresentações.
“A inauguração deste novo espaço é uma ousadia da Cia Encena, a quem eu parabenizo. Nós estávamos carentes de um espaço para mostrar as nossas crescentes produções paraibanas, pois ainda existem dificuldades de se encontrar pauta nos teatros, por causa da concorrência, que é alta”, comentou para o jornal A União Jamil Richene, da Focus Produções, agência cultural responsável pela Companhia Oxente. “Embora escrito há mais de 30 anos, o texto de Anáguas ainda é atual, pois fala sobre o conflito em família, que hoje, infelizmente, é mais gritante”, disse ele, ao estimular o público a ir assistir ao espetáculo que encerrará o projeto, que começou no último dia nove de janeiro.
A história de Anáguas retrata a vida de três mulheres: a mãe, Maria das Graças; a filha, Maria Exaurina, considerada o esteio da família, e a caçula, Maria Cândida, que é vista como a ovelha negra. Cada qual a sua maneira, todas lutam para se manterem fiéis aos seus princípios. Para isso, são capazes de passar por cima de seus egos, liberando o que há de mais cruel no ser humano. Conflitos, desarmonia, egoísmo, injustiças e condenação permeiam, do início ao fim, o espetáculo, onde as três mulheres mostram suas fraquezas, mas se apoiam no próprio seio familiar.
No intuito de realçar o enredo dramático, a direção optou por uma montagem triangular, escolhida por ser uma das formas geométricas de maior ligação entre os seres humanos e na qual três escadas definem o espaço cênico. Elas pontuam bem a intenção do poder que essas mulheres pretendem exercer diante da família. Nesse sentido, o espectador é pego de surpresa ao mesmo tempo em que vislumbra o espetáculo, pois é parte essencial dele, chegando a contracenar com as atrizes em meio ao desfecho da peça. Não é à toa que a encenação propicia a aproximação da plateia com a obra.
A apresentação de Anáguas é uma das primeiras que a Companhia de Teatro Oxente, sediada em João Pessoa, realiza em 2017. No ano passado, o grupo empreendeu - com patrocínio da Petrobras e realização do Governo Federal e Ministério da Cultura - uma turnê em âmbito nacional com o projeto denominado “Anáguas - A dramaturgia Paraibana em cena”, que propôs a circulação da dramaturgia nordestina, por meio da obra de Lourdes Ramalho. Na época, essa peça circulou, de forma itinerante, nas cidades do Rio de Janeiro (RJ) e Vitória (ES), onde ocorreram três sessões, todas gratuitas e acompanhadas de um debate após a encenação do espetáculo. “Consideramos essa circulação como um prêmio, também, pois sabemos que muitos grupos brasileiros se inscrevem nos editais”, comentou Jamil Richene.